Ciência e Saúde

Enxaqueca afeta cerca de 15% da população brasileira

o mal que atinge principalmente as mulheres. Médicos alertam para o perigo da automedicação

postado em 04/07/2009 11:57
A dor geralmente chega de mansinho, mas, em seu auge, é descrita como dilacerante. Muitas vezes, vem acompanhada de náuseas, vômitos, tontura, aversão a barulho e à luz. Quem sofre de enxaqueca conhece bem essas sensações e compartilha com pouco mais de 29 milhões de brasileiros, cerca de 15% da população do país, os transtornos físicos e emocionais decorrentes do mal. Estima-se que pelo menos 240 milhões de pessoas no mundo sofram com a mazela. As mulheres são as mais atingidas. No Brasil, 20,9% da população feminina têm crises frequentes.

Embora não seja reconhecida como doença em alguns países, a Organização Mundial da Saúde (OMS) considera a enxaqueca um problema de saúde pública de alta prioridade e a classifica como uma das 20 enfermidades que mais provocam incapacidade(1) , ao lado do derrame cerebral, da Aids e do diabetes. Neurologistas e pesquisadores que atuam no Brasil reconhecem que há um longo caminho a percorrer até que as causas da enxaqueca sejam descobertas, mas observam que novidades em medicamentos e terapias minimizam os danos provocados pelo distúrbio.o mal que atinge principalmente as mulheres. Médicos alertam para o perigo da automedicação

O neurologista Nasser Allam explica que a enxaqueca é uma doença neurológica de caráter hereditário, desencadeada por diversos fatores já conhecidos. ;Sabemos que determinados alimentos, fadiga física e mental, bebidas alcoólicas e até a privação ou o prolongamento do sono podem provocar as crises. Nas mulheres, o fator hormonal é determinante e, por isso, elas são mais atingidas pela doença;, lembra Nasser. O médico aponta a toxina butolímica como uma novidade usada para conter a dor. ;A substância deve ser prescrita somente nos casos considerados de difícil tratamento e, como toda terapia para males crônicos, pode apresentar excelentes resultados para alguns pacientes, mas nenhuma melhora para outros;, avisa.

A enxaqueca interfere na rotina profissional e pessoal de suas vítimas, pois as crises podem ocorrer mais de duas vezes por mês. A dor, sempre em um lado da cabeça, dura de duas horas a três dias. A psicóloga Naddia Lopes, 28 anos, conta que a doença entrou em sua vida ainda na infância. Com o tempo, ela percebeu que o estresse e o fator emocional são pontos de partida para o sofrimento. ;Não conheço dor mais avassaladora. Lateja tanto que tenho a sensação de ter um relógio tique-taque dentro da cabeça. Cheguei a ser internada várias vezes por conta da enxaqueca, pois fico desidratada em decorrência dos vômitos. Quando a crise chega, preciso me isolar em um quarto escuro e fugir de qualquer tipo de barulho. Como a alimentação influencia, tento evitar alimentos que desencadeiam a dor. Mas, se não consigo evitar as guloseimas, pago um preço muito alto. É extremamente desgastante. Quem tem enxaqueca se priva de muita coisa;, lamenta.

A dona de casa Antônia Eva Martins, 27 anos, passa pela mesma tortura desde criança, mas teve a doença diagnosticada há pouco tempo. Ela relata que no interior do Ceará, local em que nasceu, os médicos não costumam dar muita atenção ao mal. ;Fui saber que sofria de enxaqueca há quatro anos, quando me mudei para Brasília. Só então, um neurologista me orientou e explicou o que pode desencadear a crise. No meu caso, ela já chegou a durar uma semana. Me livrei temporariamente das dores, que são terríveis, quando engravidei. Meu bebê tem 2 meses e, nesse período, já passei novamente pelo sufoco. Vivo com medo, pois minha enxaqueca vem acompanhada de tonturas e um terrível mal-estar que me deixa completamente passada;, revela. ;É muito estranho, pois a dor nem sempre melhora com a medicação, mas quando ela passa é como se nada tivesse acontecido;, acrescenta.

Novas drogas
O coordenador do Departamento Científico de Cefaleia da Academia Brasileira de Neurologia, Elder Sarmento, alerta que é preciso tomar cuidado com o excesso de remédios, problema comum entre os pacientes. ;A automedicação e a ingestão descontrolada de analgésicos agravam a doença e piora a qualidade de vida dos pacientes. Quem ingere três comprimidos por semana já está abusando. A enxaqueca não tem cura, mas pode ser controlada com orientação médica;, reforça o neurologista.

Ele adianta que medicamentos profiláticos, capazes de reduzirem a frequência e a gravidade das crises, estão em fase final de pesquisa. ;Essas drogas são tão eficazes quanto os remédios usados hoje em dia, mas apresentam menos efeitos colaterais, como ganho de peso, desequilíbrio do ciclo menstrual, ocorrência de acnes e sonolência. Outra novidade são as técnicas de neuroimagens usadas para analisar alterações no cérebro. Elas contribuem muito no trabalho dos neurologistas, assim como as terapias alternativas de relaxamento que auxiliam no tratamento da doença;, completa.

1 DOENÇA INCAPACITANTE
Agravo que produz incapacidade para desempenhar as tarefas da vida diária e laborais consideradas como atividades normais do ser humano. Essa incapacidade pode ser reversível, quando passível de reabilitação ou readaptação, ou irreversível, quando as opções de reversibilidade não são efetivas.

Tags

Os comentários não representam a opinião do jornal e são de responsabilidade do autor. As mensagens estão sujeitas a moderação prévia antes da publicação