Ciência e Saúde

Cientistas brasileiros criam equipamento que simula luz do sol

postado em 12/09/2009 07:00

Céu claro e sem nuvens todos os dias. Pode até parecer a previsão do tempo sonhada por turistas com passagem comprada rumo a alguma praia paradisíaca, mas a luz solar é fundamental para o sucesso de pesquisas nas mais diversas áreas - da indústria de tintas e cosméticos à nanotecnologia. Para garantir as condições ideais em estudos desse tipo, um grupo de cientistas brasileiros criou o Solsim, aparelho que simula a radiação do Sol com a mesma intensidade de um dia claro.

Primeiro equipamento do tipo criado com tecnologia 100% brasileira, o Solsim tem o tamanho próximo ao de uma geladeira e funciona como uma espécie de forno de micro-ondas avançado, onde os objetos a serem analisados são colocados em um compartimento vedado por uma porta de vidro. Em seu interior, são bombardeados por lâmpadas que simulam a radiação solar (veja arte).

Suas possibilidades de uso são inúmeras. A indústria de tintas, por exemplo, precisa da luz natural para testar a degradação de alguns pigmentos antes que o produto chegue ao consumidor. "Estudos mostram que processos que levariam um ano em condições naturais podem ser reduzidos para um mês. Isso porque a iluminação produzida pelo aparelho consegue acelerar bastante os ensaios", garante Nelson Veissid, responsável pelo Laboratório Associado de Sensores e Materiais do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), parceiro da empresa Orbital Engenharia no desenvolvimento do Solsim.



A máquina tem no baixo custo sua principal vantagem, segundo os envolvidos em sua construção. Ela é 70% mais barata que os modelos vendidos no exterior, além de ter uma manutenção (1)mais simples. O simulador nacional possui ainda uma área de iluminação um pouco maior que a dos concorrentes.

O tamanho é outro ponto positivo do projeto. "Cabe em qualquer espaço do laboratório. Diferentemente de simuladores que necessitam de bases ou outros tipos de modificações, o Solsim já vem pronto para ser usado", afirma o cientista.

Outra utilização possível é na agricultura. O simulador pode ajudar, por exemplo, em estudos de fotossíntese, processo no qual as plantas sintetizam compostos orgânicos a partir da presença de luz, água e gás carbônico. A aplicação do aparelho em testes de produtos dermatológicos também tem aumentado.

"Da mesma forma que a luz natural, a iluminação do simulador pode ser prejudicial à saúde, causando câncer de pele, em casos de exposição prolongada. Por isso, na presença dela, é preciso usar equipamentos de proteção, incluindo óculos de sol", explica o diretor da Orbital, Célio Costa Vaz. Atualmente, a empresa estuda demandas para a fabricação de novas unidades.

Energia
O Instituto de Química da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) foi o primeiro a receber uma unidade do Solsim, em julho passado. Até o fim do ano, deve ser entregue à instituição mais um simulador, que será instalado no Laboratório de Nanotecnologia e Energia Solar.

"O simulador será importante para a realização de testes feitos com pequenos dispositivos e também com placas solares maiores. Muitas dessas placas, que captam a energia do Sol e a transformam em eletricidade, já são encontradas no mercado. Para serem caracterizadas pela potência, tensão e corrente, necessitam que os testes sejam realizados em condições de luminosidade padrão", explica a professora responsável pelo laboratório, Ana Flávia Nogueira.

De acordo com ela, essas placas solares ou módulos, como também são conhecidas no mercado, têm sido usadas para as mais diversas finalidades. "CHoje, além da geração de energia em regiões distantes, são empregadas até para a confecção de bolsas com capacidade de dar carga a aparelhos como celulares e máquinas fotográficas%u201D, exemplifica. Apesar dos benefícios, Ana Flávia reconhece que a tecnologia ainda é bastante cara. "CPorém, se no futuro houver redução desses custos, a energia solar deve ganhar cada vez mais o mercado, pois é limpa e provém de uma fonte barata, o Sol, diz.


Alto custo
O Inpe fazia uso de simuladores solares importados dos Estados Unidos desde 1980, até a criação do modelo brasileiro. Segundo Nelson Veissid, a manutenção dos aparelhos de fora sempre foi cara. Para se ter uma ideia, as lâmpadas chegam a custar até US$ 1 mil.



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