Ciência e Saúde

Terapia genética utilizada em macacos nos EUA dá esperanças a quem sofre de daltonismo

Embora normalmente de origem genética, a dificuldade para ter correta percepção das cores pode ser adquirida como consequência do envelhecimento e de uma série de doenças

postado em 23/09/2009 12:02

Um estudo inédito, divulgado há poucos dias, animou oftalmologistas e trouxe esperança àqueles que sofrem de distorções na percepção das cores, doença popularmente conhecida como daltonismo (leia quadro). Cientistas de duas universidades norte-americanas ; Washington e Flórida ; usaram terapia genética para tratar macacos-esquilos (Saimiri sciureus) que sofriam do problema. A pesquisa, realizada com machos dessa espécie que enxergam somente em preto e branco, é resultado de um trabalho de oito anos e parece promissora (leia entrevista). Testes físicos e comportamentais provaram que os animais ficaram curados da deficiência e passaram a distinguir objetos coloridos.

Sócios de uma fábrica de móveis planejados, Luciano (E) e Lauro já sofreram ao lidar com clientesO daltonismo é o distúrbio genético mais comum em humanos. As pessoas que sofrem do problema não conseguem diferenciar algumas cores, principalmente o verde e o vermelho. Não existem estudos epidemiológicos que comprovem a incidência da perturbação visual no Brasil. No entanto, especialistas sugerem que cerca de 10% da população masculina e 0,5% da feminina sofram do mal.

O oftalmologista Mário Pacini Neto explica que a disfunção é decorrente de uma deficiência nos cones, células do olho responsáveis pela percepção da cores. ;O olho deve ser entendido como uma extensão do sistema nervoso central. Ele capta a imagem e a transmite ao nervo óptico, para que ela seja processada no cérebro. Os daltônicos têm limitação em relação as cores, mas enxergam normalmente, porque essa deficiência não é funcional. A interpretação do cérebro, no caso deles, é de ausência de cor;, explica.

Especialistas garantem que a doença não é incapacitante e que ela apenas restringe algumas atividades. ;A deuteranomalia, tipo mais comum de daltonismo, provoca confusão entre o verde e o vermelho. Mas alguns daltônicos não conseguem diferenciar as variações de cores, tonalidades parecidas, como azul e roxo, bordô e marrom. Outros, com o tipo mais raro dessa disfunção, enxergam somente em preto e branco;, observa Oswaldo Brasil, oftalmologista retinólogo do Instituto Brasileiro de Oftalmologia, no Rio. Segundo ele, não há motivos para preocupação. Se o daltônico não exercer atividades muito específicas, que necessitem diferenciar as cores, pode ter uma vida perfeitamente normal.

A má percepção de cores também pode comprometer a visão de pessoas que não nasceram daltônicas. ;O problema pode ser adquirido em diabéticos, pessoas que tiveram neurite óptica ou doenças que afetam a mácula, que é a área central da retina. A degeneração macular relacionada ao envelhecimento também pode comprometer a diferenciação das cores;, explica Brasil. Para ele, a terapia genética provavelmente poderá ser usada para tratar outros problemas de visão também. ;Ainda é cedo para afirmarmos quando essa terapia poderá ser usada em homens, mulheres e crianças. Esperamos que, em breve, ela traga resultados positivos também para os humanos. Atualmente, existem lentes e óculos com filtros que ajudam daltônicos a distinguirem as cores;, acrescenta.

Descoberta tardia
A maioria dos daltônicos descobre a doença somente na fase adulta. Foi assim com o empresário Luciano Salvador, 33 anos, diagnosticado no dia do exame específico para tirar a carteira de motorista. ;Eu não acreditava, fiquei perplexo. Depois, porém, foi um alívio. Entendi minha dificuldade, as confusões que fazia desde criança em relação às cores. Hoje, estou adaptado a essa limitação. É claro que passamos por situações engraçadas. Não posso ir comprar roupas sozinho, dar presente para minha esposa é sempre problemático. Calças, camisas e meias precisam estar bem separadas no armário;, conta.

Lauro Salvador, 26 anos, um dos irmãos mais novos de Luciano, também é daltônico. O tipo de daltonismo dos dois é o tricromático. A dupla enxerga bem as cores primárias ; a dificuldade é a identificação dos tons que derivam delas. Sócios de uma fábrica de móveis planejados, os dois trabalham diretamente com arquitetos e decoradores. ;Já tive algumas saias justas com clientes, mas nada que não possa ser contornável. Semana passada, comentei com uma delas sobre a uma porta de armário marrom. Na verdade, era vermelha. Lembro que, na infância, as professoras sempre perguntavam porque eu pintava o caule de verde e as folhas de marrom;, diz Lauro. ;Em casa, eu e o Luciano sempre escovávamos os dentes com a escova dos outros irmãos, pois não conseguíamos diferenciar. Com roupa é realmente mais problemático. Nunca vou comprar sozinho, preciso de uma companhia feminina para ajudar;, brinca.

Ouça entrevista com o médico Mário Pacini Neto sobre daltonismo

Embora normalmente de origem genética, a dificuldade para ter correta percepção das cores pode ser adquirida como consequência do envelhecimento e de uma série de doenças

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