postado em 23/08/2009 07:49
O aquecimento global e a alimentação calórica dos tempos modernos contribuem cada vez mais para o aumento de pessoas com cálculo renal em todo o mundo. Atualmente, entre 10% e 13% da população têm a doença, principalmente na faixa etária dos 20 aos 50 anos. E quanto mais a região apresenta clima quente e seco, maior é a taxa de incidência da doença. Sinal de alerta para o Distrito Federal. A época de seca no Planalto Central, que eleva a temperatura e reduz para níveis críticos a umidade do ar, é a que registra o maior número de caso de pacientes com cólicas renais e necessidade de tratamento de emergência.A principal recomendação dos médicos é ingerir ainda mais água durante esse período de estiagem. Quem bebe pouco líquido pode contribuir para o avanço lento da doença, que, em muitas vezes, só vai apresentar desconforto muito tempo depois. A relação da patologia com a época de seca é fácil de explicar. É no calor que a pessoa transpira mais, perde mais água e a urina fica mais concentrada, o que aumenta as chances de formar os cálculos.
;O brasileiro bebe uma quantidade inadequada de água, e quanto mais seco o lugar, pior. Na Arábia Saudita, a percentagem da doença na população está entre 20% e 30%, o dobro da incidência estimada para o Brasil, na ordem de 10%;, compara o médico Nestor Schor, professor da Universidade Federal de São Paulo e membro da Academia Nacional de Medicina.
Na última semana, médicos de Brasília reuniram-se no Hospital de Base para a 1; Jornada de Atualização e Avanços em Urologia, organizada para discutir os avanços no tratamento da doença. ;Brasília está na vanguarda em cirurgias endoscópicas urológicas;, diz o médico Francisco Diogo Mendes. No Distrito Federal, 10 médicos já realizam essa cirurgia, que é chamada de ureteronefrolitotripsia flexível. Em todo o Brasil, são apenas mais 40 médicos.
O novo procedimento para eliminar os cálculos renais teve início em Brasília no fim dos anos 1990, quando a rede privada investiu na tecnologia de aparelhos médicos. ;O procedimento cirúrgico que utiliza o laser para destruir o cálculo é o menos invasivo. Em uma semana, o paciente volta a trabalhar. Nas cirurgias com incisão, ele fica afastado até dois meses;, compara o urologista Diogo Mendes. ;A vantagem do laser é que boa parte dos fragmentos do cálculo vai ser vaporizada, o que minimiza o processo de eliminação. Pode ser usado em qualquer tipo de cálculo, e causa pouca lesão térmica;, acrescenta o médico Eriston Uhmann.
Sem sintomas
O cálculo renal pode surgir e crescer silenciosamente. É o que os médicos chamam de cálculo assintomático. Ele só vai incomodar anos mais tarde, ao provocar repetidas infecções urinárias ou cólicas. É somente nessa hora que a pessoa se atenta para o problema, que pode trazer complicações sérias, como a obstrução total da passagem da urina e a paralisação da filtragem do sangue pelos rins.
Hoje, já se sabe que a formação dos cálculos renais tem vários fatores. Beber pouca água é apenas um deles. Exagerar no sal na comida e levar uma vida sedentária também contribui para a doença, assim como uma dieta excessivamente rica em proteínas. Contam, também, a predisposição genética e distúrbios renais e metabólicos. Em mais de 50% dos casos, porém, as pedras são formadas por oxalato de cálcio. Segundo os médicos, quem tem cálculo renal apresenta algum distúrbio metabólico que faz com que os cristais normalmente eliminados pela urina se acumulem e formem a pedra.
O que não quer dizer que a pessoa deve deixar de consumir cálcio. ;A hipercalciúria de causa renal pode diminuir o nível de cálcio no sangue, e o organismo começa a retirar o nutriente dos ossos para repor o que foi perdido na urina, levando a outras doenças, como a osteoporose;, explica a nefrologista Karime da Veiga Jardim Pacheco, responsável pelo ambulatório de litíase renal do Hospital de Base do Distrito Federal. Por isso, a pessoa deve manter o cálcio na dieta. Mas, ao mesmo tempo, não pode exagerar. ;Se extrapolar a capacidade renal de reabsorção, o cálcio será eliminado na urina. E é esse excesso de cálcio na urina que leva à formação do cálculo;, ressalta a médica.
Os cálculos podem resultar também do excesso de infecções urinárias de repetição, de falta de citrato ou de uma doença chamada cistinúria. Para se ter certeza das substâncias que compõem o cálculo, é preciso análise laboratorial. Os exames de 24 horas da urina mostram as dosagens de oxalato, de cálcio, de ácido úrico, de cistina e de citrato.
Saber o que causa o cálculo é importante para interferir no processo. Por exemplo, a dieta pode ser adequada de acordo com o distúrbio metabólico que for encontrado. É fundamental uma combinação equilibrada, após a devida investigação do paciente com cálculo renal. Uma vez com o problema, a pessoa sempre estará susceptível à formação de novas pedras. A percentagem de recorrência é de 50% no período de quatro a cinco anos.
Limite
A ingestão de proteínas deve ser de 15% em relação ao valor calórico total da alimentação diária. Elas ajudam na renovação das células, na construção e crescimento do corpo. São exemplos de alimentos proteicos: as carnes, ovos, leite, iogurtes e queijos, e leguminosas como feijão e soja.
Problema grave
Doença genética que provoca múltiplos cálculos de repetição em ambos os rins e com grande possibilidade de levar à insuficiência renal.
Investigação
A alteração metabólica que levou ao aparecimento do cálculo deve ser pesquisada por nefrologistas ou urologistas, que vão identificar as causas da formação desse cálculo. São realizadas análises no sangue e na urina, que é recolhida durante 24h, para saber se há excesso de substâncias causadoras e inibidoras na formação do cálculo: citrato, cálcio, oxalato, cistina, fosfato, magnésio e sódio. São investigados também os nutrientes presentes no sangue.