Paloma Oliveto
postado em 19/12/2009 07:00
Embaixador extraordinário para Mudanças Climáticas do Itamaraty, Sérgio Barbosa Serra. Formado em direito, é diplomata há 30 anos, tendo trabalhado em várias áreas do Itamaraty. É embaixador na área de meio ambiente há dois anos e meioComo o senhor analisa toda essa questão ambiental que foi debatida na conferência da ONU?
O evento atesta a importância e gravidade da crise, e mostra a intensa e progressiva preocupação da comunidade mundial sobre o tema. Tanto é que em 2007, o Painel Intergovernamental das Mudanças Climáticas da ONU (IPCC) ; formado por um relevante número de cientistas por todo o mundo e que teve reconhecido seu trabalho de mais de 20 anos na COP-15 ; e o ex-vice presidente americano Al Gore (no governo Bill Clinton, entre 1993 e 2001), receberam o prêmio Nobel da Paz.
E como foram esses 15 dias de intensas negociações em Copenhague?
Além de todo o pano de fundo da gravidade dos cenários que estão sendo desenhados para o futuro, em termos da questão climática, foi um incansável processo de negociação. Foi difícil, com uma rigidez muito grande de posições entre os blocos de negociadores. Basicamente, é na divergência econômica que a coisa piora. Tem a mudança climática, o impacto ambiental, mas que não são dissociados da economia pois, qualquer decisão tomada numa conferência dessas, com tantos países, impacta diretamente nas suas economias. A mudança mais necessária das nações é justamente a do seu padrão de consumo atual e de sua produção. Precisamos mudar esse modelo para o de desenvolvimento sustentável, pois o que temos hoje não é sustentável.
E o senhor acha que nós estamos preparados para essa mudança de um padrão de consumo alto para a chamada economia de baixo carbono?
Qualquer mudança de paradigma não é um processo fácil. Para alguns, é até muito dolorosa. E nada se faz do dia para noite. Estamos debatendo isso há muitos anos, avançamos e, embora seja de longo prazo, a gente já vê crianças, adultos e jovens com um pensamento mais consciente e são eles que aumentam a pressão sobre os governos para haver uma mudança real.
Qual o papel o Brasil desempenhou nessa COP-15 e o que o s enhor acha que vai ocorrer?
O Brasil sempre teve papel de protagonismo, tanto que a primeira reunião em que foi assinado um tratado sobre clima foi no Rio de Janeiro, em 1992, a Rio-92. Acho que em Kyoto, em 1997, tivemos articulação importante e, em 2007, durante o Mapa do Caminho de Bali, na Indonésia, fizemos um papel interessante. Acho que vamos decidir pouco aqui em Copenhague, com alguns adiamentos de decisões, que devem ser acertadas numa data intermediária à próxima COP, no México, ou lá mesmo.