postado em 30/06/2009 08:00
A história do grande tubarão-branco sempre teve grande apelo para a arte, no cinema ou na literatura. A imagem do animal gigantesco e faminto, que ronda silenciosamente o fundo do mar à espera da próxima vítima, porém, deixou de fazer parte do roteiro dos grandes cineastas e escritores e serviu de base para um estudo científico. Depois de três meses de análises, especialistas norte-americanos e canadenses concluíram que o predador mais temido do fundo do mar adota inteligentes estratégias de ataque, semelhantes àquelas usadas por assassinos em série. Ao contrário dos criminosos da vida real, contudo, a escolha da vítima que posteriormente vai servir de alimento, o momento certo do ataque e o aperfeiçoamento dessa técnica ao longo dos anos têm um motivo importante: a sobrevivência de uma espécie que vem sofrendo com as recentes transformações no ecossistema.O estudo do comportamento dos tubarões-brancos, era, até então, repleto de mistérios para os cientistas, por conta das dificuldades de observação desses acontecimentos em ambiente marinho. Em entrevista concedida por e-mail ao Correio, o cientista Neil Hammerschlag, da Universidade de Miami (EUA), contou que, durante o inverno de 2004, os cientistas presenciaram e analisaram 340 ataques a focas por tubarões brancos, na chamada Ilha das Focas, na costa da África do Sul. ;No estudo, aplicamos a técnica do perfil geográfico. Um tipo de investigação muito usada por policiais para identificar a ação de criminosos. A partir daí, chegamos à conclusão de que as técnicas usadas pelos animais são altamente sofisticadas;, diz.
As características do ataque em si, como o local e a profundidade no momento do ocorrido, também foram avaliadas por um especialista em justiça criminal, membro do Centro de Inteligência Geospacial e Investigação da Universidade do Estado do Texas. A partir da definição de um ponto base, os tubarões-brancos iniciariam sua estratégia de ataque que, além de acrobática, privilegia a captura de presas mais jovens e solitárias. A exemplo dos humanos, os animais calculam a fragilidade de quem atacarão.
De acordo com a pesquisa, os animais dão preferência a águas límpidas, o que facilita o ataque surpresa, por conta do campo de visibilidade ; depois da abordagem, a presa é lançada para fora da água. ;Vimos, também, que os tubarões mais novos não possuem essa linha definida de ataque, dispersando as presas com maior facilidade. Já os mais velhos mostram que têm maior experiência;, afirma.
Inteligência
Tubarões são animais inteligentes que, ao longo da vida, vão adquirindo uma habilidade maior na caça. Para o engenheiro de pesca e diretor do Museu do Tubarão em Fernando de Noronha, Leonardo Veras, o estudo da Universidade de Miami comprova uma especulação antiga dos especialistas da área. ;É a lei da sobrevivência. Com o tempo, esses animais aprendem novas técnicas, inclusive, com o intuito de se adaptar a um ambiente repleto de mudanças. Em alguns países, essas mudanças são para pior;, destaca.
De acordo com Veras, o tubarão branco não é uma espécie comum no Brasil, por conta do clima mais quente. ;Tenho conhecimento da passagem dessa espécie no Sul e no Sudeste do país. Porém, em quantidade pequena, pois esses animais acabam competindo por alimentos com as orcas, muito comuns naquelas áreas;, explica.
O ataque a humanos, conforme o especialista, só ocorre em situações específicas, como a falta de comida, por exemplo. A degradação do ecossistema, que reduz os estoques de alimentos ao longo dos anos, é um fenômeno que tem levado tubarões às praias, a exemplo do que tem acontecido em Recife (PE). Por conta dos frequentes ataques dos tubarões-tigre e cabeça-chata ; predadores mais comuns na costa brasileira ;, muitos trechos da praia estão fechados para banhistas. ;O fenônemo é irreversível. Por mais que sejam feitas ações de reparo aos danos já causados, é difícil prever recuperação efetiva;, lamenta o engenheiro.
Em todo o mundo já foram catalogadas 380 espécies de tubarões. Desse total, 80 estão no Brasil ;apenas 12 das consideradas mais perigosas, porém. No entendimento dos pesquisadores, o estudo do comportamento e do ambiente que esses animais vivem é de fundamental importância para o futuro do ecossistema. ;Além do mais, evita a extinção de espécies magníficas, que só têm a nos ensinar;, finaliza Hammerschlag.