Ciência e Saúde

Cientistas descobrem método para transformar células-tronco embrionárias em estruturas precursoras de óvulos e espermatozoides

postado em 31/10/2009 08:20
O choro estridente e o sorriso efêmero de um recém-nascido são sonhos para milhares de pessoas impossibilitadas de ter um filho. Os avanços da medicina começam a aproximar o desejo da realidade. A mais recente façanha partiu da renomada Universidade de Stanford, na Califórnia, onde cientistas conseguiram transformar células-tronco embrionárias ; derivadas de embriões descartados na fertilização in vitro ; em células precursoras de óvulos e espermatozoides humanos. ;As descobertas e o protocolo que usamos vão melhorar nossa compreensão dos mecanismos básicos das células germinativas humanas (estruturas responsáveis pela formação dos gametas), e, eventualmente, ajudar pacientes com graves problemas de infertilidade, incluindo aqueles com câncer de próstata pediátrico ou síndrome de Sertoli;, afirmou ao Correio o malaio Kehkooi Kee, especialista do Instituto para Célula-Tronco e Medicina Regenerativa da Faculdade de Medicina de Stanford.

;Nós diferenciamos células-tronco em células germinais primordiais, adicionando fatores de crescimento ou induzindo-as ao espermátide (estágio imaturo do espermatozoide), por meio da produção de proteínas;, explicou Kee, autor do estudo publicado na edição da última quarta-feira da revista científica Nature. O revolucionário método focou-se em uma pesquisa realizada em meados da década de 1990 pela cientista Renee Reijo Pera, diretora do Centro para Pesquisas com Células-Tronco Embrionárias Humanas e Educação de Stanford. Na época, Renee identificou genes envolvidos na infertilidade masculina, pertencentes à família DAZ.

Os especialistas trataram células-tronco embrionárias com proteínas que estimulam a formação de células germinais e isolaram aquelas que começaram a produzir genes específicos ; apenas 5% do total. ;Nós usamos um gene vetor que pode ser ativado para produzir proteínas fluorescentes verdes. Essas proteínas nos ajudam a identificar e a isolar a célula germinal precursora. Quando as células-tronco são induzidas a se tornarem germinais, as proteínas fluorescentes emitem um sinal. Isso é importante para separarmos apenas a população celular que necessitamos;, comentou Kee. Antes desse estágio, os cientistas cultivaram as células-tronco em laboratório durante duas semanas.

O próximo passo foi usar uma técnica chamada silenciamento do RNA, para examinar como o bloqueio de produção de cada um dos genes da família DAZ nas células-tronco embrionárias afetou o desenvolvimento da célula germinal. ;Descobrimos que os genes DAZL, DAZ e BOULE têm envolvimento nesse fenômeno. É a primeira vez que determinamos as funções desses genes. As proteínas liberadas por eles são usadas para induzir as células-tronco humanas a se tornarem células germinais maduras em nosso protocolo;, celebrou Kee. A superprodução das três proteínas juntas por meio de seus genes homônimos permitiu a criação de células haploides ; com uma única cópia de cada cromossomo ;, que liberaram proteínas encontradas no espermatozoide maduro.

Busca de segurança
;Examinamos as células precursoras e percebemos que elas têm características similares, mas não são completamente idênticas aos óvulos e espermatozoides maduros;, observou Kee. Segundo ele, a pesquisa obteve melhores resultados com as células germinais masculinas. ;Elas têm perfil idêntico aos espermátides, e pudemos obter centenas dessas células germinais em um único experimento;, acrescentou. O autor do estudo acredita que o tratamento clínico não estará disponível até a realização de mais pesquisas sobre células germinais diferenciadas e a análise de todo aspecto relacionado à segurança.

Os pesquisadores agora pretendem adaptar a técnica para melhorar a produção de óvulos a partir das células-tronco embrionárias, enquanto investigam se as células pluripotentes induzidas (iPS, pela sigla em inglês) também possuem o potencial de criar células germinais. A intenção é identificar potenciais problemas que levariam à infertilidade ou à incapacidade de o feto se desenvolver. ;Ainda que a maior parte de nossos defeitos de nascença seja causada por problemas no desenvolvimento dos óvulos ou dos espermatozoides, não está claro por que existem tantos erros. Nossa pesquisa nos oferece um sistema que podemos usar para comparar os erros nas linhagens das células germinais e das células somáticas. Por exemplo, agora podemos começar a investigar diretamente os efeitos de toxinas presentes no meio ambiente na diferenciação das células germinais e do desenvolvimento dos gametas;, explicou Renee.

; Descansar aumenta chances de gravidez

Um estudo que acaba de ser publicado no British Medical Journal afirma que mulheres em tratamento de fertilidade podem ter mais chances de ficar grávidas se ficarem deitadas por 15 minutos depois dos procedimentos de inseminação. Segundo o site da rede britânica BBC, os pesquisadores, liderados por Inge Custers, do Centro Médico Acadêmico de Amsterdã, constaram que 27% das pacientes que descansaram engravidaram, um índice quase 60% superior aos 17% daquelas que imediatamente depois do tratamento se levantaram e saíram da clínica. O texto afirma que deitar e colocar os pés para cima evita o ;vazamento; do esperma. A pesquisa foi feita com 390 casais.

;Embora a imobilização leve mais tempo e ocupe mais espaço, a intervenção se torna econômica a longo prazo, na medida em que as mulheres que engravidam não precisam retornar para novos ciclos (de inseminação);, afirmou a médica. Segundo a BBC, os pesquisadores não esperavam os resultados, porque outros estudos ;mostraram que o espermatozoide alcança o óvulo em cerca de dois minutos;.

Em um artigo publicado com o texto da equipe de Clusters, o professor William Ledger, da Universidade de Sheffield, afirmou que a descoberta é ;promissora;, mas fez a ressalva de que as taxas de gravidez mostradas no estudo são menores do que as obtidas em vários centros de fertilização que não usam a técnica de ;imobilização;.

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