Agência France-Presse
postado em 20/08/2009 11:45
PARIS - Uma diferença anatômica no cérebro, suscetível de surgir durante o terceiro trimestre da gravidez, explicaria por que certos pacientes esquizofrênicos ouvem vozes em sua cabeça e outras vozes provenientes do exterior.
A esquizofrenia afeta um 1% da população mundial, segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS). As alucinações auditivas verbais, ou seja, a percepção de vozes, é um dos sintomas frequentes, já que 70% dos pacientes esquizofrênicos padecem disso, segundo um trabalho conjunto de um laboratório da Comissão de Energia Atômica francesa e a Assistência Pública dos Hospitais de Paris.
Depois de demonstrar, há um ano, este fenômeno vinculado às anomalias anatômicas no conjunto das regiões do cérebro envolvidas na linguagem, uma equipe de pesquisadores do laboratório CEA-Inserm e de psiquiatras hospitalares quis compreender por que a percepção de vozes difere de um caso para outro, explicou Arnaud Cachia, do Serviço Hospitalar Frederic Joliot, associado ao CEA-Inserm, em Orsay.
Existem dois tipos de alucinações auditivas na esquizofrenia: o tipo em que os pacientes ouvem vozes em sua cabeça e o tipo em que essas vozes são exteriores.
Na comparação feita graças a imagens de ressonância magnética (IRM), a anatomia do cérebro das pessoas que não sofrem dessa doença e as dos dois grupos de pacientes esquizofrênicos (12 que ouvem apenas vozes externas e 15 que as ouvem as internas), os pesquisadores evidenciaram uma diferença na região envolvida na localização espacial do som (córtex temporoparietal do hemisfério direito do cérebro).
Os cientistas descobriram uma anomalia que diz respeito à união entre os dois surcos do córtex: o surco temporal superior e o surco angular. Em comparação com indivíduos saudáveis, a união está deslocada para frente do cérebro dos pacientes que ouvem vozes externas e, ao contrário, na parte de trás do cérebro para os que ouvem vozes internas a sua cabeça, segundo o estudo que foi publicado pela revista Schizophrenia Bulletin.
Esta diferença pode, segundo os autores do estudo, indicar a existência de "desvios na maturação do cérebro" durante o terceiro trimestre da gravidez, quando estes dois surcos aparecem e depois se conectam. "Se um fenômeno tão subjetivo e íntimo como a localização das vozes se traduz por uma diferença na anatomia do cérebro é um argumento adicional para deixar de estigmatizar os pacientes afetados por esta doença que ainda é pouco conhecida".