postado em 13/12/2009 10:44
A pílula do prazer feminino pode chegar às farmácias até o fim do próximo ano. O remédio pode beneficiar cerca de 10% das mulheres no país, que sofrem de Transtorno de Desejo Sexual Hipoativo (TDSH), caracterizado pela diminuição ou ausência total de libido. Depois de serem rotuladas de "frígidas" pela sociedade, as mulheres afetadas pelo TDSH terão oportunidade de melhorar a performance na cama e, em consequência, a qualidade de vida. O novo medicamento atua no sistema nervoso central e promete duplicar o número de relações sexuais satisfatórias. Se durante um mês, por exemplo, ela tiver 10 relações sexuais e apenas um orgasmo, esse número, teoricamente, deve pular para dois. O remédio pode ser melhor que o Viagra masculino para quem não encontrou ajuda em outros tratamentos.
O novo medicamento Flibanserin está no que eles chamam de fase 3 de estudos e ainda precisa ser aprovado pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa). Os testes de eficácia, contudo, foram feitos com 5 mil mulheres norte-americanas e europeias e estão próximos da realidade brasileira. Segundo a psiquiatra e professora da faculdade de medicina da Universidade de São Paulo (USP) Carmita Abdo, 6% das mulheres do Brasil em torno dos 20 anos não sentem qualquer desejo, e o número cresce para 20% na faixa de 50 a 60 anos. Carmita coordenou, em 2004, o maior estudo sobre sexualidade no país. Entre os pesquisados, 3,5 mil eram do sexo feminino.
O benefício para as mulheres com TDSH pode ser o resgate da sensação do prazer, que traz mais alegria, autoestima e leveza à vida. A pílula pode ajudar aquelas que fingem dor de cabeça sem ter, que evitam o contato sexual a todo momento e se cobram por não corresponderem ao parceiro. De acordo com Carmita Abdo, muitas vezes a falta de desejo contínuo leva à vergonha, ao constrangimento e ao desgaste da relação.
"Quando definimos a falta de desejo, falamos daquelas que sofrem com isso, que ficam angustiadas. Isso vai gerando uma situação crônica na qual se evita o sexo, o que pode esfriar o relacionamento. A partir do tratamento, ela vai poder recuperar a disposição", ressaltou a especialista. Carmita ainda defende que, para indicar o remédio, o médico descarte outros tipos de problemas psicológicos, hormonais e orgânicos da paciente. Para ela, por exemplo, a falta de desejo sexual não deve ser tratada com Flibanserin quando envolver traumas, mágoas do parceiro, distúrbios de estrogênio ou doenças sexuais.
De acordo com o psiquiatra e gerente médico na área de sistema nervoso central do laboratório produtor do remédio, Demétrio Ortega, a pílula não age como o Viagra, que é tomado antes do ato sexual para aumentar o fluxo de sangue e permitir a ereção do pênis. Ele explicou que as usuárias terão de fazer um tratamento contínuo, de tempo não determinado, por no mínimo 24 semanas. O especialista observa que a continuidade será necessária porque o TDSH é provocado por um desequilíbrio de neurotransmissores cerebrais, particularmente a dopamina, a noradrenalina e a serotonina. Ele completa que o número de orgasmos praticamente duplicou nas mulheres pesquisadas, numa escala de 2,8 para 4,7.
Ortega frisa que a pílula não será tarja preta, embora tenha sido estudado inicialmente para ser apenas um antidepressivo. Ele é um pouco mais flexível que Carmita Abdo em relação ao uso do medicamento, a partir do histórico clínico da paciente. Para Ortega, no entanto, se a ausência de prazer for causada apenas por questões culturais ou religiosas, por exemplo, o melhor é indicar outros tratamentos.
Quem poderá tomar
Mulheres que não têm desejo sexual ou têm de forma muito baixa, por desequilíbrio de neurotransmissores, tais como dopamina, noradrenalina e serotonina
Mulheres que se sentem infelizes por falta de desejo sexual
e têm muita dificuldade de chegar ao orgasmo
Mulheres que tomam antidepressivos e ansiolíticos,
medicamentos que diminuem a libido
Mulheres que tomam medicamentos para hipertensão
arterial e sentem a libido alterada
Quem não deverá tomar
Mulheres que perderam o desejo por raiva do parceiro (a), mas se sentem atraídas por outras pessoas (homens ou mulheres)
Mulheres com problemas hormonais, como diminuição do
estrogênio e infecções no órgão genital
Mulheres que viveram situações muito traumáticas
O que será alvo de polêmica
Sexólogas acreditam que em causas secundárias, como questões psicológicas, culturais, religiosas, o remédio não deve ser usado de forma alguma. Há especialistas, no entanto, que veem o remédio como um empurrãozinho para que elas procurem outras terapias, uma vez uma dessas causas pode deixar a mulher muito infeliz.
Fonte: Psiquiatra e gerente médico na área de sistema nervoso central da Boehringer Ingelheim, Demétrio Ortega