Ciência e Saúde

Cores reveladas

Buscando uma forma de facilitar a vida de deficientes visuais, dupla de pesquisadores brasileiros desenvolve equipamento que identifica tonalidades e reconhece as cédulas de real

postado em 06/02/2010 08:00
Buscando uma forma de facilitar a vida de deficientes visuais, dupla de pesquisadores brasileiros desenvolve equipamento que identifica tonalidades e reconhece as cédulas de realPesquisadores da Escola Politécnica da Universidade de São Paulo (Poli/USP) desenvolveram um aparelho que identifica cores e cédulas de dinheiro para deficientes visuais. Batizado de Auire ; saudação usada pela tribo indígena Javaés, de Tocantins ;, o identificador é o primeiro equipamento do tipo desenvolvido com tecnologia brasileira e que une as funções de interpretação de cor e de notas de dinheiro (no caso, o real). Os existentes no mercado são importados e não têm as duas funções incorporadas, além de identificarem somente cédulas do dólar.

O Auire ainda é um protótipo, fruto do trabalho iniciado pela engenheira de computação Nathália Sautchuck Patrício em 2006, durante seu curso de graduação. O projeto foi retomado no fim do ano passado em parceria com o também engenheiro de computação Fernando de Oliveira Gil. Por enquanto, ele funciona acoplado a um computador e identifica até 250 cores e tons. ;A ideia é que o aparelho seja portátil e do tamanho de uma lanterna pequena, para ser fácil de ser carregado e manuseado;, explica a pesquisadora.

Regina, durante teste do Auire: fim do constrangimento na hora de fazer compras e receber o trocoO aparelho possui três sensores que reconhecem as cores primárias: vermelho, verde e azul. Quando é ligado, dois LEDs (sigla em inglês para diodo emissor de luz) são acesos para iluminar o objeto. Pressionando-se um dos botões, as informações dos sensores são colhidas e enviadas ao microcontrolador, que compara os valores recebidos com uma tabela de cores. Uma vez identificada a cor, o som correspondente é tocado em um alto falante. ;A retina humana possui três tipos de células sensíveis à cor, chamadas cones. Cada um deles é sensível a uma determinada faixa de comprimentos de onda do espectro luminoso, mais precisamente ao picos situados a 419nm (azul-violeta), 531nm (verde) e 559nm (verde-amarelo). A classificação dos cones em vermelho, verde e azul é uma simplificação usada por comodidade para tipificar as três frequências-alvo. Todos os tons existentes derivam da combinação dessas cores primárias;, explica Gil.

Já a identificação de notas de dinheiro acontece por um processo semelhante. As cédulas no Brasil são de diferentes cores, o que permite o uso dessa propriedade para identificá-las. Após pressionar o botão, uma amostra de cor da nota é enviada ao microcontrolador, que verifica qual cor é a mais próxima dessa amostra e qual a nota que a possui. Logo depois o valor é falado. ;Temos apenas que ajustar o software de identificação das notas de R$ 2 e R$ 100. Elas ainda não são reconhecidas corretamente porque possuem cores parecidas;, conta o engenheiro.

Uma vantagem do Auire deve ser o preço em relação aos aparelhos existentes no mercado. Há alguns identificadores vendidos no Brasil com preços variando de R$ 600 (somente para cores) a R$ 1.200 (somente para cédulas). Segundo Gil, o preço da invenção deve ficar entre R$ 100 e R$ 200. ;Muitas vezes, a deficiência visual dificulta o ingresso em algumas áreas do mercado profissional. Como grande parte dessas pessoas são de baixa renda, elas precisam de uma solução de baixo custo;, defende Gil. ;Enxergar cores não é apenas uma questão estética. Essa capacidade é importante para uma boa qualidade de vida, porque torna os deficientes visuais mais independentes, elevando a sua autoestima;, completa. Recentemente, o identificador foi selecionado como um dos 42 finalistas da competição internacional Unreasonable Finalists Marketplace, organizada pela ONG norte-americana Unreasonable Institute, que apoia projetos de cunho social.


Campuseiros Apresentam: Projeto "AUIRE"





Autonomia
Regina Fátima Caldeira Oliveira, 55 anos, deficiente visual e coordenadora de Revisão da Fundação Dorina Nowill, entidade brasileira que busca a inclusão social de cegos, testou o Auire e aprovou o protótipo. Segundo ela, ter as funções de identificar cores e cédulas de dinheiro em um só aparelho foi o que mais chamou a sua atenção. ;Um aparelho com essas duas funções integradas vai resolver dois dos grandes problemas para quem é deficiente visual. Não só para os cegos, mas também para quem tem daltonismo;, destaca. Regina também salienta que o aparelho poderá dar ao deficiente visual mais autonomia, o que facilita a vida dessas pessoas. ;O Auire vai facilitar, por exemplo, a vida de uma mãe deficiente visual na hora de arrumar a casa, as coisas da família. Ela não vai precisar de ninguém para ajudá-la;, exemplifica.

No caso da identificação das cédulas de dinheiro, Regina considera o aparelho um avanço, já que no Brasil não há nenhuma forma de diferenciar as notas de real. ;Com certeza, vão acabar os constrangimentos na hora de pagar por um serviço ou receber o troco, por exemplo.; Porém, ela sugere alguns ajustes no protótipo, como o tamanho do aparelho e a versatilidade em identificar cédulas de dinheiro de moedas estrangeiras. ;A equipe que está desenvolvendo o identificador é excelente e acata a tudo que sugerimos. Se o aparelho tiver a função de reconhecer notas de moedas estrangeiras, será um diferencial bastante competitivo;, analisa.

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