Ciência e Saúde

Brasil começa a desenvolver condições para prever o rigor de tempestades e promover ações de defesa

postado em 16/09/2009 08:00

Belo Horizonte ; Os raios são responsáveis pela morte de cerca de 100 pessoas todos os anos no Brasil, além de causar prejuízos estimados em US$ 200 milhões. Eles causam, com os ventos fortes, 70% dos desligamentos acidentais de transmissão elétrica no país, segundo dados da Companhia Energética de Minas Gerais (Cemig). Para piorar a situação, a intensidade da descarga produzida pelo fenômeno, segundo os especialistas, vem aumentando gradativamente, em grande parte devido ao aquecimento global. As consequências, no entanto, poderiam ser piores se o Brasil não tivesse um evoluído sistema de prevenções de incidentes causados pelos raios. A proteção vem da Rede Integrada Nacional de Detecção de Descargas Atmosféricas (Rindat), um conjunto de sensores e centrais espalhados pelo país e que permitem detectar, em tempo real, as descargas atmosféricas nuvem-solo.

A Rindat, que aos poucos começa a ser mais conhecida por Brasil DAT, foi criada a partir de um convênio de cooperação técnico-científica entre quatro instituições: Cemig, Furnas Centrais Elétricas, Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe) e Sistema Meteorológico do Paraná (Simepar). Juntas, essas instituições compõem o Sistema de Detecção e Localização de Descargas Atmosféricas, que já ocupa a terceira posição no mundo em monitoramento, sendo superado apenas pelas redes dos Estados Unidos e do Canadá.

;Assim que ocorre uma descarga, os sinais são registrados pelos sensores e imediatamente transmitidos às cinco centrais de processamento da Rindat, instaladas em Belo Horizonte, Belém, Curitiba, Rio de Janeiro e São José dos Campos. Nelas, os sinais são processados para se obter a localização e as características dos raios;, explica Osmar Pinto Júnior, coordenador do Grupo de Eletricidade Atmosférica (Elat) do Inpe.

;É sempre importante ressaltar que qualquer sensor instalado no mundo detecta um raio depois que ele ocorre. Não existe qualquer mecanismo que possa prever uma descarga com antecedência;, afirma Ruibran Januário dos Santos, meteorologista e especialista em descargas atmosféricas da Cemig. A empresa, por sinal, é pioneira no Brasil em detecção e rastreamento de raios, tendo iniciado suas pesquisas e trabalhos em 1971. Segundo o meteorologista, o que a tecnologia consegue hoje é estimar ocorrências em um determinado lugar a partir de informações sobre fatos reais daquele momento.

Além do atual trabalho realizado na detecção de descargas nuvem-solo, outro projeto desenvolvido pelo Inpe e por Furnas, no oeste do Paraná, vem apresentando resultados bem satisfatórios: a detecção, por meio de sensores(1) especiais, de manifestações dentro de uma nuvem. Sabe-se que quanto maior é a intensidade de raios no interior de uma nuvem, mais severas serão as tempestades e maiores são as chances de, na área do temporal, um número elevado de descargas atingir o solo. ;Conhecendo o que está ocorrendo dentro de uma nuvem, é possível antecipar, em pelo menos uma hora, os perigos de uma tempestade;, explica o coordenador do Inpe, ressaltando que projetos similares ao brasileiro vêm sendo desenvolvidos pelos Estados Unidos e pela Áustria.

1- Tecnologia avançada
LPATS III, LPATS IV, IMPACT 141-T, IMPACT ES/ESP e LS 7000 são os nomes dos sensores adotados para detectar a radiação gerada pelos raios. As diferenças entre eles resumem-se à forma com que a radiação é detectada, já que alguns captam somente a componente elétrica da radiação e outros, as duas componentes existentes: elétrica e magnética. A série LPATS enquadra-se no primeiro caso, e a IMPACT, que oferece maior precisão, no segundo. Já a LS oferece a tecnologia mais avançada do segmento, sendo responsável pela captação e análise dos raios dentro das nuvens.

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