Ciência e Saúde

Estrada e Barragem estão secando o único mangue oceânico do Atlântico Sul

postado em 10/07/2009 08:00
A ação do homem na natureza está comprometendo a saúde de paraísos naturais brasileiros. Desta vez, a vítima é o manguezal de Sueste, em Fernando de Noronha (PE) ; o único mangue oceânico do Atlântico Sul, a partir da linha do Equador. Um estudo realizado no local constatou que a construção de uma barragem e uma estrada que dá acesso à famosa Praia do Atalaia podem ter sido as principais responsáveis pela redução do nível de água no local, considerada a principal fonte de subsistência do mangue. A falta desse ;alimento; ; essencial para a fauna e a flora ; ameaça a existência desse ecossistema que, além de beleza única, atua como excelente indicador de mudanças climáticas e abrigo para aves migratórias e espécies marinhas.

Desenvolvido por um grupo de pesquisadores das Universidades de Pernambuco (UPE), Federal Rural de Pernambuco (UFRPE) e do Instituto Bioma Brasil, o estudo visa a produção de um diagnóstico ambiental do local. ;Até hoje, só foram feitos quatro levantamentos daquela área;, afirma um dos coordenadores, o professor Clemente Coelho Júnior. Segundo ele, o manguezal sofreu grande impacto depois da construção de uma barragem no Açúde do Xaréu, pois ele era alimentado por um riacho provisório responsável pela drenagem da água da chuva. ;Isso impediu que a água chegasse ao mangue, mudando a dinâmica do local. Como consequência, as árvores passaram a apresentar ramificações e tombaram com maior facilidade;, explica.

Além disso, outros dois fatores foram determinantes para impedir a passagem da água. Um deles é a estrada de terra que dá acesso à Praia do Atalaia, na parte de trás do mangue. ;Uma duna formada na Praia de Sueste, à frente do mangue, também dificultou bastante a ligação com o ambiente marinho;, garante a pesquisadora Carla Danielle Pereira, responsável pela coleta dos dados que, posteriormente, são submetidos à análise laboratorial.

Raridade ecológica
Com o intuito de reduzir esses impactos, o Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio) decidiu desviar a estrada que prejudica o mangue. O órgão é responsável pela Área de Proteção Ambiental (APA) de Fernando de Noronha, que envolve 70% do arquipélago, além do Parque Nacional Marinho, que abrange os outros 30% da ilha.

;O acesso à praia é feito por uma vila do arquipélago. Um fiscal da unidade permanece na área do mangue para orientar turistas, além de vigiar o local, que é fechado para visitação;, diz a chefe do Parque Nacional Marinho, Fabiana Bicudo. Porém, de acordo com ela, o índice de chuvas no local ao longo dos últimos meses tem superado as expectativas de todos. ;A água da chuva está contribuindo para a manutenção do mangue;, garante.

A pesquisa de campo e diversos tipos de análises laboratoriais vão contribuir para a elaboração de diagnósticos. Entre as ações mais frequentes está o levantamento da qualidade da água, do solo, do clima e da fauna da região do mangue. As dunas do local também sãomonitoradas, além da elaboração de um perfil topográfico de toda a Praia de Sueste. ;Amostras de animais como peixes, crustáceos e moluscos estão sendo colhidas;, enfatiza Carla Danielle.

A preservação do manguezal (1) de Sueste se faz necessária, hoje, pois o local é tido como uma relíquia por muitos pesquisadores. Isso por medir apenas 1.500 metros quadrados, e apresentar apenas uma espécie de mangue: a Laguncularia racemosa, ou como é mais conhecida, o mangue branco ou manso. Chama a atenção, ainda, o fato de que o local depende quase que exclusivamente da água das chuvas, drenada pelo riacho temporário ; diferentemente de outros mangues que mantêm contato maior com as marés. ;O monitoramento do mangue de Sueste também é importante até mesmo por conta do aquecimento global e das atuais mudanças climáticas em todo o mundo;, finaliza Clemente Coelho.


1- CARACTERÍSTICAS ÚNICAS
O manguezal é considerado um ecossistema costeiro de transição entre os ambientes terrestre e marinho. A riqueza biológica dos mangues faz com que essas áreas sejam os grandes berçários naturais, tanto para as espécies características desses ambientes, como para peixes e outros animais que migram para as áreas costeiras durante, pelo menos, uma fase do ciclo de sua vida.

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