Copenhague (Dinamarca) - As negociações do primeiro dia da 15; Conferência das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas (COP-15) pôs em alerta o Brasil e outras nações pobres e em desenvolvimento que participam das discussões. O G-77, bloco de países composto por 77 nações, entre as quais Brasil, Índia e África do Sul, teme que esteja em andamento uma manobra para limitar o financiamento dos países ricos às ações para tornar ambientalmente sustentável o crescimento econômico nas próximas décadas.
O receio é fundamentado pelo avanço da recente proposta de estabelecer como acordo, aqui em Copenhague, a destinação de U$ 30 bilhões para as ações de mitigação nos próximos três anos. A tese, defendida pelo Brasil, é de que esse é apenas um compromisso de curto prazo. Para que se chegue a um entendimento, seria preciso bater o martelo sobre o investimento previsto para os próximos dez anos.
;A tendência dos países em desenvolvimento é não se comprometer apenas com um dinheiro inicial que vai durar só até 2012. Já que a mudança do clima é um problema urgente e o desafio é de longo prazo, o financiamento também tem que ser urgente e de longo prazo;, garante o negociador chefe do Brasil, Luís Alberto Figueiredo.
De acordo com o Banco Mundial, o combate ao aquecimento global demanda investimentos anuais de até U$ 270 bilhões. O próprio secretário-geral da Conferência, Yvo de Boer, afirmou que, além do investimento de curto prazo, é preciso assegurar outras ;centenas de bilhões de dólares; para que a negociação seja bem sucedida.
O pesquisador Paulo Moutinho, do Instituto de Pesquisa Ambiental da Amazônia, lembra que esse dinheiro é fundamental para os países insulares da África e da Ásia, ameaçados diretamente pelo aumento do nível dos oceanos provocado pelo degelo dos polos.
;Não acredito que este seja um dinheiro que deva ser utilizado pelo Brasil para combater o desmatamento da Amazônia;, adverte.
No entanto, o governo brasileiro acredita que esses recursos devem estimular os chamados Redás, projetos para permitir que os donos de terras na floresta invistam em serviços ambientais, como o reflorestamento e a recuperação de áreas degradadas.
O cientista chefe da organização não governamental Oceana, Mike Hirshfield, residente nos Estados Unidos, admite que a COP-15 corre efetivamente o risco de ficar sem acordo por causa do impasse sobre o financiamento. ;Essa realmente é uma preocupação que deve ser levada em conta pelos países em desenvolvimento;, alerta.