Ciência e Saúde

Expedição da UFMG vai à Antártica atrás de vestígios dos homens que almejavam animais marinhos nos séculos 18 e 19

Grupo é o primeiro a trabalhar somente as ciências humanas no Continente Gelado

Gustavo Werneck/Estado de Minas
postado em 21/01/2010 10:43
Sítio arqueológico antártico que pode conter riquezas incalculáveis para contar a história dos pioneirosMinas conquista seu espaço na Antártica, o continente mais gelado do planeta. No próximo sábado (23/1), uma equipe da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) segue para a Ilha Livingstone, no Arquipélago Shetland do Sul, a 120 quilômetros da Península Antártica, tornando-se a primeira expedição a trabalhar exclusivamente na área de ciências humanas nesse laboratório vivo e sem limites para pesquisas. Durante 40 dias, o grupo coordenado pelo professor Andrés Zarankin, do Departamento de Sociologia e Antropologia da Faculdade de Filosofia e Ciências Humanas (Fafich), vai fazer escavações a fim de encontrar vestígios dos caçadores de focas, leões-marinhos e baleias que atuavam na região nos séculos 18 e 19.

;Esses caçadores, que passavam em torno de quatro meses no continente antártico, ficaram totalmente invisíveis para a história ao longo dos tempos;, diz Zarankin, lembrando que, enquanto a história se ocupa dos documentos escritos, a arqueologia se preocupa em estudar pessoas a partir da cultura material (objetos). Portanto, para quem pensa que lixo só representa mesmo um grande problema para o mundo, é importante lembrar que, no meio de artefatos, restos de alimentos, carcaças e outra peças deixadas pelos caçadores, podem estar informações valiosas para a compreensão do período e da atuação desses homens no continente antártico.

O projeto internacional Paisagens em branco, arqueologia histórica na Antártica conta ainda com a participação do Chile e Argentina e tem recursos do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) e integra a 28; expedição do Programa Antártico Brasileiro (Proantar). As pesquisas do professor Zarankin, há quatro anos lecionando na Universidade Federal de Minas Gerais, começaram há 15 anos, na Antártica, quando fazia parte do Conselho Nacional de Investigações Científicas e Técnicas (Conicet), na Argentina, país onde nasceu.

Numa das suas incursões nos sítios arqueológicos antárticos, Zarankin localizou até um jogo de damas, que, certamente, servia de diversão durante a viagem ou em ação nesses confins gelados do mundo. O professor explica que, nesses tempos, as embarcações já eram mais globalizadas, e não exclusivas de uma nação. Assim, a bordo, poderia haver um capitão norte-americano, com caçadores espanhóis num barco inglês. ;O nosso objetivo é recompor essa trajetória e contar a história alternativa;, resume o professor.

ACAMPAMENTO Nesta época do ano, as temperaturas na península ficam em torno de zero grau, o que pode ser considerado verão no continente. Em outros pontos da costa, a média é 10 graus negativos, uma situação bem diferente do inverno, quando o gelo domina a paisagem e os ventos fortes se tornam insuportáveis para o homem. Considerado o continente mais seco e gelado, a Antártica tem registrada a temperatura mais baixa da Terra (-89,2 ;C).


;Durante os 40 dias na Ilha Livingstone, vamos acampar em barracas, pois lá não há uma estação de pesquisas;, explica Zarankin. Fazem parte da equipe o professor Carlos Magno Guimarães, os alunos do mestrado Fernando Soltys e Sarah Hissa, além da aluna de doutorado da Universidade de São Paulo (USP), Ximena Suarez Villagran. A equipe vai para o Chile, seguindo para o continente em navio da Marinha brasileira. A equipe recebeu treinamento da Marinha e vai ser acompanhada por um alpinista para dar suporte e garantir a segurança nos deslocamentos.

No continente, a equipe vai dar continuidade à coleta de amostras nos sítios arqueológicos das ilhas Shetland do Sul. ;Vamos recolher amostras dos sítios arqueológicos de um dos espaços mais misteriosos da superfície terrestre, descoberto apenas no final do século 18 e início do 19, para tentarmos encontrar vestígios de pessoas comuns, como os caçadores de focas e baleias que lá estiveram;, relata Zarankin. O que for coletado será levado para o Laboratório de Arqueologia da UFMG, no câmpus da Pampulha, em Belo Horizonte, que recebeu cerca de R$ 240 mil em investimentos do CNPq.

Desde 1982 o Brasil desenvolve um programa de pesquisas científicas na Antártica, que recebeu R$ 15 milhões do governo federal em 2009. Assim, o país garante presença no processo decisório referente ao futuro do continente antártico, dono de 14 milhões de quilômetros quadrados e situado a 550 milhas marítimas do extremo da América do Sul. A região, segundo os pesquisadores, sofre forte influência sobre o clima e sobre o regime dos mares brasileiros.

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