Ciência e Saúde

Novo estudo ataca reposição hormonal

Pesquisadores dinamarqueses afirmam que hormônios sintéticos usados para amenizar sintomas do climatério aumentam em 40% o risco de câncer de ovário

postado em 04/08/2009 08:00
Que mulher não sente receio do climatério (período pós-menopausa)? No Brasil, as manifestações da transição da fase reprodutiva para a não reprodutiva da vida acometem 80% daquelas que estão entre os 45 e 64 anos. Para algumas, os sintomas, como ondas de calor, irritabilidade, falta de libido, osteoporose, depressão e tantos outros, duram mais de uma década. Em meio aos desconfortos físicos e emocionais, elas se veem diante da polêmica sobre os benefícios e riscos da terapia de reposição hormonal (TRH), que provoca discussões entre médicos e pesquisadores. Reféns das transformações naturais do corpo, as mulheres vivem um dilema: aderir ou não ao tratamento que repõe os hormônios não mais produzidos como antes?

Pesquisadores dinamarqueses afirmam que hormônios sintéticos usados para amenizar sintomas do climatério aumentam em 40% o risco de câncer de ovárioAté o fim da década de 1990, as vantagens da TRH eram consideradas evidentes para a maioria dos especialistas em saúde da mulher. Em 2002, no entanto, foi lançado o alerta. Um estudo sobre os efeitos da terapia realizado pelo Programa de Iniciativa da Saúde da Mulher (WHI, na sigla em inglês) verificou que os hormônios sintéticos usados para substituir o estrogênio e a progesterona aumentavam o risco de problemas cardiovasculares, como acidentes vasculares cerebrais, tromboses e cânceres de mama. Desde então, pesquisadores de todo o mundo reforçam que a TRH é, no mínimo, controversa.

Recentemente, cientistas da Universidade de Copenhague, na Dinamarca, afirmaram que os hormônios sintéticos aumentam em quase 40% o risco das mulheres desenvolverem o câncer de ovário. O estudo, feito durante 10 anos, avaliou cerca de 900 mil dinamarquesas com idades entre 50 e 79 anos. ;O risco é observado independentemente da dose ou do tempo em que a TRH é administrada. Constatamos que, anualmente, para cada 8,3 mil mulheres que repõem hormônios, por via oral, adesivo ou gel vaginal, uma desenvolve a doença. Parece pouco, mas no nosso universo de pesquisa significou 140 casos extras em oito anos de análise. Não podemos desconsiderar que esse tipo de câncer é altamente letal;, observa a médica Lina Steinrud Morch, umas das autoras do estudo.

Divergências
Os médicos defensores da TRH lembram é preciso uma avaliação criteriosa da relação custo-benefício do tratamento. O ginecologista presidente da Associação Brasileira do Climatério (Sobrac), Marco Aurélio Albernaz, reconhece os perigos, mas entende que é preciso considerar a contrapartida da reposição hormonal. ;Todo medicamento oferece risco à saúde. Os hormônios não são diferentes. Quando há indicação clara e monitoramento criterioso, os benefícios da TRH na qualidade de vida superam em muito as chances de ocorrerem problemas. Infelizmente, para algumas mulheres com histórico de doenças, como o câncer de mama, trombose ou embolia pulmonar, o risco supera os benefícios e o tratamento é realmente desaconselhado;, explica.

A dona de casa Eurides Campos de Sousa, 62 anos, não se arrepende de ter feito reposição por mais de uma década. Ela conta que começou a sentir os sintomas precocemente, aos 38 anos. ;Sentia ondas de calor terríveis, insônia, depressão e muitas dores nas pernas. Sofri durante algum tempo porque, até comprovarem pelos exames clínicos, nem os médicos acreditavam que já era hora de fazer a terapia. Ninguém consegue viver em paz sentindo na pele e na alma o que eu sentia. Hoje, não tomo mais os remédios, mas reconheço os benefícios que eles me trouxeram e não me arrependo de ter aderido ao tratamento;, afirma.

A artista plástica Eda Spegiorn Patrocínio, 56 anos, diz que sentia muito medo do climatério. Com o aval do ginecologista, se adiantou e começou a TRH antes que os sintomas aparecessem. ;Há três meses, minha médica verificou um aumento do endométrio e suspendeu a terapia. Acho que, quando a prevenção é feita com cuidado, podemos evitar os problemas;, opina. A ginecologista Rosely Rulli explica que é preciso estar atento para a hora de começar a TRH. Quanto antes se verificar a necessidade, melhor e mais benéfica é a reposição. Quando o tratamento começa muito depois do início do climatério, os riscos de ocorrerem tromboses e embolias são maiores;, afirma a médica.

No entanto, alguns especialistas não recomendam os hormônios sintéticos e indicam terapias alternativas baseadas em fitoterápicos ; com estrutura molecular semelhante à do estrôgenio humano ; para suprir a carência hormonal. ;Isoflavona da soja e a geleia real são exemplos de alimentos que podem controlar os sintomas do climatério e evitar a osteoporose sem trazer os efeitos maléficos dos hormônios químicos;, garante o médico naturalista Augusto Vinholis.

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