Carolina Lenoir
postado em 24/08/2009 10:03
O aumento do índice de obesidade entre crianças e adolescentes é considerado um dos mais sérios desafios deste século pela Organização Mundial de Saúde (OMS). De acordo com a entidade, a prevalência tem aumentado de forma perigosa. Dados recentes indicam que pelo menos 22 milhões de crianças menores de 5 anos têm sobrepeso no mundo inteiro - 75% delas em países de renda baixa ou média. Entre as maiores implicações, está a grande probabilidade de elas permanecerem obesas ou com sobrepeso em idade adulta e desenvolverem doenças cardiovasculares.
Duas pesquisas realizadas por equipes interdisciplinares vinculadas à Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais (PUC Minas) e à Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) constataram que a prática de atividades físicas, aliadas à mudança nos hábitos alimentares, têm papel fundamental para prevenir esse tipo de complicação. A primeira pesquisa, que fez parte da tese da fisioterapeuta Márcia Braz Rossetti, professora da PUC Minas e doutora em ciências da saúde pela Faculdade de Medicina da UFMG, teve como objetivo avaliar o impacto das atividades físicas em fatores cardioprotetores.
"Estudos recentes indicam que adultos obesos apresentam sutil inflamação no sangue, identificada pela presença aumentada da proteína C-reativa. Isso significa que as células adiposas não são simples depósitos de gordura. Elas têm papel metabólico muito ativo, o que induz à produção hepática de substâncias inflamatórias, precursoras de lesões que podem levar ao infarto, ao acidente vascular cerebral e à obstrução de artérias periféricas, entre outras doenças cardiovasculares", explica Márcia.
A intenção da pesquisa era verificar se crianças e adolescentes obesas ou com sobrepeso têm esse marcador de inflamação no sangue. Como isso foi comprovado, o passo seguinte foi identificar se a realização de atividades físicas levaria a uma melhoria nos aspectos inflamatórios. Foram selecionados 45 crianças e adolescentes, de 6 a 18 anos, pacientes do Ambulatório de Doenças Nutricionais da UFMG. Eles foram divididos em dois grupos e acompanhados por fisioterapeutas, pediatras, nutricionistas e psicólogos.
O grupo teste, composto por 27 meninos, recebeu treinamento físico aeróbico supervisionado no complexo esportivo da PUC Minas, ao contrário dos 18 que fizeram parte do grupo controle. "O treinamento físico foi realizado em 12 semanas. Os exercícios eram feitos três dias por semana e as consultas, quinzenais." De acordo com Márcia, os resultados mostraram que, de fato, os exercícios têm efeito anti-inflamatório. Nas análises clínicas e laboratoriais realizadas nos pacientes depois das 12 semanas, pôde-se constatar que a presença da proteína C-reativa ultrassensível e do colesterol ruim (LDL e VLDL) diminuiu no grupo teste, assim como o índice de massa corporal (IMC). Por outro lado, o nível de VO2, que indica a captação de oxigênio máximo e, consequentemente, revela o condicionamento físico do paciente, melhorou no grupo que fez atividades físicas supervisionadas.
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