Jornal Correio Braziliense

Ciência e Saúde

Países e cidades brasileiras buscam a melhor alternativa para a reciclagem dos resíduos

A vida ficou mais fácil com os produtos industrializados e descartáveis. O problema é que o planeta não suporta tanto lixo. Como consequência de uma consciência ecológica maior e urgente, teve início uma corrida nas últimas duas décadas em todo o mundo para se produzir menos resíduos e aproveitar melhor as embalagens do consumismo. Há estudos em vários países com o intuito de descobrir qual a tecnologia mais eficaz para aproveitar tanto lixo. Muitas dessas experiências buscam tornar os detritos rentáveis, com produção de energia, biogás, combustível ou adubo.

O berço da industrialização, a Inglaterra, é hoje um dos países com um dos índices de reciclagem mais baixos da Europa. Como não há depósitos suficientes para tantos resíduos, multa-se quem joga fora coisas demais. Como no restante da Europa, os ingleses precisam reduzir em 50% o volume de resíduos nos depósitos de lixo até 2015 ; em relação a 1995 ; ou arcar com as pesadas multas impostas pela União Europeia.

O Brasil também entrou nessa luta para buscar solução para o lixo tecnológico, industrial, doméstico e hospitalar. Segundo pesquisa recente da Associação Brasileira de Empresas de Limpeza Pública e Resíduos Especiais (Abrelpe), o país produz diariamente 149 mil toneladas de lixo, sendo que 45% têm destinação inadequada ; vão parar nos lixões, ou seja, áreas a céu aberto, sem proteção alguma para evitar a contaminação do meio ambiente.

O país, porém, ganha destaque em experiências bem-sucedidas em várias cidades. Em Uberlândia, Minas Gerais, nasceu há dois anos uma tecnologia que já é utilizada em Portugal, Paraguai, Rio de Janeiro e São Paulo, e é negociada com os Estados Unidos e osEmirados Árabes. A empresa Geociclo utiliza um composto bioacelerador para transformar o lixo orgânico em adubo. Em Portugal, a tecnologia da empresa brasileira será usada nas indústrias de azeite e vinho. ;A vantagem do composto bioacelerador é evitar o chorume, um grande contaminador ambiental;, diz Carlos Avelar, diretor-presidente da Geociclo.

O aterro sanitário, sistema que impermeabiliza o solo e não deixa o chorume infiltrar-se e atingir o lençol freático, é a solução tecnológica mais usada no país. No Distrito Federal, o primeiro aterro sanitário chega 50 anos após a inauguração da capital. Até pouco tempo, todo o lixo produzido pelo brasiliense era despejado a céu aberto, numa área bem próxima à invasão da Estrutural, sem proteção alguma ao solo. É o Aterro do Jóquei, o popular lixão da Estrutural, hoje transformado em aterro controlado, com impermeabilização do solo.

O edital para a construção do aterro sanitário de Brasília será publicado este mês. A empresa vencedora terá um ano, a contar da assinatura do contrato, para construí-lo. A ideia do governo é de que o DF produza cada vez menos lixo com a implantação da coleta seletiva. Mas, diferentemente do que ocorre atualmente no lixão da Estrutural, o gás natural produzido pelo chorume, em vez de queimado deverá ser transformado em energia, que poderá ser utilizada para consumo próprio no aterro ou vendida.

Há, porém, críticas a esse tipo de destinação para o lixo. O prefeito Ivan Rodrigues, de São José dos Pinhais, cidade de 300 mil habitantes na região metropolitana de Curitiba, afirma que os aterros não são a melhor solução. O solo é impermeabilizado para o chorume não atingir o lençol freático, mas o lixo está lá, enterrado. ;Em países como Áustria, Alemanha e Suíça, a regra é não gerar passivo ambiental, um problema que o aterro sanitário não resolve;, diz ele, que defende para a região de Curitiba a construção de quatro ou cinco usinas, cada uma utilizando tecnologia diferente. ;Com o tempo vamos ver qual a melhor;, opina.

Por falta de espaço, o aterro sanitário deixou de ser solução em países onde não há terrenos disponíveis. No Japão, o lixo simplesmente queimado. Já a Áustria optou pelo sistema chamado de Biopuster, adotado recentemente em Maringá, no Paraná. É a primeira experiência com essa tecnologia na América Latina. ;É um sistema compatível com o orçamento de um aterro sanitário. A vantagem é a necessidade do uso de menos área;, explica Orlando Bruno Neto, representante da Biopuster no Brasil. Em Maringá, a tonelada de lixo tratado ; transformado em adubo ; custa R$ 80. No DF, o governo vai pagar R$ 35 pela tonelada de lixo in natura entregue ao aterro sanitário.

Em Curitiba, com a saturação do aterro de Caximba, criado em 1989, a proposta é criar um sistema integrado de reciclagem, compostagem (transformação do lixo em adubo) e biodigestão (produção de biogás ou de adubo). E no prazo de três ou quatro anos, nada deve ser enterrado. ;Não temos como implantar um aterro integrado como o que se pretende em Curitiba. A população de Brasília precisa primeiro ser educada, aprender a reciclar;, diz o secretário de Meio Ambiente do DF, Cássio Taniguchi. ;O que adianta transformar o lixo aterrado em adubo, pagar a mais por isso, se o lixo está contaminado por descartes impróprios que vão resultar em um adubo que não poderá ser usado no meio ambiente?; Economicamente, segundo ele, o aterro sanitário é a melhor tecnologia hoje para o DF.

; Tecnologia brasileira


O composto é aplicado em 50 litros por tonelada de lixo orgânico, que não pode ser aterrado porque o oxigênio ajuda no processo de decomposição. O prazo de compostagem é reduzido, em média, de quatro para um mês. Nutrientes são adicionados à massa para a produção do adubo