Paloma Oliveto
postado em 05/11/2009 07:50
Sexo frágil? Nem mesmo em tempos de guerra. Um estudo da Yale University School of Medicine e da Connecticut Healhcare System mostrou que as veteranas dos conflitos armados no Iraque e no Afeganistão sentem menos dores que seus colegas do sexo masculino depois de voltarem para casa. Aproximadamente 60% de todos os soldados provenientes das operações Iraque Livre e Liberdade Duradoura relataram dores durante o período do estudo. Entre as mulheres, porém, o percentual foi menor.A pesquisa, publicada na edição deste mês da revista Pain Medicine, investigou a prevalência de dores totais, moderadas a severas e persistentes entre veteranos e veteranas que foram dispensados das operações entre outubro de 2001 e novembro de 2007. Foram examinados 153.212 soldados, sendo 18.481 mulheres e 134.731 homens, que passaram um ano sob observação depois do último ano em combate. Dos que relataram dores, 43,3% não especificaram onde e qual o nível, 63,2% afirmaram senti-las de forma moderada a severa e 20% relataram que as dores eram persistentes.
De acordo com o estudo, enquanto 44% dos homens disseram que sentiam algum tipo de dor, o índice, entre as veteranas, foi de 38,1%. Elas tendem a sentir mais incômodos severos a moderados que os colegas (68% contra 62,6%), mas, em relação às dores persistentes, que duram mais de três meses, as mulheres foram menos afetadas: 18% relataram o problema, contra 21,2% dos homens. ;Ficamos surpresos pela baixa prevalência de dor entre as mulheres veteranas, pois é um resultado contrário a estudos conduzidos entre a população civil;, observa Sally Haskell, principal autora do estudo.
As pesquisas anteriores feitas com civis mostram que as mulheres são mais propensas a sofrer de síndromes dolorosas, como enxaqueca, dor facial, abdominal e fibromialgia. Elas também costumam ter dores mais longas e persistentes que os homens. Uma das hipóteses do grupo de cientistas que publicou o artigo na Pain Medicine é que as veteranas estiveram menos expostas a situações de risco, como traumatismos e perda de membros, do que os homens, já que não estavam no campo de batalha.
Porém, ainda que não tenham servido diretamente nos combates, elas também desempenharam papéis de risco e passaram pelos mesmos treinamentos que os soldados do sexo masculino. Por isso, os pesquisadores acreditam que as mulheres podem ser mais relutantes do que os homens em procurar tratamentos para veteranos de guerra, daí o menor percentual de relatos sobre dores. Além disso, estudos anteriores mostraram que elas enfrentam mais dificuldades para conseguir ser atendidas nos programas de saúde destinado aos soldados. ;É preciso desenvolver serviços voltados para veteranas com dores crônicas e oferecer treinamento específico para os profissionais que trabalharem com elas;, reconhece um dos coautores do estudo, Robert Kerns.
No ano passado, o Departamento de Defesa norte-americano totalizou 1,4 milhão de militares na ativa, sendo que 300.337 eram mulheres. O número de pessoas do sexo feminino nas Forças Armadas tende a aumentar e, por isso, Sally Haskell também defende, no artigo, que sejam providenciados serviços de saúde especificamente para o sexo feminino.