Ciência e Saúde

Prêmios científicos se mostram eficazes para estimular o ingresso de jovens na carreira acadêmica

E ainda de fortalecer o trabalho daqueles que já atuam na área

postado em 27/01/2010 01:17
Considerado estratégico para o desenvolvimento de qualquer país, o setor de ciência e tecnologia depende, além de investimentos em laboratórios e centros de pesquisa, de pessoas estimuladas e qualificadas. E uma das formas de identificar aqueles que poderão desempenhar um trabalho científico de qualidade e estimulá-los a continuar na carreira acadêmica, segundo especialistas, são os prêmios que reconhecem novos talentos. Daniel venceu a Olimpíada de Matemática no ano passado: Foi a partir da conquista de uma dessas premiações que Vanderlei da Conceição Veloso Júnior, 25 anos, decidiu se tornar cientista. Em 2001, quando tinha 17 anos e cursava o 3; ano do ensino médio, Veloso venceu o Prêmio Jovem Cientista. A conquista veio por meio de um trabalho de física realizado para a feira de ciências da escola. ;Eu não tinha contato com a ciência, a não ser nas aulas. Mas o professor insistiu para que eu me inscrevesse e deu certo. Vencer me motivou a seguir a carreira acadêmica;, diz o rapaz, que hoje faz mestrado em zoologia na Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais (PUC/MG). Ele conta que, a partir daquele momento, surgiram diversas oportunidades para trabalhar em pesquisas, entre elas uma bolsa de iniciação científica. ;Eu me senti capaz de entrar no mundo da ciência e comecei a fazer estágios em laboratórios. Não parei mais.; Tudo isso acabou ajudando na formação de currículo extenso, que o ajudou a ingressar no mestrado. ;Os prêmios abrem portas;, resume. Como em qualquer carreira, o reconhecimento é um importante elemento para o sucesso no meio acadêmico. ;O Brasil precisa avançar muito no reconhecimento e na atribuição de valor aos novos talentos, para formar produtores de conhecimento;, afirma Gilberto Lacerda, professor da Faculdade de Educação da Universidade de Brasília (UnB). Ele acredita que os prêmios têm duas características com direções distintas e complementares. Por um lado eles atuam como elemento de reconhecimento pelo trabalho realizado. Por outro, são fatores de incentivo, apoio e fomento para a realização de mais pesquisas científicas. ;Ninguém faz ciência sozinho. Esses prêmios não são somente para o cientista. Eles acabam premiando toda uma equipe, o que permite a todas as pessoas que trabalham, direta ou indiretamente, também serem reconhecidas;, avalia o educador. Para os mais jovens, principalmente aqueles que ainda estão no ensino médio e fundamental, reconhecimentos desse tipo são fundamentais e contribuem para que se faça entender a ciência como um empreendimento possível. ;No caso dos jovens, o valor simbólico que o prêmio representa é mais importante que o financeiro. Quando ele recebe um prêmio que o faz ser amplamente reconhecido pelo seu trabalho, isso reforça sua autoestima e cria um engajamento maior com a ciência, fazendo com que esse indivíduo persista na carreira científica e constitua a nova leva de cientistas no país;, defende Lacerda. Com apenas 12 anos, Daniel de Almeida Sousa, aluno do 7; ano do ensino médio do Colégio Militar de Brasília (CMB), venceu a Olimpíada de Matemática 2009, na categoria nível 1 ; correspondente ao 6; e 7; anos do ensino médio. O adolescente disse que ganhar o primeiro lugar nacional o deixou motivado a participar de outras edições. ;Eu me senti desafiado. Quero chegar à edição internacional, ser reconhecido;, planeja. Quando perguntado se gostaria de seguir a carreira cientifica, Daniel não descarta a ideia. ;Ainda é muito cedo. Não sei como funciona a pesquisa. Mas sei que o Brasil é carente de matemáticos e físicos. Quem sabe eu não possa contribuir mais tarde nessas áreas?; Motivação Nas últimas três décadas, foram constituídos prêmios importantes no Brasil, resultado de parcerias entre governo, organizações internacionais e empresas privadas, que trazem fomento tanto para cientistas com carreiras já consolidadas, quanto para jovens de ensino médio e universitários. Entre eles, estão o Prêmio Jovem Cientista, o Prêmio Mercosul de Ciência e Tecnologia, a Olimpíada Brasileira de Matemática (OBM) e o Prêmio Petrobras de Tecnologia. ;Não se constrói uma nação sem conhecimento científico, que gera tecnologia;, afirma Ary Mergulhão Filho, oficial de ciência e tecnologia no Brasil da Unesco, promotora do Prêmio Mercosul, com patrocínio do Ministério de Ciência e Tecnologia. Os prêmios também são importantes para quem já ingressou na área da pesquisa. Segundo Lacerda, eles são fundamentais para que o trabalho realizado se mostre útil para a sociedade. ;Isso é muito positivo, porque, muitas vezes, o cientista tem a impressão de que seu projeto não tem ligação direta com a sociedade. A premiação diz exatamente o contrário: que o trabalho do cientista é importante e que é útil para a sociedade e para o desenvolvimento do bem comum.; Jéssica de Matos Nunes, 22 anos, estudante de farmácia da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) e vencedora do Prêmio Mercosul de Ciência e Tecnologia de 2009, na categoria universitário, sempre se interessou pela carreira científica, mas só depois de entrar na universidade pôde descobrir como é o dia a dia de um pesquisador. Terminando sua graduação e integrante de um grupo de pesquisa, ela é categórica ao afirmar que a produção científica é seu projeto de vida. ;Quero ficar dentro da universidade;, diz. Quanto aos prêmios, Jéssica afirma que é ;uma oportunidade que não dá para desperdiçar;. Contudo, a jovem aponta a falta de incentivo, divulgação e financiamento de pesquisas como os problemas que mais afetam a categoria e afastam talentos que poderiam seguir na carreira. ;Passamos por muitas dificuldades de financiamento para tocar os projetos, assim como incentivo e divulgação. Ter uma pesquisa premiada é o reconhecimento de um árduo trabalho e uma grande motivação para continuar, além de mostrar que estamos no caminho certo;, afirma a jovem. Já Carlos Volais ganhou da 2; edição do Prêmio Jovem Cientista em 1982 ; na época o prêmio aceitava pessoas até 30 anos na categoria jovem cientista. Ele havia terminado o mestrado e venceu o concurso com um trabalho sobre fontes alternativas de energia. Volais conta que o prêmio o ajudou na progressão da sua carreira. ;Vi que meu projeto tinha consistência e que os colegas o reconheciam. Tinha 28 anos e a conquista foi um incentivo para eu continuar;, lembra o atual diretor do departamento de engenharia mecânica da Pontifícia Universidade do Rio de Janeiro (PUC/RJ). Os especialistas afirmam que a busca pelo interesse dos jovens na ciência deve ser feita por meio de ações diversas, que vão além dos prêmios. A mais importante delas é a educação científica. ;Nesse ponto, o Brasil é um dos campeões em ineficiência, pois não há aparatos para despertar a consciência de que a ciência pode ser um projeto de vida;, lamenta Lacerda. Para Mergulhão Filho, da Unesco, faltam incentivos aos jovens para conhecerem a ciência desde muito cedo. ;O prêmio é apenas um desses mecanismos;, afirma. Informações Prêmio Jovem Cientista Olimpíada Brasileira de Matemática Prêmio Petrobras de Tecnologia

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