Ciência e Saúde

Estudo mostra que problema em genes transmitidos pelos pais pode explicar por que as mulheres vivem mais que os homens

Ratos criados apenas com genoma das mães tinham sistema imunológico mais forte

Paloma Oliveto
postado em 09/12/2009 08:02
Ratos criados apenas com genoma das mães tinham sistema imunológico mais forteQue as mulheres costumam viver mais que os homens, as pesquisas demográficas já provaram. Cuidar bem da saúde e se envolver menos em situações de violência são algumas das teorias sociais para explicar por que, em média, a longevidade feminina ultrapassa a masculina em 7,8 anos no Brasil. As argumentações são válidas, mas não elucidam totalmente o motivo pelo qual, mesmo antes do advento da medicina preventiva moderna, elas já levavam vantagem de três anos - e isso em tempos de alta mortalidade nos partos, segundo estudos da norte-americana Alliance for Aging Research. Nem por que as fêmeas mamíferas também vivem mais que os machos da mesma espécie. O enigma acaba de ser decifrado por pesquisadores japoneses: a culpa pela vida mais curta está no espermatozoide. "Em quase todo o mundo, as mulheres vivem mais que o homens, mas não se sabia ainda se a longevidade nos mamíferos era efeito da composição do genoma de apenas um ou de ambos os genitores", explicou ao Correio um dos autores do estudo, o professor Tomohiro Kono, do departamento de Ciências Biológicas da Universidade de Agricultura de Tóquio. Durante um ano, ele se dedicou a desvendar o mistério dentro de um laboratório. Para isso, usou uma técnica de manipulação genética que permitiu criar ratos gerados apenas por fêmeas (veja infografia), ou seja, sem herança do pai. Treze animais nasceram no período de sete meses, e foram comparados ao grupo de controle composto por outros 13 ratos, que não haviam sido manipulados geneticamente. Dos animais que herdaram material tanto do pai quanto da mãe, o mais longevo sobreviveu por 996 dias. Já entre aqueles gerados por duas mães, o mais velho durou 1.045 dias. No total, nenhum do primeiro grupo, exceto o que morreu no 996º dia, conseguiu ultrapassar os 800 dias de vida. Todos os ratinhos sem herança genética do pai, porém, viveram mais do que esse tempo. Em média, eles tiveram 186 dias de vida a mais que os do grupo de controle. Ratos criados apenas com genoma das mães tinham sistema imunológico mais forteAo examinar exemplares dos dois tipos, os cientistas constataram que os que levavam genes apenas das mães eram menores, mais leves e possuíam um sistema imunológico mais reforçado do que os demais. No sangue desses ratos, foi descoberto o aumento significativo de um tipo de glóbulo branco, o eosinófilo, responsável por combater infecções provocadas por parasitas. Os dois grupos de animais que participaram do teste foram expostos ao mesmo ambiente e tinham livre acesso ao mesmo tipo de comida. Por isso, alegam os autores, não há como atribuir as diferenças no organismo a fatores externos. Surpresa O pesquisador Manabu Kawahara, professor associado da Universidade de Saga, também participou do estudo e conta que ficou surpreso pelo fato de que, tradicionalmente, ratos clonados não apenas vivem menos que os naturais como apresentam maiores complicações de saúde, além de taxas mais altas de mortalidade pré-natal. Já no estudo conduzido pelos dois cientistas japoneses, ocorreu o contrário. "Sabe-se muito bem que os ratos manipulados a partir de células somáticas têm vida mais curta e apresentam falência hepática, necroses e problemas imunes", disse ao Correio. Segundo os especialistas, a chave da questão está relacionada ao cromossomo 9, que geralmente se expressa quando herdado do pai. A principal razão para as diferenças na logenvidade, diz o estudo, deve-se à repressão de um gene chamado Rasgrf1. Ele normalmente é herdado pelo pai e se desenvolve no cromossomo 9. "O que ainda não está claro é se esse gene está definitivamente associado à longevidade dos ratos, mas é um forte candidato. Não podemos eliminar a possibilidade de que outros genes ainda desconhecidos que também sejam herdados pelo pai possam ser os responsáveis pelo tempo de vida", afirma Kono. Apesar das dúvidas sobre qual gene e qual cromossomo fazem com que os machos vivam menos, o pesquisador japonês tem uma certeza: "Nosso estudo pode ajudar a responder por que as mulheres levam vantagem sobre os homens na longevidade", diz. O segredo Para a escritora e historiadora Nina Turbino, 76 anos, o segredo de viver bem e bastante é manter-se ativa. "Os homens morrem mais cedo porque se aposentam e não querem fazer mais nada da vida. Já as mulheres continuam trabalhando", brinca. Gaúcha de Taquari, Nina se aposentou como professora em 1988, mesmo ano em que ficou viúva. Em vez de se trancar em casa, resolveu colocar seus projetos pessoais e profissionais adiante. Dois anos antes, ela havia fundado uma Academia de Letras no Rio Grande do Sul e continuou se dedicando ao grupo. "Desde que nasci, sou ativa. Às vezes, tenho vontade de parar, mas se paro um dia, depois acho que está tudo atrasado. Tenho projetos para até 150 anos de vida. Estou correndo para realizar o máximo possível. Procuro correr mais que o tempo", diz. Em 1990, Nina se mudou para Brasília e continuou suas atividades. Além de poeta - ela tem quatro livros do gênero publicados -, é mestra em história política e econômica do Brasil e também escreve sobre suas pesquisas. Está finalizando uma obra sobre o primeiro engenheiro da capital federal - pretende lançá-la nos 50 anos da cidade que adotou. "Estou sempre dizendo que vou morrer em Brasília. Mas não tenho pressa", avisa. Quem a vê cheia de energia, trabalhando, dirigindo e viajando sozinha, não pensa que Nina tem quatro pontes de safena, todas as artérias do coração entupidas, cardiopatia, angina, sopro e uma placa de metal no fêmur devido a uma queda que sofreu. "Eu me cuido, todo meus remédios e não faço exageros alimentares. Mas não penso em doença. O dia que eu tiver de morrer, eu morro. Até lá, tenho muitos sonhos para realizar. O segredo é ter sonhos e correr atrás deles", ensina. Leia a reportagem na íntegra na edição impressa do Correio

Tags

Os comentários não representam a opinião do jornal e são de responsabilidade do autor. As mensagens estão sujeitas a moderação prévia antes da publicação