postado em 06/11/2009 08:05
Considere-se uma pessoa de sorte caso você nunca tenha sido surpreendido pela lombalgia, a desagradável e popular dor nas costas. O problema, de acordo com especialistas, é a segunda maior causa de consultas médicas no país, ficando atrás apenas da cefaleia (dor de cabeça). Nos países desenvolvidos e no Brasil, o mal se impõe como o principal motivo de incapacidade para o trabalho e compromete a qualidade de vida de grande parte da população.O neurocirurgião Luís Claudio Modesto assegura que a lombalgia faz parte da vida do ser humano. Mais de 80% das pessoas com 60 anos ou mais sofrem com o problema. Na faixa etária dos 40, a incidência é de 40%. O médico observa que cada sociedade encara a síndrome de uma forma. Em tribos africanas, o indivíduo só pode fazer parte do conselho de anciões se tiver lombalgia. ;Nas décadas de 1980 e 1990, a Inglaterra passou por problemas econômicos em decorrência do grande número de afastamentos e aposentadorias precoces provocados por dores lombares. Já na Arábia Saudida, ter lombalgia faz parte de estar vivo. Eles jamais deixam de trabalhar por conta dessa manifestação;, aponta.
A dor na região lombar pode se apresentar de duas formas. Na aguda, é ocasional, de moderada a intensa e dura cerca de duas semanas. Na crônica, o incômodo atinge a vítima com frequência, sendo quase diário. Estudos sugerem que cerca de 90% dos pacientes desenvolvem o mal por conta do uso excessivo das estruturas dorsais. A dor é resultante de entorses e distensões, de deformidades da estrutura anatômica ou de acidentes. ;Os outros 10% dos adultos apresentam dorsalgia por causa de doenças degenerativas, inflamatórias, infecciosas ou tumorais. É importante levantar os fatores que levam à dor e analisar a percepção e relato dessa sensação pelo paciente, além do grau de disfunção e incapacidade;, explica o médico fisiatra Moacir Silva Neto.
Barrigas e abusos
A lombalgia também pode ser causada por esforços repetitivos, condicionamento físico inadequado e erros posturais. Profissionais que passam muito tempo sentados, como costureiras e motoristas, correm mais risco de serem acometidos pelo problema ainda jovens. Os sedentários, principalmente aqueles com gordura na região abdominal, a famosa barriga, são sérios candidatos. ;A dor lombar aguda é conhecida entre os médicos como lombago, e pode ser terrível. Em seu auge, a pessoa chega a sentir dormência, fraqueza nas pernas e crises de ansiedade;, observa Modesto. O estresse psíquico também detona crises. ;Quem está instável emocionalmente fica predisposto a sentir dor. O estilo de vida tem sido um agravante. Em Brasília, usa-se carro para tudo. A população está cada dia mais sedentária e isso contribui para que a musculatura e os ossos fiquem fracos. A região lombar sente os abusos;, completa Moacir.
A técnica em enfermagem Mary Jones Bispo, 43 anos, sentia dores eventuais nas costas desde 2007. ;Há dois meses, tive uma torção no pé que acabou detonando a lombalgia. Exames comprovaram um desgaste na região lombar. Hoje, não consigo ficar muito tempo na mesma posição e já levanto sentindo dor;, relata. O problema a deixou afastada do trabalho por mais de 40 dias. ;A dor comprometeu totalmente minha vida. Carrego pacientes, empurro macas, cadeiras de rodas; São atividades inerentes à minha profissão. Agora, não posso mais pegar peso, não tenho conseguido dirigir e nem fazer nada em casa. Cheguei a ficar depressiva, pois a dor não é algo palpável. Muitas pessoas duvidam que você a sente;, lamenta.
O empresário Léo Lynce de Araújo, 55 anos, sabe muito bem o que é sentir dor na lombar. ;Sofro com ela há 29 anos. O problema começou com um escorregão em um jogo de futebol. No dia seguinte, não levantei da cama. Foi detectada uma hérnia de disco que estava pressionando o nervo ciático e acabei na mesa de cirurgia. A dor nunca passou por completo;, revela. Há seis anos, uma nova crise levou o empresário novamente a passar por um procedimento cirúrgico. ;Estava em casa e senti uma dor que, sem dúvida, foi a pior da minha vida. Fiquei imóvel e fui levado para o hospital pelo Corpo de Bombeiros. Permaneci sedado por dois dias. Depois de uma nova cirurgia e de uma fase de fisioterapia e reabilitação, consegui controlar a dor. Sempre fui muito ativo e me exercito para manter a musculatura forte;, diz.
Chances
O tratamento é um desafio para os médicos. Não existe apenas uma linha a ser seguida para todos. Algumas terapias trazem bons resultados para alguns e nenhum efeito para outros. ;Uns melhoram com o fortalecimento da musculatura do tronco, outros com alongamento e mobilização ou com exercícios que revigoram o abdômen. Em muitos casos, observa-se a melhora com séries de flexão e extensão, e existem aqueles que readquirem qualidade de vida dando enfoque à questão emocional e à postura. Não há regras;, esclarece o fisiatra Moacir.
O tratamento visa ao alívio do sofrimento, à funcionalidade e à qualidade de vida. O neurocirurgião Luís Cláudio Modesto alerta que é preciso cautela. Ele recomenda que o paciente comece pelas técnicas de reabilitação, partindo para medicamentos, acupuntura e bloqueios anestésicos se não conseguir o alívio da dor. Caso tudo isso não funcione, ainda pode-se tentar medicações a base de opiáceos e intervenções cirúrgicas nas raízes lombares, vias nervosas e medula. ;Somente em casos extremos, quando nada funciona e há uma associação da dor com anormalidade na coluna, é que se deve partir para a cirurgia nessa estrutura. Infelizmente, no Brasil, o paciente com dor lombar procura primeiramente o cirurgião de coluna. A cirurgia é feita, mas a dor nem sempre é aliviada;, pondera.