Correio Braziliense
postado em 31/07/2020 04:07
“Peguem as outras cobras venenosas e soltem no mato as que forem nativas daqui”. Foi essa a orientação de uma professora de medicina veterinária a uma pessoa em conversas trocadas por WhatsApp. A docente dá aulas no Centro Universitário do Planalto Central Aparecido dos Santos (Uniceplac), no Gama, — mesma instituição onde Pedro Henrique dos Santos Krambech Lehmkul, de 22 anos, e o amigo Gabriel Ribeiro de Moura, 22, estudam. Os dois são suspeitos de integrarem um esquema internacional de tráfico de animais exóticos e silvestres.
Durante as operações deflagradas pela PCDF, celulares foram apreendidos pela polícia para auxiliar na coleta de provas. O Correio apurou que entre os aparelhos recolhidos, bem como dispositivos eletrônicos como HD’s, computadores, notebooks e tablets estão o de Pedro Henrique e do padrasto, o tenente-coronel Clóvis Eduardo Condi, o de Gabriel Ribeiro e o de outros dois estudantes de medicina veterinária.
Em uma das conversas, uma pessoa, não identificada, relata à professora: “Não tenho nenhuma serpente mais. Não sei como aconteceu, mas teve algum vacilo feio por parte do Pedro, ele descuidou muito, pelo incrível que pareça não é comum”. A docente diz que “agora vão ter que dar um jeito nas outras cobras e pede que Deus proteja Pedro”.
Na mesma conversa, a pessoa diz que “muita gente que cria vai cair”. As mensagens, no entanto, estão sendo analisadas com cautela pelos investigadores. Não há, ainda, a suspeita de envolvimento da professora no esquema de tráfico de animais. Até o fechamento desta edição, o Correio não localizou o advogado de defesa da docente. O espaço permanece aberto para manifestações.
Por meio de nota oficial, a Uniceplac e a coordenação do curso de medicina veterinária esclareceram que não tinham conhecimento da posse ilegal de serpentes ou de quaisquer outros animais silvestres entre alunos. A faculdade abrirá um Procedimento Administrativo Disciplinar (PAD) para apurar o fato. “Aproveitamos para ressaltar que todos os animais devem ser manipulados apenas por pessoas devidamente capacitadas, e que a criação e manutenção de animais silvestres devem seguir a legislação vigente”, informou o centro de ensino.
O Conselho Regional de Medicina Veterinária do Distrito Federal (CRMV-DF) manifestou-se sobre o caso e emitiu um nota de esclarecimento informando que acompanha as investigações junto às autoridades policiais e que se coloca à disposição dos órgãos de segurança do DF para esclarecimentos técnicos e científicos, como testemunha qualificada. “Caso as investigações apontem a participação e/ou conivência de qualquer um dos profissionais citados acima, o CRMV-DF tomará as devidas providências, que no caso implicará na instauração de processo ético-profissional”, esclareceu.
Novas apreensões
Pedro Henrique Krambeck, picado por uma naja kaouthia em 7 de julho, foi alvo da quinta fase da Operação Snake, coordenada pela 14ª Delegacia de Polícia (Gama). Ontem, investigadores capturaram, no Guará 2, — região onde o estudante de medicina mora com a família — outras cinco serpentes exóticas, sendo que duas delas pertencem ao suspeito. O acusado está preso desde quinta-feira na Carceragem da PCDF e deve permanecer detido até domingo, se não tiver a prisão prorrogada pela Justiça.
Os animais foram encaminhados ao Zoológico de Brasília por uma equipe do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente dos Recursos Naturais e Renováveis (Ibama). Segundo investigações, Pedro Henrique está ligado a outras 21 serpentes. Gabriel Ribeiro, amigo dele, também está preso desde quarta-feira passada por ocultar provas e atrapalhar as diligências.
Entre as cobras apreendidas, estão três corn snake, uma rat snake e uma nigritus, todas nativas da América do Norte. Nenhuma delas é peçonhenta.
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