Ciência e Saúde

Desde 1982, o Brasil mantém na Antártica um de seus mais bem-sucedidos programas científicos: o Proantar

Iniciativa ajuda especialistas brasileiros a melhorar a previsão do tempo no país e a entender as mudanças climáticas no planeta, entre outros estudos

postado em 10/01/2010 10:34

A primeira notícia da presença brasileira na Antártica remonta a 1882, ano em que a corveta Parnahyba aportou na região a mando do império, com o objetivo de cumprir uma missão de observação astronômica. Cem anos depois da viagem, em 1982, o governo brasileiro passou a reconhecer a influência daquele continente gelado sobre os sistemas naturais do planeta e oficializou as atividades científicas e exploratórias por meio do Programa Antártico Brasileiro (Proantar). Prova da consolidação dessa iniciativa é que, ao longo dos últimos 28 anos, segundo dados do Ministério da Ciência e Tecnologia (MCT), a Estação Antártica Comandante Ferraz (EACF) ; implantada na Ilha Rei George, no Arquipélago das Shetlands do Sul ; serviu de base para a realização de 600 pesquisas, além da participação de 2,5 mil cientistas, de 1991 a 2009. O total de investimentos no mesmo período foi de R$ 121,582 milhões.

Iniciativa ajuda especialistas brasileiros a melhorar a previsão do tempo no país e a entender as mudanças climáticas no planeta, entre outros estudosEstudos sobre a dinâmica da atmosfera, a situação na camada de ozônio, o aquecimento global e a fauna e a flora marinhas, entre outras áreas, trouxeram diversas contribuições não só para o Brasil, mas também para o mundo (veja quadro). A partir dos dados colhidos por cientistas de entidades renomadas, foi possível estabelecer maior confiabilidade nas previsões meteorológicas, a exemplo do trabalho feito pelo Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), que deu origem a uma série histórica climática. De acordo com o instituto, o projeto iniciado em 1984 consiste na coleta regular de dados, imagens de satélites e cartas de análise de tempo, além do suporte às equipes em campo.

Desde 1991, a parte científica do programa deixou de ser uma atribuição da Marinha e passou a ser de responsabilidade do MCT. Um dos grupos designados para cuidar do assunto, o Comitê Nacional de Pesquisa Antártica (Conapa) acompanha de perto e apoia as atividades científicas no continente, ditando um direcionamento para aqueles que desejam se dedicar ao estudo do continente e suas implicações sobre o planeta. ;O edital e os recursos destinados à pesquisa podem vir de várias vertentes, como, por exemplo, da Frente Parlamentar de Apoio ao Proantar. Esse grupo de deputados e senadores estudam as melhores formas de apoiar o programa. Exemplo disso é que, em 2009, foi lançado um edital de R$ 15 milhões com recursos oriundos dessa frente;, afirma a coordenadora para Mar e Antártica do MCT, Maria Cordélia Machado.

Segundo ela, a meta para este ano é apoiar um total de 19 projetos de pesquisa aprovados no edital do MCT/CNPq. ;Estima-se o apoio a mais de 30 instituições nacionais que atuam no Proantar, bem como a mais de 300 pesquisadores e estudantes. Em termos orçamentários, está previsto, inicialmente, um valor de R$ 960 mil para pesquisa e desenvolvimento;, explica. Para Maria Cordélia, ao ratificar o Tratado da Antártica ; documento que rege a exploração no continente gelado, assinado por vários países ; o Brasil assumiu compromissos internacionais de realizar substancial pesquisa científica e zelar pela preservação daquele meio ambiente. ;Tais compromissos se justificam pelo interesse nacional em buscar o conhecimento da influência dos fenômenos ali ocorrentes sobre o país, ter acesso ao aproveitamento dos recursos naturais antárticos e participar dos mecanismos decisórios sobre o futuro de um continente com 14 milhões de quilômetros quadrados;, destaca.

Ouça trecho da entrevista com Maria Cordélia Machado, do MCT:


Controle térmico
A verdade é que a Antártica, segundo os especialistas, possui um papel essencial nos sistemas naturais globais e pode ser considerada um importante regulador térmico do planeta, pois age como controlador das circulações atmosféricas e oceânicas. Segundo informações da Marinha do Brasil, responsável pela parte estrutural do programa, a região é detentora de uma grande quantidade de recursos energéticos, das maiores reservas de gelo (1)(90%) e de água doce (80%) do mundo. Além disso, ela abriga muitos recursos minerais.

Segundo o comandante José Robson Medeiros, subsecretário do Proantar, o trabalho da Marinha no local não para um dia sequer, até porque a manutenção de uma estrutura brasileira no continente, principalmente no inverno, exige uma logística de peso. ;Das 60 pessoas presentes na estação, na última operação, pelo menos 15 são da Marinha. Na primeira fase do programa, na década de 1980, o Brasil precisava ser aceito como membro consultivo do Tratado da Antártica. Porém, com o passar dos anos, o Proantar cresceu e amadureceu;, destaca o subsecretário.

De acordo com ele, a estação brasileira é totalmente gerenciada em conformidade com as normas ambientais. Tanto é que boa parte do lixo produzido pelos habitantes é trazido para o Brasil, enquanto o restante é queimado no local, dentro dos níveis permitidos e sem agredir a natureza. ;Com o passar do tempo, a Marinha ainda modernizou instalações e sistemas, entre eles o de esgoto;, conta. Depois da visita do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, no ano passado, o Proantar recebeu mais um reforço: o Navio Polar Almirante Maximiano. Com isso, o programa passou a ter duas embarcações à disposição. O mais novo meio operativo da Marinha foi adaptado de forma a receber laboratórios, espaços habitacionais, hangar e convés de voo para aeronaves. Ele foi batizado com o nome do militar que abriu os caminhos para a presença do Brasil na Antártica, permitindo a realização da Primeira Expedição Antártica Brasileira e o estabelecimento da EACF.

1 - Manto branco
O continente é permanentemente recoberto por um manto de gelo que atinge mais de 4km de espessura e rodeado por uma camada de gelo marinho, cuja superfície varia de 2,7km; no verão, a mais de 18 milhões de quilômetros quadrados no inverno.

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