Cidades

Crônica da Cidade

Correio Braziliense
postado em 02/08/2020 04:18
Notícias da macacada

Enquanto o mundo explode, um leitor solicita que eu mande notícias dos macacos-prego que visitam a minha casa, situada em um condomínio horizontal, fronteiriça a uma mata cerrada. Bem, não sei se tenho novidades, mas tentarei evocar a macacada.

Começarei pelo momento da chegada, que é mágico. Primeiro, a gente ouve um barulho de mato se mexendo. Só que é um alvoroço aéreo, de pulo em pulo, no caminho dos galhos. De repente, os macaquinhos aparecem desconfiados, com os olhinhos reluzentes e atentos.

Fico impressionado com a habilidade deles na copa das árvores. Fazem acrobacias de deixar o Cirque du Soleil no chinelo. Nunca vi 
nenhum escorregar ou despencar por causa de um movimento em falso. Quando os vejo no alto, tenho vontade de repetir o comentário de Rubem Braga ao assistir um sujeito fazer malabarismos sobre cordas a 20 metros de altura: “Eu quero ver é aqui no chão”.

Pois, numa tarde, vi um macaco andar sobre uma cerca de arame farpado com a maior fleuma, sem dar sequer uma olhadinha onde pisava. Fiquei tenso, estático, prendi a respiração, com medo de fazer um movimento. Ele podia se assustar e ferir-se. Mas, logo, saiu incólume do arame farpado, pulou num galho, deixou as folhas das árvores remexidas e sumiu na mata.

Certa madrugada, acordei sobressaltado com o som do que me parecia o de uma pelada de futebol no telhado da casa. Só escutava o barulho da correria de um lado para outro na disputa feroz da bola.

Levantei-me, abruptamente, com o coração disparado. Esperei um pouco para ver se estava sonhando. Porém, de repente, avistei um macaco de olhos arregalados, com a cara colada numa faixa de vidro no alto. Abri uma porta e atirei uma pedra nas árvores para ver se a turma da pelada fugia.

No entanto, fora de forma e sem aquecimento, torci o braço e tive de fazer um mês de terapia. O pior é que o fisioterapeuta se preocupava mais com a saúde dos macaquinhos do que com a minha: “Trata bem os macaquinhos, viu?”, lembrava sempre.

Tratá-los melhor é impossível. Embora meu quintal não seja muito grande, plantei mangueira, goiabeira, amoreira, aceroleira e pitangueira (a minha fruta predileta). Pois bem, as fruteiras se tornaram, praticamente, exclusivas dos macacos. E, mesmo assim, eles provocam muitos transtornos.

Na época das chuvas, dão prejuízos grandes. A turma é bem-humorada, mas muito bagunceira. Alcança, facilmente, o telhado e se diverte jogando as telhas para o alto. Numa noite, caiu um temporal, surgiram goteiras de todos os lados, era preciso colocar um balde ou bacia para aparar a água.

Inúmeras vezes, tive de pedir ao senhor Hermínio que subisse e substituísse as telhas quebradas. Irritado com os macacos, um vizinho resolveu tomar uma decisão drástica: cortou todas as fruteiras. A verdade é que somos nós os invasores.

Os macaquinhos me dão muito prejuízo. Mas, também, muitas alegrias, com ou sem isolamento social. Ajudaram-me a escrever várias crônicas. Salvaram-me muitas vezes quando estava no sufoco. Valeu, macacada!
 
 
 
 

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