Ciência e Saúde

Com tecnologia de ponta, a nova missão da Nasa inaugura a corrida pelo conhecimento do Sol

postado em 01/02/2010 09:10
Por séculos, o homem tem buscado na imensidão do cosmo as respostas sobre as origens e o destino da humanidade. Depois de investigar estrelas e galáxias perdidas no infinito, os olhos da ciência se voltam para a estrela-mãe da Terra. A nova missão da Nasa, o SDO (Solar Dynamics Observatory), com lançamento previsto para 9 de fevereiro, é a aposta da agência norte-americana na corrida pelos segredos do universo. Os muitos olhos do novo satélite são capazes de enxergar muito além dos limites da luz visível, com sensores desenvolvidos para captar diferentes comprimentos de onda do espectro luminoso. A bordo, o SDO carrega três experimentos científicos: AIA (Atmospheric Imaging Assembly), que vai fotografar e analisar, com uma bateria de telescópios ; cada um deles configurado para um diferente comprimento de onda ;, a superfície e a atmosfera solar; EUV (Extreme Ultraviolet Variability Experiment), que vai analisar as emissões de um tipo de radiação ultravioleta muito mais forte e perigosa que a ultravioleta comum, em comprimentos de onda que podem variar de 0,1 a 105 nanômetros (um nanômetro corresponde à bilionésima parte de um metro); e o HMI (Helioseismic Imager Magnetic), que coletará dados de manchas solares, das erupções e da atividade sísmica na superfície e no interior da estrela. A sonda semiautônoma tem tecnologia revolucionária e permitirá uma observação praticamente contínua do Sol, trasmitindo em tempo real cerca de 130 megabites por segundo em imagens e informação. O satélite tem 4,5m de altura por 2m de lado e 3,1 toneladas de peso, incluindo o combustível. Painéis solares com 6,6 metros quadrados de área vão fornecer a energia necessária para o funcionamento do equipamento.

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Primeira missão do programa Living with a star (Vivendo com uma estrela), o SDO foi construído para gerar informações mais precisas sobre a influência do Sol na Terra e também no espaço ao redor, por meio do estudo da superfície e da atmosfera solares em diminuta escala de tempo/espaço e em diferentes comprimentos de onda, simultanemente. Muitos eventos importantes na atividade solar ocorrem fora do alcance do espectro da luz visível e são indetectáveis pelos telescópios convencionais. Outro foco da missão é descobrir como o campo magnético do Sol é gerado e estruturado e de que forma a energia acumulada no processo é convertida e liberada para a heliosfera e para o espaço sob a forma de ventos solares, partículas de energia e variações na radiação. Isso pode levar à percepção mais exata de como isso contribui para a formação das atmosferas e do clima nos planetas do sistema solar.

Grande responsável pela manutenção da vida na Terra, o Sol sempre foi alvo de estudos e investigações científicas, que tentam encontrar respostas sobre seu funcionamento, seu destino e a forma como afetará o nosso planeta ao longo de sua existência. Manchas e erupções solares, emissão de radiação e até mesmo seu tempo de vida são perguntas que os cientistas esperam responder com os dados coletados pelo satélite.

O conhecimento do comportamento do Sol é de extrema importância para a sobrevivência da humanidade, ainda mais em tempos de aquecimento global. O clima na Terra está diretamente ligado ao clima do Sol, e qualquer alteração por lá pode gerar grandes mudanças no planeta.

Apesar das inúmeras pesquisas já realizadas sobre a estrela, a grande certeza é que ainda existe muito a se aprender. Todas as informações obtidas na missão serão compartilhadas com a comunidade científica, que é incentivada a desenvolver novas ferramentas e novos estudos que ajudem no desafio de desvendar os segredos da estrela vizinha.

Decifrando mistérios
Uma das grande estrelas da missão é o módulo EVE. Com tecnologia revolucionária, é capaz de detectar e analisar os minúsculos, poderosos e perigosos fótons da radiação ultravioleta extrema. Com comprimento de onda entre 0,1 e 105 nanômetros, a radiação é indetectavel pela maioria dos instrumentos conhecidos. Se esses raios fossem capazes de penetrar a barreira atmosférica, um único dia na praia poderia ser fatal. Porém , isso não diminui sua importância. Os fótons EUV são a fonte dominante de energia que aquece as camadas superiores de nossa atmosfera. Durante a atividade solar, a emissão de radiação ultravioleta extrema varia em questão de segundos, formando picos de calor em grande escala. Os fótons EUV também quebram as moléculas da atmosfera, produzindo uma camada de íons que pode causar grandes interferências nas comunicações de rádio e no funcionamento dos satélites em órbita. Com a maior resolução espectral jamais alcançada por qualquer outro equipamento, o módulo EVE vai recolher em tempo integral dados sobre as emissões dos raios ultravioleta extremos, oferecendo aos cientistas o primeiro quadro completo das flutuações desse tipo de radiação solar.

Já o módulo HMI vai usar ondas acústicas e um campo magnético para investigar e medir a superfície do Sol, os movimentos de materiais em seu interior e as origens de seu campo magnético. O sistema mede o desvio das linhas espectrais (variação no comprimento de onda da luz quando a fonte se move em relação ao observador) calculando a velocidade em toda parte visível do disco solar. Com outro efeito, o módulo interpretará a polarização da mesma linha para fornecer dados sobre o campo magnético em toda parte visível do Sol. O HMi vai gerar a primeira cadeia de informações sobre a força e a direção exatas da energia solar e de seu campo magnético.

O pacote fica completo com a bateria de telescópios equipados para detectar vários comprimentos de onda fora do espectro da luz visível, revelando aos pesquisadores uma face desconhecida do Sol. O SDO promete dar um novo impulso à disputa pelo conhecimento de nossas origens e de nosso destino.

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