Ciência e Saúde

Cerca de 2% da população mundial sofrem com o vitiligo, um mal marcado pela ausência de pigmentação em partes da pele

Paloma Oliveto
postado em 14/09/2009 09:32
Dermatologista Gilvan Alves faz aplicação de laser em uma paciente: máquina tende a pigmentar áreas afetadasComeçou com uma pequena mancha no joelho. O suficiente para deixar a dona de casa Sílvia Colen, 36 anos, em desespero. Desde que os filhos eram bebês, ela olhava minuciosamente a pele dos dois, à procura de um distúrbio que já conhecia bem: o vitiligo. ;Como tinha casos na família, sempre me preocupei. Quando o Kevyn tinha 9 anos, apareceram as manchas do tamanho de uma maçã pequena. Depois, passaram para a barriga e o cotovelo;, relata.

Embora não seja uma doença, já que não provoca males à saúde, o vitiligo tem várias consequências psicológicas e sociais. Há um grande preconceito em torno do problema, coisa que o pequeno Kevyn sentiu intensamente na escola. ;Tinha gente que nem queria chegar perto dele. Vitiligo não pega, mas as pessoas são muito ignorantes e criança fala o que quer. Dei sorte porque ele não teve no rosto;, conta Sílvia. Por causa dos comentários dos coleguinhas, Kevyn parou de usar short. Fazia educação física de calças. ;Procurei um psicólogo e pedi orientação. Ele me ensinou que não tem como tapar a boca dos outros, mas fazer a criança entender a realidade;, explica a mãe do menino.

Assim como Kevyn, 2% da população mundial sofre com esse tipo de dermatite, que continua sendo um mistério para os médicos. ;Não se sabe o motivo exato. Pode ser que tenha alguma associação com doenças como diabetes e tireoidite de Hashimoto;, diz o dermatologista Ricardo Fenelon. O médico Cesar Cuono, especialista da Sociedade Brasileira de Dermatologia, explica que o vitiligo é um mal autoimune ; o próprio organismo impede a produção de pigmentação por parte dos melanócitos ; e de características genéticas. ;A pessoa já tem a predisposição nos genes, mas não necessariamente vai desenvolver o vitiligo. Assim como, de um dia para o outro, as manchas podem começar a aparecer;, diz.

O médico esclarece que, embora não se saiba por que a dermatite se manifesta, traumas físicos e emocionais agem como gatilho, desencadeando o aparecimento das manchas, que, na realidade, não possuem cor e parecem brancas por causa do contraste com a pigmentação do restante da pele. A alteração também está ligada a [SAIBAMAIS] fatores psicológicos. ;Um trauma emocional pode desencadear ou piorar o estágio;, diz o dermatologista Roberto Azambuja, do Hospital Universitário da UnB.

Para Sílvia Colen, foi o estresse que provocou o aparecimento das manchas em Kevyn. ;Na época, eu perdi o emprego e tivemos uma queda no padrão de vida. Acho que ele ficou afetado com isso;, diz. Da mesma forma, o otimismo do menino, acredita a mãe, foi determinante na melhora. Depois de oito meses de tratamento, quando as manchas se restringiram ao joelho, Kevyn, hoje com 12 anos, voltou a apresentar os sintomas. Um dia, viu um apresentador de televisão falar sobre cura pela fé e resolveu rezar. ;Naquela inocência de criança, ele teve certeza que ia sarar. A partir daí, as manchas diminuíram de novo e hoje ele até já usa bermuda;, comemora Sílvia.

TratamentoKevyn e a mãe, Sílvia: preconceito dos colegas o machucava, mas o menino melhorou e hoje usa até bermuda
Como o vitiligo é uma alteração que se manifesta de formas diferentes em cada pessoa, não existe um único tratamento nem se pode esperar deles 100% de melhora. De acordo com Roberto Azambuja, todos os métodos disponíveis hoje em dia são altamente eficazes. ;Não existe um tratamento melhor, o que vai variar é a receptividade do organismo ao método;, diz.

O dermatologista Cesar Cuono conta que, geralmente, o vitiligo é tratado com corticoides, que combatem o processo inflamatório. Porém, ressalta que, em grandes doses, eles podem provocar alterações cardíacas, aumento da pressão arterial, erupções e estrias. ;Hoje, no lugar da cortisona, podemos usar imunossupressores anti-inflamatórios, desenvolvidos inicialmente para dermatites atópicas;, diz. Já Ricardo Fenelon aposta também em aplicação de raios ultravioletas B de banda estreita, que estimulam a pigmentação da pele e diminuem o bloqueio à produção dos melanócitos.

Fenelon recomenda, para evitar aumentos nas manchas e disseminação do vitiligo, que, na dúvida, o médico opte sempre pelo tratamento. Isso porque, nos estágios iniciais, a alteração pode ser confundida com outros tipos de manchas, atrapalhando o diagnóstico. ;Além disso, é preciso proteger muito a pele com filtro solar e roupas;, diz.

Segundo o dermatologista Gilvan Alves, uma das técnicas mais modernas e que têm apresentado bons resultados é o laser Eximer. ;São necessárias mais ou menos 12 sessões e, depois de três ou quatro meses, a pessoa pode fazer novamente para melhorar o aspecto. A máquina tende a pigmentar novamente a área.; Ele diz que não há contraindicações, e que o laser pode ser usado em qualquer parte do corpo.

"Vitiligo não pega, mas as pessoas são muito ignorantes e criança fala o que quer. Dei sorte porque ele não teve no rosto;
Sílvia Colen, mãe de Kevyn

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