Ciência e Saúde

Morte de Jackson reacende discussão sobre os riscos do uso indiscriminado de remédios

Paloma Oliveto
postado em 30/06/2009 08:30
A morte prematura do cantor Michael Jackson, 50 anos, possivelmente devido ao consumo excessivo de remédios, serve de alerta para quem costuma abusar de cápsulas e comprimidos sem prescrição adequada ; hábito comum no Brasil. Segundo levantamento da Associação Brasileira das Indústrias Farmacêuticas (Abifarma), 80 milhões de pessoas confessam ser adeptas da automedicação no país. A consequência é que, por ano, 20 mil brasileiros morrem vítimas do mau uso das drogas. Outro dado alarmante vem do Centro de Assitência Toxicológica (Ceatox) da Universidade de São Paulo (USP): 40% das internações por intoxicação ocorrem pelo mesmo motivo. ;Seja por orientação da mãe, do vizinho, do balconista da farmácia, ou mesmo do ;Dr. Google;, é muito elevado o percentual de brasileiros que se automedicam. O uso abusivo de medicamentos, sem orientação médica, certamente poderá levar o indivíduo a adoecer. Vários serão os problemas, não só cardiológicos, mas também agravos renais, no trato digestivo, dermatológicos e sanguíneos;, enumera o cardiologista do Hospital Brasília Anderson Rodrigues. Diretora-secretária da Associação Brasileira de Alergia e Imunopatologia, em São Paulo, a alergologista Fátima Rodrigues Fernandes conta que é comum receber no ambulatório do Hospital Infantil Sabará, onde trabalha, pessoas com alergia e problemas estomacais provocados por remédios. Ela explica que todo remédio tem implicações negativas ; as chamadas reações adversas descritas na bula. Porém, o uso errado ou abusivo pode despertar no organismo males imprevisíveis, como inchaços, asmas, úlceras, hemorragias e até mesmo choque anafilático. ;Além disso, é preciso alertar as pessoas que, ao se automedicarem, elas correm o risco de mascarar uma doença que está por trás dos sintomas;, lembra. A combinação de medicamentos sem indicação médica é outro problema comum. Além do fato de um remédio poder anular o efeito do outro, pesquisas mostram que a interação desencadeia diversos danos ao organismo. Remédios para emagrecer associados a antidepressivos, por exemplo, são capazes de provocar cardiopatias. A fluoxetina, usada no combate à depressão, inibe as enzimas da sibutramina, princípio dos emagrecedores. Com isso, há aumento da pressão arterial e aceleração dos batimentos cardíacos. A dupla formada por inibidores de apetite e ansiolíticos, prescritos para diminuir a ansiedade, além de desencadear taquicardias, pode mesmo levar o paciente a ter psicoses e esquizofrenia. Coração No caso de Michael Jackson, o cantor, de acordo com seu advogado, Brian Oxman, tomava indiscriminadamente o remédio demerol, um analgésico opioide que age diretamente no sistema nervoso central. Também faria uso combinado com antidepressivos e ansiolíticos. Por causa da mistura explosiva, teria sofrido um infarto que levou à parada cardíaca. O médico José Carlos Nicolau, cardiologista e diretor da Unidade Clínica de Coronariopatias Agudas do Instituto do Coração do Hospital das Clínicas da Universidade de São Paulo (Incor), diz que todo medicamento pode afetar o coração. ;Mesmo os receitados para quem tem problemas cardíacos podem apresentar efeitos colaterais;, diz. Porém, ele ressalta que as pessoas não precisam entrar em pânico e deixar o tratamento de lado. ;Se o indivíduo toma qualquer remédio, o médico está ciente dos efeitos adversos. Se toma a medicação sob supervisão e acompanhamento médico, a chance de ter um problema diminui bastante;, diz. O problema é que, de acordo com o cardiologista, além de comprar remédios sem prescrição, muitas pessoas aumentam, por conta própria, a dose ministrada. ;Nesses casos, qualquer medicação pode ser muito grave;, diz. Mesmo remédios tidos como inocentes podem levar a cardiopatias. Um estudo publicado neste ano pelo Archives of Internal Medicine, da Associação Médica Americana, concluiu que tanto as drogas narcóticas ; como a morfina ; quanto os analgésicos comprados até mesmo em supermercados ; caso do paracetamol ; podem aumentar a pressão arterial e elevar o risco de infarto. ;O ácido acetilsalicílico (aspirina) é uma medicação importantíssima para a prevenção de infartos e de derrames. Mas, em pacientes asmáticos, poderia desencadear crises agudas, que evoluam para paradas respiratórias;, exemplifica o médico Anderson Rodrigues. Segundo o cardiologista, sem orientação médica, os remédios mais prejudiciais ao organismo são os anti-inflamatórios, seguidos por analgésicos, antidepressivos, sedativos, hormônios e medicações para emagrecer. (arquivo em formado pdf)

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