Ciência e Saúde

Paleontólogo que descobriu Toumaï, fóssil de 7 milhões de anos, anuncia mais um achado, na África

Paloma Oliveto
postado em 26/06/2009 07:55
Palmas ; Duzentos anos depois do nascimento de Charles Darwin, uma nova peça vem somar-se ao intrincado quebra-cabeça da evolução humana. O francês Michel Brunet, um dos mais proeminentes paleontólogos da atualidade, anunciou a descoberta de um fóssil na África, que pode ser uma espécie ainda desconhecida dos nossos ancestrais. O pesquisador foi o responsável, em 2002, por encontrar no Deserto de Djourab, no Chade o crânio de Touma;, de 7 milhões de anos, o mais antigo exemplar pré-humano confirmado até hoje. Antes dele, acreditava-se que a ;avó; da civilização era Lucy, um fóssil feminino de 3,5 milhões de anos, escavado na Etiópia. Brunet recusa-se a informar o local exato da nova descoberta ; ;Seria antiético; primeiro temos que comunicar aos outros cientistas; ;, mas se mostra entusiasmado. Segundo o professor do Coll;ge de France, é possível que os ossos pertençam a um hominídeo diferente de Touma;. Desde 1825, quando os primeiros fósseis pré-humanos foram encontrados na Bélgica, pesquisadores de todo o mundo empenham-se numa corrida desenfreada em busca dos mais antigos vestígios da humanidade. Muitos passam a vida inteira atrás do ;elo perdido;, que seria a transição definitiva dos macacos para o homem. Brunet, conferencista do seminário internacional Distintos Olhares, em Palmas, tem uma teoria diferente. Para ele, o missing link é um conceito ;estúpido; (leia entrevista). O paleontólogo não acredita na evolução linear, segundo a qual os primatas foram, com o tempo, adquirindo características humanas. Embora concorde que homens e macacos têm um ancestral comum, já que a diferença genética de um chimpanzé e dos seres humanos é de menos de 1%, o pesquisador defende a existência de várias populações pré-humanas, em diferentes momentos do tempo. Uma prova disso seria o fato de Touma;, cujo crânio foi encontrado integralmente, ter dentes e estrutura óssea mais evoluída que Lucy, datada com metade da idade do fóssil. Dependendo do resultado das pesquisas, o novo exemplar escavado na África poderá reforçar essa ideia. ;Inveja; A teoria de Brunet, de que houve vários ramos evolutivos paralelos ao longo de milhares de anos, é contestada até hoje por alguns cientistas. ;Isso se chama inveja;, ataca o paleontólogo. O francês defende que não há como considerar Touma; um primata, visto que a estrutura do crânio difere muito da dos macacos. Os caninos, por exemplo, são típicos de humanos. Além disso, o ângulo de encaixe da espinha dorsal com a caixa craniana é de quase 90;, o que comprova que Touma; andava sobre duas pernas. ;Éramos bípedes há 7 milhões de anos;, enfatiza. O que se sabe, até agora, é que o hominídeo vivia numa savana. ;É a savana que cria o homem, e não a floresta. Entre 6 ou 8 milhões de anos atrás, a Terra ficou mais seca e mais fria. Os chimpanzés ficaram na floresta equatorial. Os nossos ancestrais preferiram locais mais abertos;, diz Brunet. [SAIBAMAIS]Segundo Brunet, outra alteração climática ocorreu há 3 milhões de anos. Novamente, o planeta esfriou e secou. ;Naquela hora, como por encanto, nosso cérebro aumentou. Surpreendentemente, foi a primeira vez que encontramos a ;indústria da pedra lascada;. E também a primeira vez que o hominídeo teve vontade de se mexer, tomou gosto por viajar. Vamos, então, deixar a África, vamos partir e conquistar o resto do mundo;, brinca. Polêmico e irônico, o paleontólogo defende que o homem é, portanto, resultado de um ;acidente climático;. Seria obra não de um criador, mas de mudanças na temperatura da Terra, que obrigaram o organismo a se adaptar para sobreviver. Ele alerta que, por isso, devemos nos preocupar com as recentes alterações do clima. Otimista, diz que nada é irreversível. ;Temos ainda uns 5 milhões de anos pela frente. É tempo de sobra;, brinca. A repórter viajou a convite da organização do evento ; A repórter viajou a convite da organização do evento
Quem é Touma; O nome significa "esperança de vida" no Chade. Foi encontrado há sete anos no Deserto de Djourab. Ele tem 7 milhões de anos e, embora o formato do crânio assemelhe-se ao de chimpanzés, os caninos e o formato da medula espinhal sugerem que era bípede. Ele seria metade macaco, metade pré-humano e viveria em savanas, juntamente a mamíferos, peixes e répteis. Teria sido extinto por causa de alguma catástrofe natural. Quem é Lucy Até Touma;, era o fóssil pré-humano mais antigo que se tinha notícia. Os ossos da fêmea foram encontrados em 1974 na Etiópia (África). Teria vivido há 3,2 milhões de anos, tinha 1,1m de altura e braços mais compridos que as pernas. O que diz Brunet A evolução do homem não foi linear, com um antepassado comum que depois separou a linhagem dos primatas e a dos seres humanos. Haveria diversas criaturas pré-humanas, em vez da tradicional definição de espécies que foram evoluindo até chegar ao cenário atual. Para chegar a essa conclusão, o paleontólogo estudou o crânio de Touma; (Sahelanthropus tchadensis), encontrado no Chade (África). Veja o documentário "Pre-Human: Riddle of the Toumai Skull"

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