Ciência e Saúde

A conquista de marte

Paloma Oliveto
postado em 20/07/2009 08:00

Quarenta anos depois da conquista da Lua, o satélite está novamente na mira da Agência Espacial Norte-americana. Mas, agora, como ponto de partida para Marte. O planeta vermelho, que sempre despertou a curiosidade da humanidade, é o foco da mais ambiciosa missão da Nasa, a Constellation. Bem mais complexa que a Apollo, ela vai consumir mais de US$ 200 bilhões ; e isso é apenas o orçamento inicial estimado.

Clique para ampliarPara chegar ao planeta mais próximo da Terra, que, dependendo da órbita, pode se distanciar até 70 milhões de quilômetros, a Lua servirá de trampolim. A expectativa da Nasa é alcançar o satélite, no máximo, até 2020. Seis anos antes, o veículo espacial Orion, desenvolvido especialmente para a missão, fará um pit stop na Estação Espacial Internacional, em órbita em torno da Terra.

A ida a Marte desperta debates acalorados nos Estados Unidos, principalmente depois da eleição do presidente Barack Obama. Ao contrário do antecessor, George W. Bush, que havia prometido uma soma considerável à missão, Obama pediu aos congressistas para reduzirem o orçamento. Se os planos da Nasa forem interrompidos, os norte-americanos correm sério risco de perder a hemegonia do Universo. A China é, hoje, apontada como uma poderosa rival, que poderá relembrar os tempos da corrida espacial, quando os EUA disputavam com a União Soviética passo a passo a jornada nas estrelas. Desde 2003, quando o chinês Yang Lee Wei tornou-se o primeiro astronauta chinês, o país tem mostrado interesse em voar à Lua.

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A missão Constellation esbarra em outro problema, talvez mais sério que a falta de dinheiro. Apesar do sucesso das viagens tripuladas ao espaço, ainda não existe tecnologia suficiente para garantir que o homem sobreviva a um ambiente completamente hostil, a ponto de se dar ao luxo de criar um centro de treinamentos lunar. ;Um dos maiores desafios na exploração do Universo é descobrir a maneira de sustentar nosso frágil corpo no espaço;, atesta o astronauta Marcos Pontes, primeiro brasileiro a viajar para fora da órbita da Terra. ;Eu, por exemplo, fui ao espaço e fiquei exposto à radiação, perda de densidade óssea, perda de tonicidade muscular, alterações no sistema circulatório, e até problemas no ouvido. Voltei com uma hemorragia no ouvido, que de vez em quando volta;, conta.

O astrônomo Roberto Boczko, do Instituto de Astronomia, Geofísica e Ciências Atmosféricas da Universidade de São Paulo (IAG/USP), lembra de outro desafio: o psicológico. ;Imagine suportar um longo tempo fechado em algo desconhecido;, diz. Para chegar a Marte, são oito meses de viagem desde a Terra. Contando com os experimentos feitos in loco e a volta, o astrônomo calcula pelo menos três anos de confinamento espacial. Além disso, Boczko afirma que ainda não temos técnica suficiente para reciclar água e ar, além de armazenar alimentos e combustível para um período tão longo.

O cientista brasileiro Ramon De Paula, chefe da missão de reconhecimento da órbita de Marte, na Nasa, conta que o próximo passo rumo ao planeta vermelho está previsto para 2011. ;O propósito do Mars Science Laboratory (MSL) é fazer um levantamento numa região de Marte para verificar a possibilidade passada ou presente da existência da vida. O MSL vai dar informações importantes sobre o planeta Marte para ser usada na futura exploração humana;, diz. Em 2013, outra missão vai estudar a atmosfera marciana e, três anos depois, haverá, em cooperação com a Europa, uma nova experiência de exploração do planeta.

Para quem se pergunta o que o homem quer fazer em Marte, e se vale a pena investir bilhões de dólares e toneladas de materiais para isso, o astrônomo Roberto Boczko responde que dessa missão dependerá o futuro da humanidade. ;Se quiser sobreviver, o homem vai ter de sair da Terra. A evolução do Sol vai fazer com que a Terra orbite dentro dele, a uma temperatura de 4 mil graus;, diz. Mas ainda há tempo de descobrir como fugir desse apocalípse. Segundo o astrônomo, isso deve ocorrer daqui a quatro bilhões de anos.

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