A solução para a crise energética mundial pode estar, literalmente, no ar. É o que dizem especialistas americanos e chineses responsáveis por um estudo que aponta a energia eólica como uma alternativa viável para suprir toda a necessidade elétrica da China em 2030. Caso isso ocorra, o país mais populoso do mundo e segundo maior poluidor do planeta conseguirá reduzir consideravelmente as emissões de dióxido de carbono (CO2) na atmosfera, um dos responsáveis pelo agravamento do efeito estufa. O problema, aponta o estudo, está no custo de implementação, maior entrave para uma disseminação mais ampla da energia eólica. O investimento total para a substituição das usinas chinesas movidas a carvão seria de US$ 4,6 trilhões, em 20 anos.
Antes de chegar a essa conclusão, os cientistas tiveram acesso a diversos dados meteorológicos, além de analisar a atual regulamentação da China sobre a distribuição de eletricidade. ;É preciso encontrar soluções para as emissões de carbono, antes que seja tarde;, afirma o estudo, divulgado pela revista especializada Science e assinado por quatro pesquisadores, entre eles o professor de ciência do meio ambiente da Universidade de Harvard Michael McElroy.
O Brasil não se destaca no cenário internacional como um grande investidor na energia eólica, mas já deu os primeiros passos. Hoje, 27% da energia consumida nacionalmente provêm dos ventos, uma das melhores alternativas do ponto de vista ambiental. Grande parte da eletricidade gerada no país é proveniente de usinas hidrelétricas. O sistema é composto por uma turbina hidráulica e usa a força das águas para transformá-la em energia mecânica e elétrica.
Complementar De acordo com o diretor da Eletrosul Centrais Elétricas, Ronaldo Custódio, 46% da matriz energética do Brasil é renovável, enquanto a média mundial é de 13%. ;Por esse motivo, as pressões pela implementação aqui de fontes alternativas como a eólica são bem menores do ponto de vista ambiental;, diz, lembrando que a dependência dos ventos é a grande desvantagem da energia eólica. ;Ela não pode ser adotada como única fonte, mas sim complementar;, afirma Custódio, também autor do livro Energia eólica para produção de energia elétrica (Eletrobrás), lançado recentemente.
No mundo, países como Alemanha e Dinamarca fizeram altos investimentos na energia eólica. No Brasil, o governo federal mantém o Programa de Incentivo às Fontes Alternativas de Energia Elétrica (Proinfa). ;A medida é necessária para estimular a competição de mercado. Os investimentos são maiores e, como toda tecnologia nova, há perspectiva de redução de custos no futuro;, diz Custódio, lembrando que, em novembro, o Ministério de Minas e Energia (MME) realizará o primeiro leilão de energia eólica do país. Segundo a Empresa de Pesquisa Energética (EPE), foram cadastrados 441 projetos, que somam capacidade instalada de 13.341mw. Os parques eólicos que pretendem participar do leilão abrangem 11 estados, em três regiões.
Rio Grande do Norte, Ceará e Piauí são estados que, segundo o MME, já apresentam bons resultados relacionados à produção de energia ambientalmente correta. O Rio Grande do Sul também tem se destacado. Prova disso é o Parque Eólico de Osório, o maior da América Latina, que entrou em operação comercial no início de 2007. Hoje, o projeto implementado pela empresa Ventos do Sul Energia possui 75 aerogeradores e capacidade de produção anual de 425 milhões de kw/h ; o suficiente para abastecer o consumo residencial de 750 mil pessoas, metade da população de Porto Alegre (RS).
De acordo com a empresa, no ano passado, o parque conseguiu evitar a emissão de 151 mil toneladas de CO2 na atmosfera. ;Ao gerar uma energia limpa, por meio do vento, evitamos também o consumo anual de 36,5 mil toneladas de petróleo e de 41.250.000m; de gás natural, colocando o Brasil em sintonia com as nações mais comprometidas com o desenvolvimento sustentável;, afirma, por meio de nota.
Ouça entrevista com o diretor da Eletrosul Centrais Elétricas, Ronaldo Custódio