Ciência e Saúde

Meningite bacteriana mata cerca de 40% dos atingidos

postado em 18/12/2009 07:00

Ruan, com a mãe, Maria da Graça: sequelas de ataque aos três dias de vidaNo fim de outubro, um surto de meningite ocorrido em Porto Seguro, na Bahia, resultou em seis mortes, e acabou voltando a exigir a atenção da população para a doença. Não é para menos, já que a meningite é uma das patologias mais temidas, tendo um alto índice de morte entre crianças e adultos jovens. A doença é uma inflamação das membranas que recobrem o cérebro e a medula espinhal (veja arte), causada por vírus ou bactérias.

As formas virais são mais brandas e, apesar de não haver vacinação, esse tipo de meningite não mata nem deixa sequelas. Já as meningites bacterianas ; causadas pelos meningococos, pneumococos ou hemófilos ;, se não tratadas, podem ter efeitos irreversíveis ou letais.

De acordo com as estatísticas do Ministério da Saúde, cerca de 40% dos infectados pela meningite bacteriana morrem e 30% ficam com sequelas. Isso porque alguns sintomas da doença podem ser facilmente confundidos com problemas como, por exemplo, a otite e a infecção de garganta. ;O sucesso do tratamento da meningite está no rápido diagnóstico e na administração correta do antibiótico;, explica Bruno Vaz, pediatra da enfermaria do isolamento do Hospital Regional da Asa Sul (HRAS) e diretor da Sociedade Brasileira de Pediatria no Distrito Federal (SBP/DF).

Somente febre, abatimento ou falta de apetite não são efeitos específicos da doença. Os portadores da patologia sentem dor de cabeça, nuca rígida, irritabilidade, vômitos violentos, convulsões e alterações na pele (sinais vermelhos que parecem picadas de mosquito). As crianças lactantes e abaixo de 2 anos, entretanto, apresentam sintomas diferentes, mas muito específicos. ;Essas crianças não apresentam rigidez da nuca. Seus sintomas vão de um extremo ao outro: ou ela fica muito quieta ou muito agitada, ou não dorme nada ou fica muito sonolenta. O vômito e a falta de vontade de mamar ou comer, relacionados aos outros sintomas, também são indícios da doença;, esclarece o pediatra Wilson Marra.

O médico ainda alerta para outro sinal de inflamação na meninge: a moleira alta. ;A meningite, quando ataca os bebês, deixa a moleira alta e dura. É importante que os pais levem a criança imediatamente para o hospital. O tempo é precioso.;

Trágica confusão
Foi justamente essa confusão de sintomas que provocou a morte de Ana Lídia, de apenas 7 meses. A mãe, Maria Aparecida Franco de Oliveira, conta que a criança apresentou febre alta e foi levada ao médico plantonista. ;Ele examinou e disse que era otite. Receitou um anti-inflamatório e nos mandou para casa.; A febre da menina, porém, não cedeu ; e a mãe retornou ao médico. Ele novamente examinou a criança e disse que o quadro, dessa vez, era de infecção na garganta. ;Ele nos mandou continuar com o tratamento e voltamos para casa.;

No dia seguinte, Maria Aparecida recebeu uma ligação da irmã relatando que a menina estava com a moleira alta e endurecida. ;Fiquei apavorada, porque a moleira parecia um caroço;, lembra. Os pais de Ana Lídia correram para outro hospital e a médica suspeitou de meningite. ;A pediatra disse que minha filha teria que ficar internada em uma UTI e nos mandou para o Hospital Materno Infantil (Hmib). Quando chegamos, demoramos a ser atendidos. Os médicos fizeram a punção lombar e constataram a meningite;, relata. Ana Lídia ficou internada por cinco dias na UTI e não resistiu à infecção na meninge.

De acordo com Bruno Vaz, a meningite causada pelo penumococo ; a mesma bactéria que causa a penumonia ; é a que mais deixa sequelas. ;Esse tipo de meningite é uma das mais difíceis de diagnosticar, porque seus sintomas podem ser confundidos com os de outras infecções. Quando ela não mata, deixa sequelas, por conta da demora no início do tratamento;, diz.

O risco das sequelas das meningites bacterianas é proporcional ao tempo que se demora para fazer o diagnóstico e instituir o tratamento. ;A meningite provoca uma inflamação das membranas que estão em volta do cérebro. Se nada for feito, há um acúmulo de pus que não tem por onde escapar e a formação de abscessos que afetam partes nobres do cérebro ou alguns nervos. Essas lesões neurológicas são irreversíveis. Por isso, quando a doença demora a ser diagnosticada e tratada, pode provocar sequelas, como surdez, alterações de percepção e movimento ou outras ainda mais graves;, explica Vaz Ruan.

Patrick Lima Dantas, 15 anos, teve meningite com apenas três dias de vida, a chamada meningite neonatal. Segundo sua mãe, Maria da Graça de Lima, o menino apresentou febre alta e ela o levou ao hospital. Ruan teve uma convulsão e foi internado imediatamente na UTI neonatal. ;Ele passou por uma bateria de exames e nenhum médico sabia dizer o que ele tinha. Meu filho apresentava convulsões quase de hora em hora, até que teve uma parada cardiorrespiratória.;

A mãe relata que alguns médicos desistiram do menino, por não conseguirem saber o que ele tinha. ;Foi quando uma residente suspeitou de meningite e o levou para fazer a punção lombar. O resultado era meningite meningocócica.;
Maria da Graça conta que tudo aconteceu em menos de 24 horas. ;Foi tudo tão rápido, do começo da febre até o exame que diagnosticou meningite;, lembra com os olhos marejados. Ruan sobreviveu, mas ficou com paralisia cerebral leve por conta da doença.

Disseminação
David Barroso, da Fiocruz, afirma que os surtos ocorridos na Bahia e, recentemente, em Araguari (MG) ; com sete pessoas infectadas e duas mortes, de jovens adultos ;, são isolados e não caracterizam uma epidemia(1). ;Com o deslocamento rápido de pessoas, a disseminação do meningococo se faz eficaz e é dificilmente contida, pois os portadores sadios não adoecem e nada sentem durante semanas ou meses.;

Já o infectologista da SBI Francisco Bonasser diz que 25% da população têm a bactéria meningocócica na garganta, mas não desenvolve a doença. Com isso, a meningite pode ser transmitida com facilidade. ;A transmissão desse tipo de meningite é igual à da gripe, por contato com gotículas;, explica. Por isso, as melhores formas de prevenção são as vacinas (veja arte) e os cuidados com a higiene. ;Hoje, todo mundo beija todo mundo, come e bebe nos objetos usados por qualquer um. Aí fica fácil para as doenças;, afirma.

Explosão de casos
Entre 1972 e 1974, havia no Brasil uma série de casos provocados pelo meningococo C, quando surgiu um outro problema, o meningococo do sorogrupo A, que praticamente não se encontra no Brasil ; o que provocou uma epidemia explosiva. As estatísticas indicam que, a cada 100 mil habitantes, 250 tiveram a doença. Naquela ocasião, foi realizada uma campanha de vacinação nacional, na qual foi utilizada a vacina antimeningocócica AC.

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