postado em 15/09/2009 08:30
Um robô preparado para identificar odores de gases tóxicos, entorpecentes, explosivos e até pessoas em locais de difícil acesso. Se depender de um estudo desenvolvido por pesquisadores brasileiros e cubanos, essas serão algumas das aplicações de uma plataforma robótica (1) móvel, dotada de narizes eletrônicos previamente treinados para a detecção de substâncias específicas. Fruto de um intercâmbio que terá início até o fim do ano, o projeto busca a construção de um protótipo inédito no país, além da troca de informações e a capacitação de profissionais nos dois países. Enquanto o Brasil dará sua contribuição na área de robótica, Cuba fornecerá conhecimentos sobre interfaces eletrônicas e instrumentação virtual para sensores físicos e químicos.Narizes e línguas eletrônicas programadas para identificar substâncias têm sido amplamente utilizados não só em pesquisas, mas também na indústria, em especial na de alimentos. Porém, segundo a proposta dos cientistas, o desenvolvimento de um robô que sente cheiros é bem mais complexo, pois envolve técnicas de navegação, localização e controle, combinadas com o sensoriamento e a instrumentação. ;O grande diferencial é aplicar os narizes eletrônicos em um protótipo móvel. É preciso muito estudo;, explica o professor titular da Universidade do Vale do Itajaí (Univali) e responsável pelo estudo, Alejandro Ramirez.
Esses sensores devem ser previamente treinados para a identificação de cheiros. A partir daí, é formado um padrão para cada uma dessas substâncias, que ficam armazenadas na memória da máquina. ;É mais ou menos como acontece com o ser humano. Porém, é claro que o nosso cérebro consegue ser treinado numa velocidade maior e com um número infindável de substâncias novas;, explica ele.
A utilização do robô no meio ambiente tem sido uma das propostas mais discutidas pelos cientistas, entre eles, os coordenadores do projeto, os professores da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), Edson de Pieri, e da Universidade de Havana (Cuba), José Antonio Pérez. O projeto terá dois anos para ser concluído. O custeio de atividades correntes para a equipe brasileira será de R$ 10 mil por ano, financiados pela Coordenação de Aperfeiçoamento de Nível Superior (Capes).
Espacial
Para o fundador do Grupo de Automação e Controle em Processos de Fabricação (Graco) da Universidade de Brasília (UnB), Sadek Absi Alfaro, o grande desafio da ciência é colocar uma carcaça de ferro aparentemente sem serventia alguma para ;pensar;. ;Por isso, a necessidade de reunir conhecimentos de mecânica, eletrônica e software;, enfatiza. De acordo com ele, cheiros são agregados químicos possíveis de identificação por meio de sensores que reagem à presença de uma molécula. ;Na França, por exemplo, desenvolveram um robô que analisa a qualidade do vinho. São inúmeras as possibilidades;, destaca.
Em 1996, a Agência Espacial Americana (Nasa) desenvolveu um nariz eletrônico conhecido como Enose com o objetivo de detectar possíveis vazamentos de amônia e outras substâncias tóxicas. Em grandes quantidades, o gás, que é responsável pela manutenção do calor no interior das estações espaciais, pode colocar a vida dos astronautas em risco. Uma das responsáveis pelo projeto, a pesquisadora Amy Ryan, da Nasa, explica que a capacidade de controlar os componentes do ar é importante nos ambientes fechados, como no caso de ônibus espaciais, estações, entre outros.
No último dia 10, a Nasa comunicou o retorno do Enose, depois de seis meses na Estação Espacial Internacional. Segundo Ryan, os testes feitos durante esse tempo não apresentaram maiores problemas. ;O Enose identificou alguns compostos químicos como o metanol, por exemplo, mas todos em níveis aceitáveis;, afirma Amy.
De acordo com ela, o nariz eletrônico pode ser usado com bastante serventia, no futuro, para controle de gases em cabines de veículos em viagens à Lua e outras aplicações potenciais, como indícios de fogo, cheiro de uma mina prestes a explodir, além do monitoramento de vazamentos químicos em áreas de trabalho. A cientista destaca, também, a possibilidade de aplicação desse nariz em diagnósticos médicos.
1 - Trabalho forçado
A palavra robô tem origem na palavra tcheca robota, que significa trabalho forçado. O robô presente no imaginário das pessoas nasceu da ficção, em 1920, apresentado em uma peça do dramaturgo Karel Capec como uma máquina que conseguia realizar atividades da mesma forma que os humanos. Na prática, robô é um dispositivo que realiza trabalho de maneira autônoma, com controle humano total ou parcial. A robótica é a ciência ou estudo da tecnologia associado ao projeto, fabricação, teoria e aplicação dos robôs. Requer conhecimento sobre eletrônica, mecânica e software.