postado em 07/01/2010 07:01
Irregularidades no ciclo menstrual, acne, aumento do peso e de gordura abdominal, dificuldade de ovulação, aparecimento de pelos nos seios e na face (hirsutismo) são disfunções comuns em mulheres acometidas pela síndrome do ovário policístico (SOP). Dados da Sociedade Brasileira de Endocrinologia e Metabologia (Sbem) revelam que o problema atinge uma em cada 15 mulheres em idade reprodutiva, pode comprometer a fertilidade e está relacionado a riscos de desenvolvimento do câncer de endométrio (tumor na parede interna do útero), de ataque cardíaco e de diabete.Especialistas definem a SOP como um conjunto de sintomas que provocam, na maioria das vítimas, ciclos anovulatórios, associados à produção excessiva de androgênios ; hormônios sexuais dominantes nos homens. Considerada um mal comum, a síndrome dos ovários policísticos pode se manifestar de diferentes formas. O endocrinologista André Neves Mascarenhas explica que a causa ainda não foi descoberta, mas estudos recentes sugerem que ela está relacionada a uma disfunção hormonal que leva ao aumento da produção da insulina, já que o organismo torna-se resistente a ela. Isso ocorre, provavelmente, devido a um defeito genético herdado. Mais de 50% das mulheres com ovários policísticos são resistentes à insulina. "Na verdade, a SOP é uma doença endócrina complexa, que ainda não tem cura, mas os sintomas podem ser minimizados", aponta o médico.
O problema é que os níveis altos de insulina desencandeiam transtornos mais comprometedores do que os fatores estéticos. "Os hormônios masculinos acabam provocando o aumento da pelificação nas mamas e no rosto, a acne e irregularidades menstruais. Mas nada impede da mulher ser vítima de ovários policísticos e não apresentar sintomas tão comuns. Temos verificado, no entanto, que pacientes com o problema ficam mais suscetíveis à obesidade, têm risco maior de desenvolver diabete, pressão alta, anormalidades no colesterol e doenças do coração", conta Mascarenhas.
Sintomas parecidos
Não existe uma época específica para a ocorrência dos múltiplos e pequenos cistos no ovário. Qualquer mulher em idade reprodutiva pode desenvolvê-los. O diagnóstico depende de uma conversa detalhada entre médico e paciente, além de exames que descartem outras doenças que têm manifestações parecidas às da síndrome. A hiperprolactinemia (aumento da prolactina) e as alterações da glândula suprarrenal, por exemplo, produzem sintomas similares aos da SOP.
"O exame de ultrassom pélvico representou um avanço no diagnóstico. No entanto, para confirmá-lo, é preciso que os múltiplos cistos no ovário estejam associados a outros fatores, como hirsutismo, irregularidade menstrual com dificuldade em ovular, alterações nos hormônios masculinos ou aumento dos ovários", afirma o ginecologista Petrus Sanchez. "É importante, ainda, que a paciente não esteja tomando anticoncepcionais na ocasião do exame, pois eles podem mascarar os índices de hormônios produzidos naturalmente", lembra.
A assistente de comunicação Karine Meira, 21 anos, decobriu que tinha ovários policísticos ainda na adolescência. O ciclo menstrual estava totalmente irregular, e ela chegou a ficar quatro meses sem menstruar, além de apresentar os indesejáveis pêlos no rosto. Alerta aos sintomas, Karine foi atrás de informações na internet e suspeitou que pudesse ser portadora da SOP. "Procurei um ginecologista, e o diagnóstico foi comprovado por um exame de ultrassonografia que não deixou dúvidas. Fiquei preocupada, principalmente com a questão da infertilidade", revela.
Karine conta que não chegou a ter problemas com a acne, mas confessa que os pelos na face a incomodavam mais do que a ausência da menstruação. A indicação médica foi um anticoncepcional que resolveu a questão da irregularidade menstrual e amenizou a ocorrência dos pelos no queixo e nas laterais do rosto.
Câncer
A síndrome dos ovários policísticos pode trazer outras implicações para a vida da mulher. "São problemas relacionados com as alterações resultantes da anovulação, como infertilidade, hemorragias uterinas, além da exposição contínua do endométrio (revestimento interno uterino) ao estrogênio. Essa exposição, sem a ação adequada da progesterona, pode propiciar o aparecimento de câncer de endométrio, cujo risco é três vezes maior em mulheres com SOP", alerta Petrus Sanchez.
O tratamento é individualizado, pois depende da fase da vida da mulher e das manifestações que a incomodam mais. No entanto, dieta e exercícios são indicados para todas as pacientes. O ciclo menstrual é restabelecido com a ajuda de hormônios suplementares, como a pílula de progesterona ou a que combina progesterona e estrogênio. Para aquelas que, mesmo usando os anticoncepcionais, permanecem com hirsutismo, são indicados medicamentos antiandrogênios. Ainda que o diabete não tenha se manifestado, alguns médicos já optam por receitar drogas que tratam a resistência à insulina, pois elas podem diminuir o nível de testosterona, restabelecer o ciclo menstrual e impedir a infertilidade. A cirurgia é usada muito raramente.