Ciência e Saúde

Em busca de independência

A chegada da idade adulta traz em muitos jovens a vontade de morar sozinhos. Diálogo com os pais é fundamental para que o filho tome a decisão correta e se torne uma pessoa responsável

postado em 29/09/2009 07:00

Elio Rizzo/Esp.CB/D.A Press 
 
O período de quatro meses trabalhando nos Estados Unidos ajudou Natanael a amadurecerO fim da adolescência é um período bastante complexo, tanto para os jovens, que se veem diante de novos desafios e responsabilidades, quanto para os pais, que têm dificuldades para julgar o momento certo de incentivar ou limitar a independência dos filhos. No entanto, especialistas garantem que, com diálogo e bom senso, é possível transformar essa fase, muitas vezes traumática, em um período rico de aprendizado e crescimento pessoal.

Para o hebiatra (1)Maurício de Souza Lima, secretário do Departamento de Adolescência da Sociedade de Pediatria de São Paulo, o primeiro passo na busca pela independência é se mostrar maduro e responsável. ;Se um jovem quer ser tratado como adulto, ele precisa demonstrar que tem maturidade. Não dá para agir de maneira irresponsável e depois querer receber uma tratamento diferente;, conta o médico, autor do livro Filhos crescidos, pais enlouquecidos (Landscape).

Albert saiu da casa dos pais, em Luziânia, para estudar na UnB: %u201CVocê não tem mais a mãe passando a mão na sua cabeça, te dando apoio o tempo todo%u201DLima explica que os pais devem dar oportunidades para que os filhos mostrem que cresceram e, a partir daí, avaliar se eles têm condições de viver sozinhos ou começar a chegar em casa mais tarde, por exemplo. ;Se você marca um horário para o adolescente estar em casa e ele o desrespeita, é difícil imaginar que ele esteja preparado para situações mais complexas, como viajar desacompanhado;, cita.

O estudante Albert Domingo Carneiro, 21 anos, vive hoje o desafio de andar com os próprios pés. Ele passou um semestre percorrendo o caminho entre a casa da família, em Luziânia (GO), e a Universidade de Brasília (UnB), onde estuda. ;Era muito cansativo e caro, eu tinha de acordar de madrugada e só voltava para casa à noite. Foi aí que eu decidi procurar uma maneira de morar mais próximo da universidade;, conta o aluno de artes cênicas.

Para se adaptar à vida na Casa do Estudante Universitário, na própria UnB, Albert teve de aprender a viver sem o apoio direto e constante da família. ;Você não tem mais a mãe passando a mão na sua cabeça, te dando apoio o tempo todo. Os amigos ajudam muito, mas nunca é a mesma coisa;, explica. Para ele, quando os problemas começam a aparecer, é preciso determinação. ;Nessas horas, a gente tem de botar na cabeça o que quer e ter persistência. Acho que é muito pior ceder e desistir da independência.;

Para a psicóloga da Associação Brasileira da Adolescência, Fabiana Luckemeyer, os pais devem assumir o papel de orientadores nesse processo de amadurecimento. ;Em vez de ficar dando muitos palpites, os pais devem mostrar que todas as atitudes trazem consequências. O erro também é importante para o amadurecimento. Muitas vezes, é melhor fazer errado e arcar com as consequências. Há momentos em que tomar atitudes erradas ajuda o jovem a crescer;, completa.

Ela aponta o diálogo como o principal caminho para o entendimento. ;É difícil falar sobre drogas ou sexualidade com seu filho se você nem sequer consegue conversar sobre a música favorita dele. O diálogo é fruto de uma boa relação, que deve ser cultivada desde sempre.; Fabiana lembra também que os pais precisam assumir seus papéis. ;O pai não é o melhor amigo. Ele pode ser um pai-amigo, mas não pode abrir mão de sua autoridade;, completa.

