Cidades

Crônica da Cidade

Correio Braziliense
postado em 31/07/2020 04:07
Mediúnica com Eça

Eça de Queiroz era, por assim dizer, um quase brasileiro. O pai, José Maria Teixeira de Queiroz, era brasileiro, nascera no Rio de Janeiro. A ama e madrinha era a pernambucana Ana Joaquina Leal de Barros. Além disso, ele foi colaborador assíduo de jornais cariocas. Nesta entrevista mediúnica exclusiva, Eça fala sobre a alma portuguesa e temas da atualidade.

O português foi cruel no processo de colonização. Mas existe, também, bondade na alma portuguesa?
Na alma portuguesa, a bondade floresce, principalmente, sob uma forma toda nossa e do nosso povo — a caridade.

De que maneira?
Perante a mão que suplica, não paramos a desejar que ela agarrasse antes uma ferramenta para obter a abundância individual, ou que empolgasse antes uma arma forte para impor a igualdade social. Não: muito candidamente, escandalizando o economismo e o socialismo — palpamos o bolso, com viveza amorável, e damos. Talvez errando pelo lado da ciência, mas acertando pelo lado de Deus.

Atualmente, existe no Brasil um debate sobre o patriotismo e a patriotada. O que distingue os verdadeiros patriotas?
Põem a pátria acima do interesse, da ambição, da gloríola. Não a adulam, não a iludem: não lhe dizem que ela é grande porque tomou Calecut, dizem-lhe que ela é pequena porque não tem escolas. Gritam-lhe sem cessar a verdade rude e brutal. Gritam-lhe: Tu és pobre, trabalha; tu és ignorante, estuda.

O que está destruindo a política em nossos países?
Política de acaso, política de compadrio, política de expediente. País governado ao acaso, governado por vaidades e por interesses, por especulação e corrupção, por privilégio e influência de camarilha, será possível conservar a sua independência?

Por que não aprendemos mais com os nossos erros?
É só relembrando, revivendo, ressofrendo as suas dores que a alma se corrige, se liberta, se aperfeiçoa, se torna mais própria para Deus.

Depois de viver tantas experiências e morar em grandes capitais do mundo, o que lhe parece essencial na vida?
Tudo que não seja viver escondido numa casinhola, pobre ou rica, com uma pessoa que se ame, e no adorável conforto espiritual que dê esse amor — me parece, agora, vão, fictício, inútil, oco e ligeiramente imbecil.

Em suas obras, o senhor atacou duramente as igrejas. Por que apesar disso, escreveu histórias de alguns santos?
O Portugal do meu tempo não era religioso, era padrista. Quem não conhece o poder da oração, é porque não viveu as amarguras da vida.

O senhor escreveu muito sobre as instabilidades e os mistérios do amor. A conexão de alma garante o amor?
Não pode haver ligação de almas onde não exista identidade de ideias, de crenças e de costumes.






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