Ciência e Saúde

Técnica desenvolvida na USP promete minimizar a aparência de cicatrizes

Tratamento já foi testado com sucesso em pacientes

postado em 24/01/2010 07:00
As cicatrizes são lembranças muito concretas de cirurgias ou de acidentes, mas não precisam ser eternas. A laserterapia ; técnica usada por médicos, fisioterapeutas e dentistas no tratamento de lesões e inflamações ; tem alcançado resultados promissores em procedimentos que minimizam as marcas dessas lesões na pele. Pesquisa recente da Universidade de São Paulo (USP) comprovou a eficácia do laser infravermelho em processos de cicatrização após uma cirurgia de hérnia inguinal.

Tratamento já foi testado com sucesso em pacientesO estudo foi conduzido na Faculdade de Medicina pelo fisioterapeuta Rodrigo Carvalho. A equipe de pesquisa contou com 28 pacientes, divididos em dois grupos: o experimental, que recebeu a terapia com laser, e o de controle, que não se submeteu ao tratamento. Segundo o pesquisador, os resultados foram surpreendentes. ;A espessura, a profundidade e a aparência das cicatrizes apresentaram melhoras significativas e, seis meses após a cirurgia, muitos pacientes apresentavam marcas quase imperceptíveis;, observa.

A laserterapia testada na USP pode ser empregada para amenizar outras cicatrizes. Foram escolhidos pacientes que se submeteram à cirurgia de hérnia inguinal apenas para que os resultados pudessem ser comparados com rigor. ;O corte é sempre no mesmo local e tem o tamanho idêntico. Não há erros de comparação;, avalia o pesquisador.

O laser foi aplicado no primeiro grupo 24 horas depois da operação; três outras sessões foram realizadas em dias alternados. Um semestre após o início da laserterapia, era visível a diferença das cicatrizes do grupo submetido ao tratamento. ;Aguardamos esse tempo para que o processo de cicatrização pudesse ser concluído em todos os voluntários, pois o laser infravermelho não age na pele apenas na hora da aplicação;, diz Carvalho.

O fisioterapeuta explica também que, apesar do uso há algum tempo na fisioterapia e dos bons resultados em casos de artrite, artrose, bursite e tendinite, não havia uma investigação científica que documentasse os benefícios da laserterapia. ;O laser investigado, o infravermelho GaAIAs 830nm, é indicado para inflamações, dores e comprometimento musculoesquelético, com boas respostas clínicas. Ele tem baixa intensidade, não queima nem corta;, reitera. ;O trabalho abriu portas para o estudo dos efeitos do laser em cicatrizes hipertrópicas, mais perceptíveis, e em quelóides;, destaca.

Incômodos

Para a medicina, a cicatriz é um tecido fibroso que difere do normal. Para quem carrega estas marcas, porém, os incômodos causados vão muito além do constrangimento estético: dependendo do local e da extensão, afetam o movimento e a funcionalidade da pele e dos músculos. ;As cicatrizes mais protuberantes, principalmente quando localizadas em áreas de dobras, podem limitar atividades simples e cotidianas, além de causar dor, porque a pele perde a elasticidade;, diz a dermatologista Grace Caldas.

Cortes profundos podem provocar tanto aderências de camadas internas de tecidos quanto a junção da pele no músculo. Quando a cicatriz provoca um tipo de afundamento na área suturada, atingindo fibras nervosas, pode causar dor constante ou formigamento. Ao contrário do que se pensa, a pele jovem é mais suscetível a cicatrizes hipertróficas. ;O colágeno em adolescentes ainda é rígido;, explica Grace. ;De qualquer forma, o aspecto da cicatriz depende de localização, textura, comprimento, largura e profundidade;, diz. ;Além disso, pessoas de pele branca são menos vulneráveis a queloides e marcas hipertróficas do que os de pele negra e os orientais.;

A dentista Viviane Assis Pimenta, 37 anos, passou a conviver com uma grande cicatriz depois que, em 2007, ela foi submetida a uma cirurgia de urgência para a retirada de um tumor no fígado. À época, os médicos a avisaram que uma cicatriz extensa no abdômen seria inevitável. ;O procedimento foi muito bem-sucedido, mas, depois da recuperação, notei que minha barriga estava tensionada, comprometendo meus movimentos, e um dos médicos me aconselhou a procurar um dermatologista;, relata.

A laserterapia já era um instrumento usado pela dermatologia e a dentista recebeu aplicações de laser fracionado que, quando aplicado sobre a pele, cria um tecido novo e saudável. ;Fisiologicamente, tive de volta a elasticidade, que era o mais importante para mim;, diz Viviane, antes de acrescentar que o ganho foi também estético. ;A cicatriz não vai desaparecer, faz parte da minha história, mas foi amenizada.;

Pouco acessível

A dermatologista Grace Caldas lamenta o fato de a laserterapia ainda ser pouco acessível. Apesar da revolução que representa para o tratamento de cicatrizes, essa tecnologia raramente está disponível nos hospitais públicos brasileiros.

Mas há outras alternativas para reduzir o tamanho da cicatriz e dar a ela aparência mais suave. Entre as técnicas mais tradicionais ; e acessíveis ; para amenizar as lesões na pele estão o uso de um tipo de fita adesiva aplicada no local da marca, a infiltração de corticoides e a criocirurgia, que consiste no congelamento do local afetado. Desconfortável, o procedimento é realizado com anestesia local, mas várias sessões são necessárias. ;Em consultórios também usamos a carboxiterapia, um potente vasodilatador: o gás carbônico aumenta o fluxo de oxigênio para os tecidos que, mais bem oxigenados, cicatrizam bem e produzem mais colágeno;, acrescenta Grace. A dermatologista adianta que o laser usado na USP já está disponível em alguns consultórios de Brasília. ;Também lançamos mão dos lasers ablativos e fracionados, que promovem ótimos resultados, mas a indicação sempre depende da cicatriz e do tipo de pele;, enfatiza.

Tags

Os comentários não representam a opinião do jornal e são de responsabilidade do autor. As mensagens estão sujeitas a moderação prévia antes da publicação