Paloma Oliveto
postado em 01/07/2009 08:00
Essenciais para a sobrevivência do homem durante milênios, as gorduras têm sido tachadas, nos últimos tempos, de verdadeiras vilãs do coração. Principalmente as de origem animal, sobre as quais pesa a acusação de entupir veias, aumentar o mau colesterol e o nível de triglicerídeos no sangue. Pesquisas recentes, porém, mostram que não é bem assim. ;Não há como maldizer a gordura saturada. O nosso organismo precisa dela;, resume o médico nutrólogo José Alves Lara Neto, vice-presidente da Associação Brasileira de Nutrição (Asbran).O segredo está na dosagem. Nosso organismo precisa de um consumo diário de 30% de gorduras, divididas, igualmente, entre monoinsaturadas, poli-insaturadas e saturadas. A única que deve ser banida do cardápio é a trans, resultado de uma modificação química de óleos vegetais e, portando, antinatural e desnecessária ao organismo. Lara Neto ressalta que, assim como não se deve deixar de ingerir diariamente gorduras saturadas, seria temerário exagerar na dosagem: 10% é a quantidade certa numa dieta de 2,2 mil calorias.
Encontrada em produtos de origem animal, como carnes gordas, leite e manteiga, a gordura saturada também pode ser extraída do coco. Para a nutricionista Tamara Mazaracki, ex-presidente e atual consultora da Associação Paulista de Nutrição, essa é a melhor escolha. ;Assim como o azeite de dendê e o óleo de palma, o óleo de coco é fonte de ácido láurico, uma substância que acelera o metabolismo, regula a tireoide, tem propriedade anti-inflamatória e normaliza a taxa de colesterol;, diz.
As propriedades benéficas desse tipo de gordura foram alvos de um estudo realizado recentemente pelo Instituto de Nutrição Josué de Castro, da Universidade Federal do Rio de Janeiro. A pesquisa, pioneira no país, foi fruto da dissertação de mestrado de Christine Erika Vogel e teve orientação das professoras Márcia Soares da Mota e Eliane Lopes Rosado. Em um grupo de adultos com idade entre 20 e 59 anos detectados com obesidade de grau 1, o consumo do óleo de coco levou ao aumento do HDL, o chamado colesterol bom. Foi observada também a redução dos níveis de glicemia e da resistência à insulina, diminuindo a probabilidade de o indivíduo desenvolver diabetes do tipo 2. Na dieta dos voluntários, o óleo entrou como tempero, não sendo usado para fritura.
Uma colher por dia
A professora Márcia Soares diz que os resultados foram favoráveis. Porém, alerta que ainda é cedo para recomendar à população o uso do óleo como promessa de benesses à saúde. Para ela, é preciso ampliar as pesquisas a fim de confirmar os efeitos da gordura do coco. Ainda assim, ressalta que o consumo de uma colher de sopa por dia, numa dieta adequada, certamente favorece a normalização dos lipídios no organismo.
Já a nutricionista Tamara Mazaracki não tem dúvidas sobre os benefícios do óleo de coco. Ela cita inúmeras pesquisas internacionais para justificar a recomendação que faz do consumo diário desse tipo de gordura. Segundo ela, em seu consultório, o resultado mais satisfatório que obteve foi o de uma paciente que tinha níveis muito elevados de triglicerídeos e, para controlar o problema, utilizava um medicamento que elevava a função hepática e provocava efeitos colaterais, como urticárias e pruridos. Exames confirmaram que a mulher tinha hipotireoidismo subclínico (quando os níveis do hormônio TSH começam a aumentar devido a alterações do T4 e o paciente pode não apresentar sintomas). A nutricionista prescreveu dieta associada ao uso de óleo de coco. ;Na segunda visita, seus triglicerídeos despencaram de 400 para 273;, relata.
A grande desvantagem para quem se animou com as promessas do óleo de coco é que, por enquanto, o preço ainda é alto. Meio litro custa, em média, R$ 30. Para o nutrólogo José Alves Lara Neto, porém, não é necessário comprar a forma prensada, vendida nos supermercados. ;A gordura está no próprio coco;, diz. Embora seja adepto da dieta com o fruto, ele alerta que exageros estão fora de questão. ;Ninguém vai usar 30% de gordura de coco todos os dias. Isso seria suicídio;, diz. Para os que não dispensam, porém, uma picanha e nem sonham em trocá-la por uma opção vegetariana, o médico alerta: ;Tire toda a gordura visível. A carne é marmorizada naturalmente e, entre as fibras, já está o percentual necessário de gordura. O que sobrar não faz bem à saúde;, avisa.