postado em 22/08/2009 08:15
Um meio de transporte simples, barato e que não prejudica o meio ambiente. A fórmula parece boa demais para ser verdade, mas já é realidade. Surgida nas salas de aula da Universidade de Columbia, em Nova York, a bicicleta de bambu foi parar nos vilarejos de Gana, na África. Leve e reciclável, ela tem a vantagem de ser feita de uma das plantas mais resistentes da natureza, além ter uma fabricação muito simples. Por isso, apostam os inventores, a ;magrela; tem tudo para conquistar também as grandes cidades e virar mania mundial.O projeto Bamboo Bike surgiu sob a coordenação do professor do departamento de ciências da terra e do meio ambiente de Columbia John Mutter. O desafio era fabricar um produto sustentável para servir como meio de transporte para as populações rurais da África, onde a maioria das bicicletas são importadas da China e da Índia. Segundo o professor, muitas tem um desenho ultrapassado, pouca durabilidade e não servem para os trabalhos nas vilas. ;Descobrimos que, primeiramente, eles precisavam de uma bicicleta melhor e, de preferência, que pudesse ser construída na África;, diz Mutter ao Correio.
A ideia de fazer uma bicicleta de bambu não era nova. O maior problema era desenvolver uma forma fácil de fabricação, que pudesse ser ensinada nas áreas rurais. ;Queremos estimular a criação de uma empresa de bicicletas feitas por africanos para africanos. Lá, é possível encontrar bambu facilmente e os quadros podem ser construídos sem ferramentas pesadas, apesar de essa ser, geralmente, uma exigência de produções em larga escala;, conta Mutter.
O projeto foi levado a Gana em 2007 e chegou a ser lembrado pelo presidente americano Barack Obama na sua primeira viagem ao continente africano. A escolha do bambu para servir como base da bicicleta ecológica tem razão de ser. É uma planta que pode ser encontrada em qualquer lugar do mundo e em todo tipo de terreno. O material tem inúmeras qualidades. Além de ser resistente, tem uma capacidade impressionante para se renovar e crescer depois de cortado. ;O bambu se adapta a terrenos pobres, inclinados, altos e baixos. Ele tem uma diversidade ecológica impressionante. Pode ser utilizado no artesanato, como alimento, para fornecer energia, fabricar tecidos, fazer construções e móveis;, afirma o arquiteto e professor Jaime Almeida, do Centro de Pesquisa e Aplicação de Bambu da Universidade de Brasília (UnB).O manuseio da planta também é fácil. De acordo com os especialistas, qualquer pessoa pode cortar e construir objetos utilizando alguns materiais simples. A única dificuldade é o formato cônico da planta, que restringe a fabricação de peças contínuas. O bambu também tem uma característica muito particular: deve ser colhido apenas na lua minguante, por causa do amido presente em sua estrutura. O polissacarídeo, que pode atrair insetos, é mais abundante nas outras fases do ciclo lunar. Mas, tomados alguns cuidados, o material se torna resistente. Basta protegê-lo com uma solução de água e sais de boro. ;Ao passar essa espécie de verniz no bambu, podemos ter uma conservação de até 50 anos;, afirma Almeida.
Cola natural
No estúdio montado na universidade americana, há poucas ferramentas. O bambu é cortado e montado igual à parte central de uma bicicleta comum. ;O quadro, que é a sustentação de tudo, é feito do mesmo jeito que um de metal, mas as conexões, obviamente, não são soldadas. Nós juntamos tudo com um tecido de aniagem, que é mergulhado em resina epóxi e depois enrolado para juntar as partes;, explica Mutter. A cola feita com o tecido endurece depois de secar e deixa a estrutura extremamente forte. As partes de metal, como a roda, a correia e o banco, são reaproveitadas de bicicletas velhas.
Um fim de semana é o tempo necessário para construir uma bicicleta de bambu. Na Universidade de Columbia, é possível fazer, por US$ 1 mil, um curso de fabricação, que inclui, além das aulas, todo o material e o direito de voltar para casa com a própria bamboo bike. Parte do dinheiro arrecadado vai para a construção de uma fábrica de bicicletas ecológicas em Gana. Outra opção é comprar apenas o quadro da bicicleta feito com bambu ; mas o preço cobrado por algumas empresas americanas chega a US$ 3 mil. ;Pensamos em fabricar as bicicletas para vendê-las no mercado americano e europeu, mas antes queremos focar todo nosso esforço no aspecto social;, diz o professor americano.O projeto Bamboo Bike já capacitou dezenas de pessoas na África. O próximo passo é chegar à marca de 800 bicicletas construídas. ;Por enquanto, estamos atuando em Gana, mas pensamos em fazer o mesmo no Quênia e na Nigéria. Minha esperança é que, em breve, tenhamos capacidade de construir as bicicletas em larga escala para os produtores rurais. Eu acho que o futuro é bem promissor;, acredita Mutter.