COPENHAGUE, 18 dezembro 2009 (AFP) - No pronunciamento de 20 minutos, na sessão plenária no último dia da conferência das Nações Unidas, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva confessou sua frustração em relação ao desenvolvimento das negociações e garantiu que o Brasil está disposto a fazer sacrifícios para financiar os países pobres a se adaptarem aos efeitos da mudança climática.
"Vou dizer isso com franqueza e em público, o que não disse ainda em meu próprio país, que sequer disse a minha equipe aqui, que não foi apresentado nem diante de meu Congresso. Se for necessário fazer mais sacrifícios, o Brasil está disposto a colocar dinheiro para ajudar os outros países", anunciou, provocando imediatamente aplausos e burburinhos na plateia. No seu entender, no entanto, é preciso que os países desenvolvidos entendam, porém, que "não estão dando esmola".
[SAIBAMAIS]Indignado com a falta de progressos em uma negociação que começou há dois anos, Lula condicionou esta contribuição a um êxito concreto em Copenhague: "Estamos dispostos a participar nos mecanismos financeiros se alcançarmos um acordo sobre uma proposta final nesta conferência".
Lula também fez alusão à reunião noturna mantida pelos chefes de Estado e de Governo. "Mantive, ontem à noite, até as duas da manhã, uma reunião com muitos chefes de Estado, figuras proeminentes do mundo político", afirmou. "Uma reunião como esta é algo que nunca havia visto", acrescentou.
"Submeter chefes de Estado a discussões como as de ontem à noite é algo que jamais havia visto". E se confessou "um pouco frustrado" com o aparente fracasso das negociações de alto nível na noite de quinta-feira.
"Ontem, estava na reunião e me lembrava dos meus tempos de dirigente sindical, quando negociava com empresários", comparou. "Mesmo as metas, que deveriam ser uma coisa mais simples, tem muita gente querendo barganhar."
O presidente brasileiro deixou claro que os principais obstáculos continuam sendo a resistência da China a aceitar o que os Estados Unidos chamam de "transparência", ou seja, a adoção de resultados "que possam ser mensuráveis, reportáveis e verificáveis" e o financiamento aos países mais pobres.
O presidente também pediu mais ousadia aos colegas, aconselhando que não se preocuparem apenas com a questão do dinheiro, e defendeu a manutenção das metas do Tratado de Kyoto. "Não sei se algum anjo ou algum sábio descerá neste plenário e irá colocar na nossa cabeça a inteligência que nos faltou até agora. Eu não sei", concluiu.
O ministro do Meio ambiente brasileiro, Carlos Minc, por sua vez, ironizou o que muitos em Copenhague consideram como uma falta de esforço por parte dos Estados Unidos e de Obama, recentemente proclamado Prêmio Nobel da Paz. "O Prêmio Nobel não está à altura da expectativa que a população do planeta tem em relação a ele. Obama, faça alguma coisa, ou você vai ter que devolver o Nobel aqui", afirmou.