Jornal Correio Braziliense

Ciência e Saúde

Cientistas descobrem que chimpanzés também desenvolvem aids

Vírus aumenta em 16 vezes o risco de morte

Durante nove anos, chimpanzés selvagens do Parque Nacional de Gombe (oeste da Tanzânia) foram monitorados por cientistas norte-americanos da Universidade do Alabama, em Birmingham. Depois de analisarem amostras fecais dos primatas, os estudiosos se supreenderam com a constatação de que 94 animais estavam infectados por uma das 40 variantes do SIV, o vírus da imunodeficiência símia. O microorganismo, chamado de SIVcpz, aumenta em até 16 vezes as chances de morte e provoca no organismo sintomas quase idênticos aos da Aids.

A bióloga molecular Rebecca Rudicell, coautora da pesquisa publicada pela revista científica Nature, contou ao Correio que, para confirmar as descobertas, ela e seus colegas esmiuçaram os tecidos coletados dos corpos de chimpanzés mortos na região. O resultado surpreendeu a equipe. ;Todos os tecidos dos animais contaminados tinham menos células CD4 T do que os não contaminados;, afirmou, em entrevista por e-mail. Também conhecidas como linfócitos, essas células de defesa são destruídas pelo HIV, o vírus causador da Aids em humanos.

De acordo com Rebecca, um dos animais estudados praticamente perdeu todos os linfócitos do organismo, uma condição vista em pacientes soropositivos, no estado terminal. ;Essa descoberta é consistente com a Aids em chimpanzés infectados pelo SIVcpz;, explicou a cientista. Como os chimpanzés e os humanos são 98% similares do ponto de vista genético, os especialistas acreditam que o HIV-1 e o SIVcpz também se mostram geneticamente parecidos. ;Temos uma oportunidade única de estudar a doença em duas espécies próximas;, comemora a bióloga.

Nos chimpanzés, a doença progride mais lenta ou mais rapidamente? Por que? Esses primatas têm um modo eficiente de atacar os mecanismos patogênicos do SIVcpz? As respostas às quais Rebecca e seus colegas aguardam com ansiedade só serão dadas por pesquisas adicionais. No entanto, a cientista admite que o atual estudo pode desencadear medidas de terapia e prevenção capazes de beneficiar os humanos e os animais.

Amostras
O chimpanzé gêmeo denominado 006 foi o primeiro a ter a infecção pelo SIVcpz detectada. Apesar de seu irmão ter morrido ainda em 2000, ele se tornou um adulto macho pequeno, mas forte. O animal desapareceu e foi dado com morto em 2007. O animal 099, uma fêmea, não resistiu à doença em novembro de 2006, vítima de complicações provocadas por uma lesão na medula espinhal. Ela fez parte dos três corpos submetidos à necropsia, que atestou a contaminação. Já o 004 contraiu o vírus em 2006, depois de manter ;encontros sexuais documentados; com outros chimpanzés contaminados. Um foco de atenção é a chimpanzé 078, que deu à luz um macho. Testes mostraram que mãe e filho estavam livres do SIVcpz.

;Estamos investigando a origem do SIVcpz em Gombe e testaremos comunidades de animais selvagens fora do parque e em outras áreas da Tanzânia, Burundi e leste da República Democrática do Congo;, acrescentou. Um esforço para buscar respostas nos parentes mais próximos do homem sobre um mal que já matou 25 milhões de pessoas em todo o mundo.