Temporada
Uma boa saída para os jovens que procuram amadurecimento, mas não querem sair definitivamente de casa, são as viagens para trabalhar. Conhecidas como work experience, esses programas são a oportunidade de viajar para o exterior, morar sozinho e ter um emprego por três a quatro meses. A distância da família acaba incentivando a independência, pois, em outro país, dificilmente os pais podem proteger ou ajudar.

Foi essa a opção do estudante de ciência política Natanael Lopes, 22 anos. No ano passado, ele passou uma temporada de quatro meses nos Estados Unidos. Lá, fez de tudo um pouco. Foi caixa de lanchonete, salva-vidas em parque aquático e faxineiro. ;Fui com muita disposição. Houve semanas em que eu cheguei a trabalhar 100 horas. Foi uma boa oportunidade para crescer, melhorar o inglês e, é claro, juntar dinheiro;, conta.

Mais do que a língua estrangeira, Natanael viu no programa uma possibilidade de adquirir maturidade e experiência de vida. ;Acho que cresci muito como pessoa. Tinha de me preocupar com as compras de supermercado, com o aluguel, com a roupa limpa. Nessas horas, a gente aprende a valorizar esses detalhes;, conta o jovem. ;Hoje, vejo de maneira diferente quem me atende na lanchonete ou limpa os lugares que frequento. Estive no lugar deles e vi como é um trabalho difícil;, completa.

A experiência contou pontos quando o estudante voltou ao Brasil. No processo seletivo para uma vaga na Organização Internacional do Trabalho (OIT), órgão ligado às Nações Unidas, a viagem influenciou na escolha de Natanael para a vaga. ;Era um processo concorrido, minha experiência pesou na decisão final. Viram que eu era persistente e tinha disposição, características que eles estavam procurando;, explica o rapaz.

Para o analista de sistemas Vinícius de Oliveira, a aventura de viver longe da família começou cedo. Aos 19 anos, ele precisou sair da casa dos pais para estudar em Jaú (SP). As experiências vividas pelo jovem foram parar em uma comunidade virtual. ;Eu não divulguei para ninguém, eu só postava lá o que ia acontecendo, era uma espécie de diário virtual;, conta Vinícius. A comunidade fez tanto sucesso que, quando ele deixou de atualizá-la, recebeu diversos e-mails de pessoas que acompanhavam o seu dia a dia.

Foi então que Vinícius criou um site com dicas úteis para quem vai morar sozinho. No endereço www.morandosozinho.net, é possível encontrar de tudo um pouco: receitas fáceis e rápidas, dicas de como acordar cedo, limpeza doméstica e finanças pessoais. ;Quando eu saí de casa, tive de me virar para aprender uma série de coisas, e acho que o site pode ser útil para que outras pessoas não tenham os mesmos problemas que eu;, conta o rapaz.

Economia
O fim da adolescência, porém, não significa que a pessoa deva sair da casa dos pais apenas para provar que já é adulta. Continuar morando com a família pode ter suas vantagens. Jovens que trabalham e vivem com os pais podem juntar dinheiro ou investir em viagens ou cursos de qualificação profissional.

Foi essa a opção da estudante de publicidade Sharmaine Caixeta, 21 anos. Como não precisa se preocupar com o aluguel ou as compras de supermercado, ela decidiu economizar para realizar um de seus maiores desejos: viajar para o exterior. Durante dois anos, trabalhou como digitadora para financiar os 10 dias em Buenos Aires com amigos. ;Normalmente, meus pais não me deixariam viajar assim, mas como eu guardei todo o dinheiro e planejei tudo sozinha, eles perceberam que eu estava preparada para ir;, conta a jovem.

Depois da viagem, Sharmaine percebeu que pode ir mais longe. Agora, se prepara para viajar a Londres, desta vez sem data para voltar. ;Meu pai vai me ajudar com as passagens, mas quando eu chegar lá é por minha conta.; Se depender de determinação, a viagem da jovem tem tudo para dar certo. ;Eu estou indo para aprender, então estou disposta a ralar muito;, completa.


