Ciência e Saúde

O aquecimento global e o processo de desmatamento podem levar à substituição de árvores da Amazônia por vegetação rasteira

COP-15 AGENDA DO MEIO AMBIENTE CÚPULA DE PAÍSES TENTA SUPERAR IMPASSES PARA CUMPRIMENTO DE METAS CONTRA O AQUECIMENTO GLOBAL, DE 7 A 18 DE DEZEMBRO, EM COPENHAGUE FALTA 1 DIA

postado em 06/12/2009 08:00
Com o início amanhã da 15ª Conferência das Partes (COP-15), cúpula das Nações Unidas sobre aquecimento global que ocorre até 18 de dezembro em Copenhague (Dinamarca), cresce a atenção do mundo sobre o destino da Amazônia. Não é para menos. O aumento da temperatura do planeta, aliado ao processo de desmatamento, traz como uma possível consequência a savanização de grande parte da maior floresta tropical do mundo. Em outras palavras, locais onde hoje há imensas árvores podem se tornar áreas quase desérticas, com a presença apenas de vegetação rasteira. Hoje, cerca de 18% da flora amazônica original foi devastada. Projeção feita pelo Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe) mostra que se esse índice atingir a casa dos 40%, o bioma pode entrar em colapso. Além disso, estudos indicam que a parte oriental da floresta é bastante vulnerável ao aumento da temperatura. "Determinadas regiões, principalmente as localizadas ao leste, podem nunca mais voltar a ser florestas, mesmo que exista a tentativa de recuperação", afirma Gilvan Sampaio, pesquisador do Centro de Previsão de Tempo e Estudos Climáticos (Cptec) do Inpe. COP-15
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CÚPULA DE PAÍSES TENTA SUPERAR IMPASSES PARA CUMPRIMENTO DE METAS CONTRA O AQUECIMENTO GLOBAL, DE 7 A 18 DE DEZEMBRO, EM COPENHAGUE
FALTA 1 DIAO alerta de Sampaio também foi dado pelos cientistas de vários países que compõem o Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC) da ONU. Segundo o IPCC, o aquecimento na região amazônica pode chegar a 8ºC, o que aceleraria o processo de savanização. Um estudo publicado nesta semana na revista especializada Proceedings of the National Academy of Sciences questiona se a vulnerabilidade da Amazônia seria assim tão grande. De acordo com pesquisadores ingleses, a quantidade de chuvas na região deve ser capaz de impedir a degradação. Mesmo assim, eles preveem que a área leste poderia se transformar em uma "floresta sazonal", que passaria por períodos de seca e de chuva. Além do combate às mudanças climáticas, que depende das ações adotadas por todas as nações para diminuir a emissão global dos gases de efeito estufa, é necessário frear o desmatamento, que também é capaz de disparar o processo de savanização. Segundo Sampaio, quando grandes áreas da floresta são devastadas, seja para o plantio de soja ou formação de pasto, ocorre uma diminuição do ciclo de chuvas e o consequente aumento da temperatura (veja arte). "Cerca de 50% da formação de chuvas na Amazônia é proveniente do processo de reciclagem. Ele tem início quando a água é captada pela raiz das árvores e lançada na atmosfera por meio de evaporação. O plantio de espécies de raízes menores, como a soja, faz com que haja a diminuição do bombeamento de água", explica. A devastação da floresta traz ainda outros resultados que contribuem para a savanização. Quando os ventos passam pela copa das árvores, provocam a formação de pequenos turbilhões que trocam calor entre a superfície e a atmosfera, fazendo com que a temperatura fique mais baixa. Quando se planta grama no lugar de árvores, há uma redução significativa desse fenômeno. Além disso, com menos árvores, é menor o processo de sequestro de carbono promovido pela floresta e a emissão do gás aumenta. Dados positivos A preservação da Amazônia é interesse apenas brasileiro. Os efeitos da savanização podem chegar a outros países. Para o pesquisador Paulo Artaxo, professor da Universidade de São Paulo (USP) e membro do Programa de Grande Escala da Biosfera-Atmosfera (LBA), uma das consequências mais sérias seria a redução das chuvas na América do Sul. De acordo com Sampaio, do Inpe, o problema ainda pode influenciar o clima da Europa e do leste dos Estados Unidos, caso as teses de alguns pesquisadores se confirmem. A boa notícia é que o Brasil tem conseguido diminuir significativamente os índices de destruição da Amazônia. Dados do Inpe mostram que, entre 2008 e 2009, a devastação foi 45,7% menor - caiu de 12.911km² para 7.008km². De acordo com Carlos Nobre, funcionário do Inpe e presidente do conselho diretor do IPCC, a redução é fundamental para conter a savanização da floresta. "No meu entendimento, a redução se deve a ações governamentais eficazes e à diminuição da aceitação pública em relação à ilegalidade na Amazônia. Quando comecei a fazer pesquisas no local, há 30 anos, as coisas não eram bem assim. O Estado de direito não existia", conta. Para o pesquisador Paulo Barreto, do Instituto do Homem e do Meio Ambiente da Amazônia (Imazon), além da intensificação das ações governamentais na região, o desmatamento caiu em decorrência da última crise econômica mundial. %u201CProblemas na economia fizeram com que o consumo apresentasse queda e, consequentemente, os investimentos na floresta, relacionado às derrubadas, caíram também%u201D, analisa. Para ele, mesmo com a queda, a área desmatada continua enorme. O ambientalista mostra preocupação também com a proposta de alteração do Código Florestal Brasileiro, que sugere a anistia ao proprietários que desmataram o bioma. %u201CPode ser um incentivo ruim%u201D, diz. A opinião é compartilhada pelo ministro do Meio Ambiente, Carlos Minc, grande crítico da anistia. Ouça entrevistas com os pesquisadores Carlos Nobre e Paulo Artaxo

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