Ciência e Saúde

Por razões culturais, homens resistem em ir ao médico e se tornam alvo de doenças que poderiam ser prevenidas

Campanha com foco no câncer de pênis será lançada na segunda-feira

Paloma Oliveto
postado em 18/07/2009 08:30
Medo, preconceito, desinformação, constrangimento ou mesmo a crença de ser imbatível. Motivos não faltam para os homens virarem as costas aos consultórios e só procurarem o médico quando a doença já está instalada. Por causa dessa cultura ; associada a outros fatores de risco, como a violência ;, 68,4% das mortes ocorridas no país são de pessoas do sexo masculino. Além disso, eles vivem, em média, 7,6 anos a menos que as mulheres. ;A maioria das doenças dos homens poderiam ser facilmente evitadas com a prevenção;, alerta Aguinaldo Nardi, coordenador de Campanhas Públicas da Sociedade Brasileira de Urologia (SBU). Na próxima segunda-feira, a sociedade lança uma campanha para conscientizá-los sobre a necessidade de cuidar melhor da própria saúde.

Campanha com foco no câncer de pênis será lançada na segunda-feiraO foco da campanha é o câncer de pênis, doença desconhecida por muitos, mas que é responsável pela amputação de mil órgãos no Brasil todos os anos. Apesar da falta de dados consolidados sobre o tumor, um levantamento da SBU constatou que ele acomete principalmente homens de baixa renda que não trataram da fimose na infância e moradores do Norte e do Nordeste. As duas regiões são responsáveis por 50% dos casos no país. Além disso, a pesquisa detectou que 81,62% das vítimas têm mais de 46 anos.

O câncer de pênis está ligado à falta de higiene na região genital. Uma secreção das glândulas do órgão, chamada esmegma, pode provocar irritações e provocar o desenvolvimento do câncer, que geralmente começa com uma ferida que não cicatriza. Fimose e doenças sexualmente transmissíveis também são responsáveis pelo aparecimento do tumor maligno. Além das feridas, surgem caroços que não desaparecem, acompanhados de secreções e mau cheiro, vermelhidão ou coceira na glande, manchas esbranquiçadas ou perda de pigmentação em áreas do pênis, e ínguas no órgão ou na coxa.

;Precisamos de um projeto sério de educação, principalmente da população mais carente;, diz o médico Aguinaldo Nardi. As recomendações para evitar o surgimento do câncer são simples e eficazes: lavar o pênis diariamente com água e sabão, principalmente após as relações sexuais; tratar da fimose; e fazer um autoexame. Assim como as mulheres devem se examinar para evitar o câncer de mama, os homens precisam, durante o banho, puxar a pele do órgão e verificar se há alguma lesão. Nardi lembra que os pais também têm de aderir à campanha e ensinar os filhos, desde cedo, a puxar o prepúcio para trás e limpar a glande na hora da higienização.

O câncer de pênis, porém, é apenas uma das inúmeras doenças que podem acometer o homem ao longo da vida. O urologista Aguinaldo Nardi recomenda que, assim como fazem as mulheres, eles também tenham uma rotina de consultas, desde a primeira infância. A visita ao médico deve ocorrer regularmente, mas principalmente em três fases: ;Nos dois primeiros anos de vida, é preciso avaliar a fimose e também se o testículo está no escroto. Na adolescência, são necessárias orientações sobre doenças sexualmente transmissíveis e exames físicos. Depois dos 40 anos, a avaliação é da parte hormonal, além da detecção precoce do câncer de próstata;, ensina.

[SAIBAMAIS]O estudante Kleberson Araújo, 24 anos, só incluiu as visitas preventivas quando começou o curso de auxiliar de enfermagem. ;Eu nunca me importei com a saúde e, no começo, entrei para o curso só mesmo para entrar no mercado de trabalho. Mas, ao longo das aulas, percebi a necessidade de investir mais em mim;, diz. Embora nunca tenha tido alguma doença grave, Kleberson conta que passou a incluir check-ups e consultas em sua rotina. E também garante que, quando fizer 40 anos, não vai fugir do exame de toque. ;É besteira isso, não passa de preconceito;, afirma.

Política
Uma mudança de comportamento masculino em relação aos cuidados com a saúde é esperada por José Carlos de Almeida, presidente da Sociedade Brasileira de Urologia. No último dia 8, o Conselho Nacional de Saúde aprovou a Política Nacional de Saúde do Homem. Se chancelado pela Comissão Intergestores Tripartite, no fim do mês, o plano segue para sanção presidencial.

A política prevê, entre outras ações, investimentos na prevenção das doenças mais graves e na qualificação de profissionais, principalmente dos agentes de saúde, para que saibam lidar melhor com o público masculino. Um levantamento do Ministério da Saúde mostrou que, enquanto, em 2007, 16 milhões de mulheres foram ao ginecologista, apenas 2 milhões de homens visitaram o urologista. ;Apesar de achar que o plano poderia ter vindo antes, acredito que o Brasil sai na frente em relação a uma política voltada à saúde do homem. Apenas o Canadá tem algo parecido;, afirma Almeida.

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