Especialização
Hebiatria é uma área da medicina ligada à pediatria e especializada na adolescência. O nome vem de Hebe, deusa grega da juventude. Segundo a Organização Mundial de Saúde (OMS), a adolescência é faixa compreendida entre os 10 e 20 anos de idade, que marca a transição da infância para a fase adulta.


Dicas para quem quer morar sozinho

<--[if gte mso 9]> Normal 0 MicrosoftInternetExplorer4 <[endif]--> <-- /* Style Definitions */ p.MsoNormal, li.MsoNormal, div.MsoNormal {mso-style-parent:""; margin:0in; margin-bottom:.0001pt; mso-pagination:widow-orphan; font-size:10.0pt; font-family:"Times New Roman"; mso-fareast-font-family:"Times New Roman"; mso-ansi-language:PT-BR;} p.MsoBodyText, li.MsoBodyText, div.MsoBodyText {margin:0in; margin-bottom:.0001pt; mso-pagination:widow-orphan; font-size:12.0pt; font-family:Arial; mso-fareast-font-family:"Times New Roman"; mso-ansi-language:PT-BR;} @page Section1 {size:8.5in 11.0in; margin:70.85pt 85.05pt 70.85pt 85.05pt; mso-header-margin:.5in; mso-footer-margin:.5in; mso-paper-source:0;} div.Section1 {page:Section1;} --> <--[if gte mso 10]> <[endif]-->1 ; Planeje: o planejamento é essencial para tudo, especialmente no início, quando não se tem muita experiência. Programe com antecedência coisas como quanto vai gastar até que horário estará reservado para cumprir atividades como limpeza e compras de supermercado.



2 ; Aprenda: tente aprender a cozinhar pelo menos o básico ou lavar suas próprias roupas, mesmo que pretenda comer sempre na rua, ou mandar suas roupas para lavanderia. Quando precisar, não dependerá tanto dos outros.



3 ; Cuide do seu dinheiro: Quando se vive com os pais, as necessidades básicas estão garantidas, mesmo quando o dinheiro acaba antes do fim do mês. Morando sozinho isso não acontece, lembre-se que é preciso fazer seus recursos durarem até o próximo mês.



4 ; Tenha responsabilidade: Não dá querer independência quando se recorre aos pais para resolver tudo. Crie rotinas no que diz respeito ao pagamento de contas, e limpeza para evitar surpresas como chegar em casa e encontrar a luz cortada, ou a casa bagunçada.



5 ; Pense bem antes de se mudar: Antes de sair da casa dos pais, tenha certeza que terá dinheiro e disposição para arcar com a vida só. Leve em consideração também questões como a solidão e conforto ao decidir se mudar.



6 ; Mantenha os pés no chão: Lembre-se que morar sozinho não é a mesma coisa que passar as férias longe da família. Pense que depois de algumas semanas os problemas vão começar a pesar, reflita se você está preparado e tem disposição para lidar com eles.



7 ; Fique atento à horários: Você não terá ninguém para te acordar pela manhã, ou te lembrar de seus compromissos. Manter um despertador e uma agenda pode ser útil para não deixar nenhum compromisso de lado.



8 ; Se informe: Muitos problemas você só saberá que existem quando baterem à sua porta. Compartilhe experiências e se informe com quem está na mesma situação que você. Essa é a melhor forma de lidar melhor com os contratempos cotidianos.



9 ; Respeite o lugar onde você mora: Por mais simples ou pequeno que seja, ele é o seu lar. Também deixe claro para seus amigos, que por mais que seja mais descontraído que a sua casa anterior ele deve ser respeitado. Do contrário problemas de convivência podem surgir.



10 ; Mantenha contato: Lembre-se, você está vivendo em outra casa, mas pode sempre contar com sua família. Quando o problema for muito complicado não tenha vergonha de ligar e pedir ajuda. Tenha em mente que seus pais já passaram por isso.

Tags

Os comentários não representam a opinião do jornal e são de responsabilidade do autor. As mensagens estão sujeitas a moderação prévia antes da publicação