postado em 08/12/2009 08:18
Uma mudança significativa na forma como os norte-americanos se posicionam com relação ao aquecimento global foi a grande notícia no dia de abertura da 15ª Conferência das Partes (COP-15) - a cúpula das Nações Unidas sobre mudanças climáticas, que ocorre até 18 de dezembro em Copenhague (Dinamarca). A Agência de Proteção Ambiental dos Estados Unidos (EPA, na sigla em inglês) declarou que o dióxido de carbono é responsável pelo aumento da temperatura na Terra e pode ser considerado uma ameaça à saúde pública. O posicionamento oficial abre, pela primeira vez, a possibilidade de regulação do nível de emissão de gases causadores de efeito estufa no país.
[SAIBAMAIS]A diretora da agência, Lisa Jackson, disse que agora o órgão está autorizado e obrigado a fazer "esforços razoáveis" para cortar as emissões de CO². "Essas conclusões, longamente atrasadas, marcarão 2009 na história como o ano em que o governo dos Estados Unidos começou a enfrentar o desafio da poluição dos gases causadores do efeito estufa, aproveitando a oportunidade para uma reforma (para adotar uma matriz energética limpa)", destacou.
Além disso, a delegação dos EUA (1) enviada a Copenhague afirmou que o país está disposto a contribuir - oferecendo "a parte justa" - com um fundo internacional que financie o desenvolvimento de tecnologias limpas em países em desenvolvimento. Especialistas calculam que essa ajuda dada aos países mais pobres precisa ser de pelo menos US$ 10 milhões por ano, embora algumas organizações ambientalistas digam que a cifra tem de ser 10 vezes maior.
As duas notícias trazem um pouco mais de esperança para que a cúpula da ONU represente avanços significativos no combate ao aquecimento global. %u201CÉ o fim de uma longa batalha%u201D, disse o embaixador francês para o Clima, Brice Lalonde, referindo-se ao anúncio da EPA. A expectativa é que dificilmente o encontro termine com um acordo que estabeleça metas numéricas na redução de emissões de carbono, mas represente pelo menos um comprometimento político por parte dos líderes mundiais. Além do financiamento internacional aos países mais pobres, estabelecer metas que garantam uma elevação na temperatura média da Terra de no máximo 2ºC é a grande missão da reunião.
Ao falar na cerimônia de abertura, o primeiro-ministro dinamarquês, Lars Loekke Rasmussen, definiu a conferência como "depositária das esperanças da humanidade" e apelou para a boa vontade dos governantes em avançar nas discussões. "No fim, deveremos poder devolver ao mundo o que nos dá hoje: a esperança de um futuro melhor", disse. A conferência começou, após atraso de 45 minutos, com a exibição de um filme curta-metragem, um filme-catástrofe mostrando uma menina adormecida ao lado de seu urso branco de pelúcia e que acorda no meio de um deserto, antes de ser alcançada por ondas tumultuadas. "Ajude-nos a salvar o mundo", diz ela, aterrorizada, encarando a câmera. Uma petição assinada por 10 milhões de pessoas de todo o mundo, pedindo um acordo ambicioso até 18 de dezembro, foi entregue aos responsáveis pela conferência pela campanha de mobilização sobre o clima. O documento foi batizado de TckTckTck, uma referência ao tic-tac do relógio.
"Climagate"
O caso das mensagens eletrônicas de especialistas sobre o aquecimento global que teriam sido manipuladas, conhecido como "Climagate", também foi comentado no primeiro dia de conferência, tendo sido definido como uma tentativa de fazer desacreditar o Painel Intergovernamental sobre Mudança Climática (IPCC).
"O recente incidente de roubo de e-mails de cientistas da Universidade de East Anglia demonstra que algumas pessoas estão dispostas a recorrer à ilegalidade, talvez para desacreditar o IPCC", afirmou o presidente do grupo de especialistas premiados em 2007 com o Nobel da Paz, Rajendra Pachauri, que falou à plateia. "Mas nosso painel dispõe de um histórico de avaliações transparentes e objetivas de mais de 21 anos, estabelecidas por dezenas de milhares de cientistas em todos os cantos do mundo", insistiu.
1 - Obama recebe Al Gore
O ex-vice-presidente americano Al Gore foi recebido ontem pelo presidente Barack Obama para uma reunião a portas fechadas. O tema do encontro dos dois agraciados com o prêmio Nobel da Paz - em 2007 e 2009, respectivamente - certamente foi o aquecimento global. Ontem, Al Gore pediu aos principais países emissores de CO2, como os EUA e a China, que atuem de forma urgente para frear o aquecimento climático, em entrevista veiculada ontem pelo canal France 3. "É necessário tomar mais decisões políticas em escala planetária para tentar obter as mudanças necessárias para que os países-chave do mundo a resolvam", declarou.