Ciência e Saúde

Implante sob a pele destrói melanoma

postado em 02/12/2009 10:01
Poderosas estratégias de combate ao câncer podem estar em ideias criativas, ousadas e, até mesmo, geniais. Um exemplo veio dos laboratórios da Faculdade de Engenharia e Ciências Aplicadas da Universidade de Harvard, em Boston (Massachusetts), mais precisamente da imaginação do professor de bioengenharia David Mooney. A promissora arma contra o melanoma, câncer de pele que deve afetar pelo menos 2.960 homens e 2.970 mulheres no Brasil em 2010, segundo estimativas do Instituto Nacional do Câncer (Inca), é um pequeno disco de plástico colocado sob a pele. Com apenas 8mm de diâmetro, ele é composto de pequenas cavidades, por onde células do sistema imunológico do corpo humano se espalharão, atraídas pela citoquina ; a droga é liberada pelo próprio implante.

A peça traz ainda fragmentos de tumor, para incitar as células imunes a reconhecer o câncer. Também é revestida de pequenos pedaços de DNA, semelhantes aos encontrados em bactérias. As amostras de DNA levam as células de defesa a interpretarem a existência de uma infecção no organismo. Ao associarem os fragmentos do tumor com o perigo, elas potencializam a resposta imunológica. "O implante funciona como se fosse uma vacina", explicou Mooney ao Correio, em entrevista por e-mail. "Ele pode prevenir a formação do tumor, mas o mais excitante de nosso estudo é que o disco de plástico consegue induzir uma resposta imunológica forte o bastante para levar o sistema de defesa do corpo a erradicar tumores existentes", acrescentou.

Os resultados da pesquisa com ratos foram descritos pela revista científica Science Translational Medicine, na edição da última quarta-feira. Os cientistas apostam que a união entre bioengenharia e imunologia pode ser um grande passo rumo ao desenho de eficientes vacinas contra o câncer. O estudo de Mooney e sua equipe redireciona o sistema imunológico a alvejar os tumores e parece mais eficaz e menos invasivo que outras vacinas em fase de testes clínicos. Para tanto, trabalha com dois braços desse sistema: um que destrói o material estranho, e um que protege os tecidos nativos do corpo humano. "As células imunológicas atraídas pelo implante são as dendríticas (1), já existentes no corpo do paciente. Após interagirem com os pedaços do tumor no implante e com os pedaços de DNA que imitam uma bactéria, as células se espalham para os linfonodos e instruem o linfócito T a reconhecer e atacar o tumor", afirma o líder da pesquisa.

Hoje

As atuais drogas em estudo removem as células imunológicas do corpo e reprogramam-nas para atacarem tecidos malignos, antes de retorná-las ao local de origem. No entanto, mais de 90% das células reinjetadas no organismo morrem antes de terem qualquer efeito direto sobre o câncer. O novo implante foi fabricado com um polímero biodegradável, já aprovado pela FDA ; a agência reguladora de drogas e medicamentos dos Estados Unidos. Pelo menos 90% da estrutura são formados pelo ar, tornando-a altamente permeável às células imunológicas e à liberação das citoquinas.
Imagem de poros do implante cobertos com fragmentos do tumor
Segundo Mooney, a empresa de biotecnologia InCytu Inc. ; sediada na cidade de Lincoln, no estado norte-americano de Rhode Island ; já licenciou a tecnologia e espera iniciar os testes clínicos em humanos daqui a um ano. Enquanto a InCytu Inc. prepara terreno para tornar a nova terapia uma realidade, Mooney e seus colegas se esforçam para aprimorar o uso da técnica. "Estamos examinando se o implante pode ser usado contra outros tipos de câncer. Também queremos analisar se esses materiais poderiam ajudar a desligar uma resposta imunológica ; nociva a pacientes com doenças autoimunes (2), como, por exemplo, o diabetes", afirmou o estudioso.


1 - Para forçar uma reação
Células dendríticas têm, como principal função, capturar e transportar os antígenos (substâncias que desencadeiam uma reação imunológica no organismo; ou seja, que forçam o combate a problemas identificados no sistema) para a drenagem dos linfonodos. Elas são cerca de 1% das células circulantes no sangue periférico. Costumam ser utilizadas nas pesquisas justamente por serem as responsáveis por esse combate interno aos males detectados no organismo.


2 - Ataque interno
Doenças autoimunes surgem quando o sistema que existe para nos defender, o imunológico, confunde células e tecidos saudáveis como inimigos ; e começa a atacar a si mesmo. A falha causa, por exemplo, males como artrite reumatoide, doença celíaca, síndrome de Sj;gren e doença de Graves. Se consideradas em conjunto, calcula-se que essas doenças afetem até 10% da população no mundo industrializado.

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