postado em 29/08/2009 08:15
Por sua incrível flexibilidade e resistência, a teia de aranha sempre atraiu o interesse de cientistas que buscaram entender sua estrutura para produzir linhas fortes e maleáveis para serem usadas em diversos segmentos, da indústria têxtil à medicina. Agora, um estudo brasileiro ; feito em conjunto por pesquisadores da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa), da Universidade de São Paulo (USP) e do Instituto Butantan ; conseguiu isolar genes de algumas espécies de aranhas para, a partir de sua manipulação, originar um fio mais resistente(1), que poderá, por exemplo, substituir as linhas usadas para fazer suturas em pacientes que passam por cirurgias.;O maior desafio é produzir esse fio em uma escala economicamente viável, pois a tecnologia empregada ainda é muito cara;, diz o coordenador do estudo e pesquisador da Embrapa Recursos Genéticos e Biotecnologia, Elíbio Rech. Ele conta que o estudo se concentrou em espécies brasileiras, encontradas no cerrado, na Amazônia e na Mata Atlântica, e está dividido em duas partes. Na primeira, os pesquisadores isolaram genes dos aracnídeos e produziram em laboratório a proteína que compõe o fio da teia. Depois, essa proteína foi aplicada em bactérias transgênicas que produziram fios semelhantes. ;Claro que a aranha é muito mais competente nessa produção. Porém, conseguimos com esse processo um fio puramente feito de proteína e biodegradável;, diz.
Rech explica que, na segunda etapa, o grupo tentará fazer com que a proteína da teia de aranha seja incorporada à fibra de algodão, tornado-a mais resistente. ;Com um fio mais forte, a indústria poderá criar tecidos tão resistentes que poderão até ser usados na confecção de materiais à prova de bala;, afirma o pesquisador. Ele ressalta, porém, que a produção em grande escala das fibras produzidas em laboratório deverá beneficiar principalmente a indústria médica. ;Esse fio pode ser amplamente usado em suturas, pois, como é pura proteína, não causa reações no corpo, além de ser absorvido por ele.;
Parceria
Para conseguir todos esses resultados é preciso, primeiro, desenvolver uma tecnologia mais barata, que possibilite a produção em escala industrial. Com esse objetivo, os cientistas brasileiros realizam um trabalho em parceira com a Universidade de Wyoming, nos Estados Unidos, onde são utilizadas cabras clonadas e soja transgênica para tentar produzir a proteína da teia de aranha. ;Se conseguirmos retirar a proteína do leite animal ou da semente de soja, seremos capazes de produzir fios em grande escala e economicamente viáveis;, aposta Rech. ;A partir daí, vamos avaliar qual dos dois instrumentos é mais barato e eficiente na produção dessa proteína sintética.;
Além dessas possíveis aplicações, o estudo tem como consequência a valorização do ecossistema brasileiro. ;Fala-se muito da biodiversidade do país, do seu amplo uso, já que temos biomas importantes como a Mata Atlântica, a Amazônia e o cerrado. O que poucos levam em consideração é a forma como ela é utilizada. No caso dessa pesquisa, pegamos dois ou três exemplares de aranhas de espécies diferentes, retiramos seus genes e pronto: não vamos mais utilizar nenhuma. Isso é uma opção viável de uso sustentável;, explica o cientista. ;Já o fato de o estudo ser baseado em aranhas brasileiras permite agregar valor à nossa biodiversidade, o que é muito positivo;, avalia.
1 - Suporte
A estrutura da teia de aranha é formada por módulos que unem aminoácidos ricos em glicina, prolina e alanina. São eles que dão as propriedades de resistência e flexibilidade ao fio, capaz de aguentar o peso do próprio aracnídeo a uma altura de até 80km.