Ciência e Saúde

Universidade cria luva com sensores elétricos que ajuda pacientes com lesões no braço

postado em 17/01/2010 10:40
A solução para aqueles que não conseguem realizar movimentos com as mãos ou segurar objetos como copos e talheres pode estar em uma luva desenvolvida na Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG). O equipamento, que está em fase de testes, pode ser controlado pelo paciente por meio de sinais elétricos detectados por eletrodos de superfície colocados sobre músculos dos membros superiores. O projeto, idealizado pelo Laboratório de Bioengenharia (Labbio) da universidade, nasceu a partir da solicitação feita por um profissional da área de terapia ocupacional há cerca de seis anos. O objetivo é proporcionar às pessoas com o movimento das mãos prejudicado uma órtese funcional, leve e agradável do ponto de vista estético.

Até agora, a luva foi experimentada por poucos pacientes, mas tem apresentado excelentes resultados. Se depender do Labbio, a luva vai estar disponível no mercado até o fim deste ano. O motor elétrico e o controlador, responsáveis pela leitura dos impulsos elétricos, foram embutidos dentro da peça para proporcionar maior conforto ao usuário. Segundo o coordenador do laboratório, Marcos Pinotti, a indicação da órtese vai depender do tipo de problema apresentado pelo paciente. Os primeiros testes indicam que a invenção é eficaz no tratamento de lesões do plexo braquial, conjunto de nervos responsáveis pelo movimento das mãos. ;Problemas no punho ou lesões no braço inteiro também podem ser tratados. Além disso, a luva se mostrou de grande utilidade na reabilitação de pessoas que sofreram acidente vascular cerebral;, afirma o pesquisador.

Pinotti esclarece que a luva pode ser preparada de acordo com a necessidade de cada paciente, servindo tanto para a mão direita como para a esquerda. ;Ela apresenta um total de 10 tendões, sendo dois para cada dedo, representados por meio de fios que foram dispostos nas partes de cima e de baixo. O conjunto localizado na parte de baixo está ligado a um motor elétrico. Já o de cima está ligado a uma pequena mola;, explica Pinotti.

Assim que o motor é acionado, o paciente fecha a mão e consegue segurar um objeto como um talher ou um copo. Porém, se a intenção é abrir a mão, o motor é liberado e a mola gera uma força contrária à flexão, sendo responsável pela extensão dos dedos da órtese. ;O sistema foi programado para manter os dedos da mão abertos, caso haja algum imprevisto e a luva não entenda o comando do paciente;, explica o engenheiro. Os participantes dos testes foram submetidos a treinos constantes para utilizar o equipamento corretamente.

Prognóstico

De acordo com a fisioterapeuta especializada na área traumato-ortopédica Daniela Marques, o projeto da luva apresenta uma excelente ideia, tendo em vista todas as dificuldades incapacitantes que o paciente pode apresentar quando sofre uma deformidade ou lesão nas mãos. ;Estudos indicam que a maior parte dessas lesões ocorre entre trabalhadores, a maioria de baixa renda, que operam máquinas pesadas;, explica. Ela lembra, porém, que o prognóstico do tratamento depende de cada paciente e da profundidade da lesão. ;O uso de órteses não se aplica a todos. A fisioterapia estimula o organismo a reagir de forma que haja regeneração dos tecidos lesionados e reabilitação dos movimentos para atividades diárias;, destaca.

A fisioterapeuta acrescenta que as órteses convencionais, em geral, são pouco funcionais, pois são produzidas com materiais rígidos, imobilizando o membro e causando perda da funcionalidade dele e da musculatura adjacente. ;A proposta da órtese da UFMG é exatamente a de promover o controle voluntário das estruturas preservadas, tendo como resposta os movimentos da mão;, enfatiza. Considerando que as mãos também são o cartão de visita do indivíduo, de acordo com a especialista, as órteses atuais não são esteticamente apresentáveis.

Consequência de traumas
Segundo o médico do Hospital Ortopédico e Medicina Especializada (Home) Denys Aragão, o plexo braquial é um conjunto de nervos que partem da medula espinhal em direção aos membros superiores. As consequências da lesão dessa estrutura, segundo ele, pode ser total ou parcial. ;Crianças recém-nascidas podem nascer com esse trauma ou adquiri-lo no momento do parto, quando o procedimento é normal. Acidentes de moto, objetos cortantes e armas de fogo estão entre algumas das causas mais frequentes para a perda da função das mãos, no caso dos adultos;, afirma o ortopedista.

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