Caroline Cintra
postado em 01/08/2020 07:00

A psicóloga e sexóloga Luísa Miranda explica que a anorgasmia ; nome dado à disfunção que diz respeito à dificuldade ou ausência de orgasmos ; é a consequência de muitos fatores. ;Os mais comuns estão ligados à falta de autoconhecimento, acarretado por uma carência de educação sexual e por questões religiosas, que desde cedo colocam a masturbação feminina como pecado, gerando culpa;, diz. Com os homens, todavia, acontece o contrário. ;Eles são incentivados sexualmente desde cedo, havendo mais liberdade sexual, os eximindo de muita culpa, o que auxilia no processo do orgasmo. A ausência dessa culpa os faz relaxar mais e ter mais ;controle; e poder da situação, consequência essa do patriarcado e falocentrismo;, ressalta.
De acordo com a especialista, iniciar a relação sexual tendo o orgasmo como meta pode fazer com que ele não aconteça. Quando o foco está na reciprocidade do toque e nas carícias, as chances de chegar ao clímax são maiores. Os estímulos para que isso aconteça podem variar a cada pessoa e não precisam vir, exclusivamente, dos órgãos genitais. ;Isso limita as possibilidades de novas sensações e, obviamente, traz muita angústia àquelas pessoas que não se sentem estimuladas por esses ;únicos; pontos. O corpo é todo orgástico e deve ser explorado. Sendo assim, conexão mente e corpo são essenciais para uma maior satisfação;, completa.
O psiquiatra Luan Diego Marques conta que diversos pacientes procuram o consultório com queixas sobre a vida sexual. Entre as principais reclamações está a falta de libido. ;Tem pessoas que usam álcool para relaxar e ter a relação sexual. Pode parecer que ajuda, mas, não, porque o álcool mexe com o humor e com a ansiedade, o que pode dificultar a atingir o orgasmo. Pessoas ansiosas depositam, na vida sexual, uma masturbação intensa e o excesso é prejudicial;, destaca.
Muitos pacientes esperam ter uma relação de confiança com o médico para poder falar sobre a vida sexual, mas Luan ressalta, que, apesar de ser um assunto íntimo, é um dos fatores que trazem qualidade de vida para o ser humano. ;Ainda existem tabus individuais. Ter relação sexual saudável traz vida saudável. Ela permite liberação de neurotransmissores que trazem saúde, por isso é importante conhecer o que gostamos, como preferimos, em que ambiente, respeitando os desejos do parceiro;, orienta Luan.
Apetrechos
Dono da Erótika Sex Shop, Marcelo Araújo afirma que as pessoas têm buscado cada vez mais produtos para apimentar a vida sexual. ;O orgasmo muda o humor das pessoas. Infelizmente, muitas mulheres têm medo de se conhecer, de se permitir conhecer o novo. Orgasmo é preciso, e o preconceito é prejudicial;, diz.
Vendedora na unidade da Asa Norte, Verônica Vieira conta que a maior parte das clientes que buscam os produtos do sex shop estão acima dos 50 anos. Algumas nunca tiveram uma experiência sexual sozinha. ;Semana passada, duas clientes perguntaram se o tal do orgasmo realmente existe. É algo tão longe, que elas não acreditam;, frisa.
Verônica percebeu um aumento na procura por brinquedos sexuais durante a pandemia. ;Muitas têm vergonha, mas, hoje, existe uma infinidade de produtos, mais discretos, com formatos fofos, como de pinguim e bolinha. Podem pedir os produtos em casa, e chegam de forma discreta. Um dia desses, um entregador estava com a bolsa de um aplicativo de comida. Ninguém percebe;, brinca. Entre os artigos mais procurados pelas clientes estão os aparelhos de vibração e sucção.
Intimidade
A servidora pública Marília Santos*, 29 anos, lembra que, no início do casamento, tinha dificuldade para atingir o orgasmo. Como se casou virgem, não teve experiências sexuais antes do matrimônio. ;Sempre achei que me tocar fosse errado, porque foi assim que aprendi, mas, não. Com o passar do tempo, lendo sobre o assunto e conversando com pessoas experientes aprendi que eu precisava me conhecer, saber onde eu sentia o prazer;, analisa. ;Conhecer a si mesmo faz toda a diferença. Hoje, tenho uma vida sexual supersaudável e aconselho amigas e conhecidas que passam por esse problema;.
Divorciada, a empresária Silvia Ramos*, 36, imaginava conseguir ter orgasmos apenas com algum companheiro. Quando se separou do homem com quem viveu por 7 anos, em 2015, decidiu não entrar em outro relacionamento, de imediato. ;Aquele era o meu momento. Casei muito jovem e precisava estar sozinha. Mas, a falta da relação sexual vem, não é mesmo? Um dia, decidi entrar num sex shop e comprei um brinquedo. Nunca imaginei poder ter orgasmos sem alguém;, revela. ;Consigo me sentir satisfeita e, ainda, quebrei um grande tabu na minha vida;, comemora.
* Nomes fictícios para preservar a identidade dos entrevistados
Conselhos para ter um orgasmo
- Permita-se sentir prazer e foque no que está fazendo
- Se masturbe, sem exageros. Conhecer o seu corpo é essencial
- Pratique. Quanto mais sexo fizer, maior será o prazer
- Aceite o seu corpo
- Varie nas posições e saia do óbvio
- Abuse dos demais cômodos da casa
- Mexa com o imaginário para que consiga se soltar
- Atividade física e alimentação saudável potencializam o alcance do orgasmo
- Curta o momento
Três perguntas para
Talita Bittencourt,
Sex coach e especialista em autoestima e sensualidade