Correio Braziliense
postado em 04/08/2020 04:17
Nós já estamos vivendo dentro de um novo normal, um normal fake, pois não foi combinado com o coronavírus. Nem com os cientistas. Como acreditar em um novo normal quando as taxas de contaminação atingem níveis elevados e não existem testes suficientes para avaliar a real situação dos que têm sintomas?
Como afirmar que será possível voltar às aulas presenciais agora quando são desaconselhadas pela maioria dos cientistas.? Se até o carnaval de 2021 foi cancelado em São Paulo como voltar às aulas antes? De que maneira viver como se tudo estivesse retomado a normalidade se o Brasil se aproxima do limite de 100 mil mortos?
Bem sei que não é fácil tomar decisões em uma circunstância como essa. Mas o problema é que, em uma situação tão grave, as deliberações deveriam ser pautadas pela ciência e não pelos baixos interesses da política. Essa falta de sintonia prejudicou a saúde e a economia.
Em entrevista ao Correio, Carlos Machado, coordenador do Observatório Covid da Fiocruz, afirmou: “É muito preocupante a dissonância entre as atividades de vigilância, os cenários epidemiológicos e as medidas adotadas. O que tem acontecido no Brasil, de um modo geral, é um descompasso entre os indicadores epidemiológicos que deveriam guiar a tomada de decisão e as efetivas tomadas de decisões realizadas por prefeitos e governadores”.
O cenário em que as taxas de ocupação de leitos ultrapassam a linha de 80% acende o sinal de alerta, segundo Carlos Machado, pois trata-se do último recurso para conter a doença e salvar vidas. O estado de Santa Catarina é um dos que pagam um preço alto pela falta de sintonia com a ciência. A retomada das atividades econômicas foi realizada de maneira precoce com fanfarras e em clima de festa.
Mas, agora, o estado entrou em colapso, com a disparada dos casos de contaminação e de óbitos. Resultado: os governantes foram obrigados a recuar e a adotar um isolamento social mais drástico para conter a escalada da doença.
O caso do Brasil preocupa o mundo inteiro e tornou-se um exemplo de como não se deve fazer a gestão da pandemia. É o nosso 7x1 sanitário: “Sabemos o caminho certo”, comentou, sem citar o Brasil, Mike Ryan, diretor de operações da OMS: “O difícil é escolher esse caminho”.
O que fazer agora para reparar o estrago das decisões equivocadas? Ryan sugere que será preciso que os governantes acionem a tecla reset e revejam as medidas políticas, econômicas e de saúde. Parece algo inimaginável, mas talvez essa seja a única saída possível.
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