postado em 19/11/2009 08:10
A popularização dos eletroeletrônicos e a rapidez com que novos modelos são lançados no mercado fazem com que o consumidor queira substituir os equipamentos constantemente. O problema, porém, não atinge apenas o bolso dos usuários. Há também um alto custo ambiental, gerado pelo acúmulo desses produtos, muitos deles feitos com materiais que demoram para se decompor ; como o plástico e o vidro ; e com componentes que contêm metais pesados, prejudiciais à saúde.
Os mais utilizados são o mercúrio, o chumbo, o cádmio, o manganês, o cobre, o ouro e o níquel. ;Se esses metais passarem para o solo, pode existir uma grave contaminação, que, dependendo da extensão, pode exigir grandes volumes de recursos para ser remediada;, diz Fernando Coelho, professor do Instituto de Química da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp).
Para tentar evitar o pior, cientistas e ambientalistas buscam desenvolver procedimentos que diminuam o impacto no meio ambiente provocado pelo descarte desses produtos. Uma das iniciativas nesse sentido é o projeto idealizado pelo Centro de Computação Eletrônica da Universidade de São Paulo (CCE/USP), que está inaugurando neste mês o Centro de Triagem e Descarte de Resíduos Eletrônicos (CTDRE). O objetivo é criar um ciclo de processamento de reuso desses materiais e da matéria-prima que os compõe. ;Temos de dar um destino para esses produtos, já que não há uma política pública nesse sentido;, comenta Tereza Cristina Carvalho, diretora do CCE. Segundo ela, em vez de retirar a matéria-prima novamente da natureza, ela pode ser reaproveitada. ;Ajuda o meio ambiente e sai bem mais barato;, defende.[SAIBAMAIS]
O ciclo idealizado no centro começa no recolhimento do equipamento. Ao receber os materiais, técnicos especializados fazem a triagem para detectar o que ainda funciona e o que precisa ser consertado. As peças que ainda podem ser usadas ficam disponíveis para instituições filantrópicas sem fins lucrativos, cadastradas na USP. Já o restante do material é separado de acordo com seus componentes. Depois de desmontados e compactados, são encaminhados às empresas especializadas em reciclagem. ;Assim, o material volta a ser matéria-prima e é vendido à indústria;, completa a diretora. Em princípio, apenas as unidades da USP participam, mas a intenção é incluir no projeto as unidades administrativas do estado e a comunidade em geral.
Em relação aos metais, podem ser reaproveitados os de maior valor agregado, como o ouro e a platina, por exemplo. Já os mais baratos podem passar por um processo de passivação, que impede ou dificulta a contaminação do solo. Porém, cada metal exige um tratamento químico diferente. Os especialistas dizem que essas medidas não são tomadas hoje por uma questão econômica. ;A legislação pode reverter esse quadro, principalmente se exigir das empresas fabricantes um compromisso de recuperação;, afirma Coelho.
Acúmulo
Segundo estimativa do grupo ambientalista Greenpeace, o lixo eletrônico atingiu a marca de 50 milhões de toneladas no ano passado, em todo o mundo. O número inclui o material gerado a partir de aparelhos eletrodomésticos ou eletrônicos e seus componentes, inclusive pilhas, baterias e produtos magnetizados. No Brasil, não há um levantamento desse tipo, pois ainda não existe regulamentação que forneça parâmetros para a contabilização desses números. Além disso, faltam locais apropriados para o descarte de equipamentos, que acabam parando no lixo comum.
O diretor de Ambiente Urbano da Secretaria de Recursos Hídricos e Ambiente Urbano do Ministério do Meio Ambiente (MMA), Silvano Silvério da Costa, defende a logística reversa para lidar com o lixo eletroeletrônico. ;Enquanto não se regulamenta(1) a Política Nacional de Resíduos Sólidos, são as empresas fabricantes que devem arcar com o destino desses resíduos. Aliás, isso deve virar uma norma;, diz. Algumas empresas recebem baterias, pilhas e celulares obsoletos, porém ainda não é praxe.
Para Juliane Berb, assistente de planejamento do Serviço de Limpeza Urbana do Distrito Federal (SLU), as pessoas devem estar atentas para a poluição causada pelos equipamentos eletrônicos. ;Acredito na consciência individual para frear o consumismo tecnológico. O mundo não comporta tantos resíduos;, diz. ;Todos os dias, materiais eletroeletrônicos vão para os aterros sanitários por falta de consciência de cada um;, completa.
O problema, porém, é que muitas vezes falta informação. O desenvolvedor de sites Maurício Lima, 34 anos, pode ser considerado um consumidor consciente, mas diz não saber onde jogar seu lixo eletrônico, fato que o incomoda muito. ;Não há muita informação e não são todas as empresas que aceitam (os componentes velhos);, diz. Com isso, ele acaba acumulando lixo em casa. Maurício tem gavetas cheias de baterias, celulares, fios, controles remotos, além de um notebook e dois computadores antigos. ;Alguns até tenho a esperança de reutilizar, como as placas-mães e as de vídeo. Porém, a tecnologia muda a cada dia, e tudo isso fica mesmo obsoleto;, observa.
Trâmite parado
Desde 1991, tramita na Câmara dos Deputados uma proposta que estabelece a Política Nacional de Resíduos Sólidos. Em 2007, o governo federal enviou à Casa projeto de lei também disciplinando a matéria, mas a análise dos textos encontra-se parada. De acordo com a Resolução 401/2008, do Conselho Nacional do Meio Ambiente (Conama), baterias e aparelhos celulares devem ser devolvidos às lojas onde foram comprados, mesmo que sejam revendedoras.
Doações no DF
O Centro de Recondicionamento de Computadores do Gama recebe doações de equipamentos de informática. Os contatos podem ser feitos pelo telefone 3484-5691 ou pelo e-mail