Ciência e Saúde

Resultados iniciais de missão da Nasa confirmam a existência de significativa quantidade de H2O em Marte

postado em 31/10/2009 08:00
Esqueça a expressão Planeta Vermelho. Nos próximos anos, Marte tem grandes chances de perder o título de terra do fogo para ser chamado de imensidão azul. O último projeto da Agência Espacial Americana (Nasa) para estudar o vizinho da Terra, a missão Phoenix Mars, conseguiu comprovar não só a existência de blocos de gelo e sais minerais no solo, como identificar mudanças climáticas no meio ambiente marciano ; que incluem até chuva de neve. Agora, os pesquisadores começaram a entender e a medir a abundância da água em Marte. O próximo passo é procurar alguma forma de vida e trazer amostras de rochas para a Terra.

Quando a sonda Phoenix pousou no solo do planeta em 25 de maio de 2008, tudo mudou. O equipamento confirmou a existência de gelo logo abaixo da superfície do Ártico marciano, o que já tinha sido visto em observações orbitais. A nave também identificou a presença de sais no solo e encontrou uma terra alcalina com um nível de pH mediano. ;Descobrimos duas coisas que realmente nos surpreendeu. A primeira foi a presença de perclorato no solo e a segunda, poder observar neve caindo na baixa atmosfera;, contou ao Correio Leslie Tamppari, uma das cientistas que desenvolveu e trabalha no projeto.

A Phoenix perfurou a superfície em até 2,35m e extraiu amostras. Dentro da sonda espacial, existia um laboratório com oito fornos pequenos para esquentar a água e a terra e verificar se havia moléculas orgânicas. Foram identificados carbonato de cálcio, perclorato, água, magnésio, sódio e potássio. Os testes no microscópio mostraram também que essas partículas eram magnetizadas.

A identificação das mudanças climáticas em Marte foi possível graças à descoberta desses componentes, como a concentração de carbonato de cálcio, que resulta da condição mais quente do meio ambiente do que o clima que o local apresentava. ;Isso indica uma formação no passado de uma interação do dióxido de carbono na atmosfera com partículas de água. Esses ciclos climáticos surgem porque o grau de rotação do eixo de Marte se inclina(na direção ou longe do Sol) mais acentuadamente que o da Terra. A variação leva a mudanças na quantidade de energia que alcança diferentes latitudes do planeta;, explica Leslie.

No ano passado, a Phoenix encontrou dois tipos de gelo, um bem cristalino e outro misturado à terra, o que pode indicar diferentes métodos de estocagem. De acordo com os cientistas, o gelo com barro provavelmente foi formado por esse vapor que vai para a atmosfera e se mistura com os grãos do solo. A formação do gelo cristalino, no entanto, ainda não foi explicada e continua a ser estudada. Alguns especialistas acreditam na possibilidade de que ele seja o resultado de um derretimento parcial e o resfriamento de finas camadas de água de depósitos onde o gelo está misturado com a água. Por isso, esse gelo teria uma maior quantidade de sal. Outra possibilidade é que seja alguma forma de neve ou geada enterrada.

Mas qual a quantidade de água existente em Marte? A estimativa é que o volume de água nas camadas do polo norte do planeta seja superior a 800 mil quilômetros cúbicos, o equivalente a um terço do lençol de gelo da Groenlândia. Grande parte da água marciana está no gelo polar ou abaixo da superfície, mas, a cada verão, no extremo norte, parte dessa água evapora na atmosfera. Com isso, é possível observar o ciclo climático do planeta. ;Nós podemos medir essas quantidades de vapor e verificar para onde a água vai até ser condensada no outono e no inverno.;

Espera
Um assunto que permanece um mistério para os exploradores de Marte é a possibilidade de encontrar algum tipo de vida no planeta. Para Leslie, essa resposta ainda deve demorar. ;Precisamos procurar em outros ambientes do planeta para afirmarmos se há vida no presente ou se existiu no passado. Uma das formas de investigação é trazer de volta para a Terra amostras de rochas e do solo para serem examinadas;, explica a cientista.

A sonda Phoenix ficou em operação durante quase cinco meses, 60% a mais de tempo do que o esperado pelos projetistas. A nave era abastecida de energia solar e, no fim do verão do extremo norte marciano, a energia foi acabando até a máquina parar de funcionar, em novembro de 2008. Quando o sol voltar a brilhar perto da Phoenix, no primeiro semestre de 2010, a Nasa vai tentar reativar a sonda e continuar a missão. ;Nós não a desenhamos para sobreviver ao inverno ártico de Marte, as chances são pequenas, mas quem sabe?;, ressalta Leslie.

; Para saber mais
Sonda de US$ 457 mi


Foi uma longa viagem até a Phoenix chegar a Marte. Foram 10 meses para percorrer 679 milhões de quilômetros e chegar ao planeta em 25 de maio de 2008. O governo americano investiu US$ 420 milhões e a Agência Espacial do Canadá participou com US$ 37 milhões. Apenas cinco de 11 aeronaves americanas conseguiram chegar até Marte.

A sonda funcionava com a energia solar e colhia amostras do com um braço mecânico que tinha uma capacidade de perfuração de até 2,35m. Fazia testes em um minilaboratório e enviava as informações para a Nasa. O equipamento também fotografou neve e conseguiu identificar as mudanças no clima do planeta.

A Phoenix também possui um pequeno aparelho de DVD com dois discos. O primeiro tem uma lista com os nomes de 250 mil pessoas, de 70 países, enviados à Nasa pela internet. O outro disco é chamado de Visões de Marte, armazenando seções de literatura, arte e música relacionadas ao planeta.

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